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Em tempo de emergência climática, ainda é possível falarmos em estações do ano no Brasil?

Embora as estações sejam ligadas à translação da Terra, outros fatores também impactam o funcionamento dos ecossistemas e as estações

23 set 2024 - 05h02
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Eventos climáticos extremos são esperados para os próximos anos
Eventos climáticos extremos são esperados para os próximos anos
Foto: Marcello Casal jr/ABr / Flipar

O clima brasileiro está passando por transformações alarmantes. Especialistas apontam que essas variações já estão alterando a percepção de verão, inverno, outono e primavera. No dia que começa, oficialmente, a estação das flores, surge a dúvida: podemos continuar a falar sobre estações do ano no Brasil?

Já há um consenso: a ação humana alterou o clima. Embora as estações sejam mais ligadas ao movimento de translação da Terra, outros fatores também impactam o funcionamento dos ecossistemas e, com isso, as estações.

Para Morgana Bruno, coordenadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Católica de Brasília e doutora em Ecologia, o problema começa com o aumento do efeito estufa, intensificado pela emissão de gases, principalmente decorrência da queima de biomassa e o desmatamento.

"As queimadas, que hoje são as principais emissoras de gases de efeito estufa, liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, acumulando esses gases e intensificando o aquecimento global", explica Morgana.

Ela destaca que, em tempos distantes, as erupções vulcânicas eram as principais responsáveis por mudanças climáticas bruscas. Porém, com a diminuição da atividade geológica da Terra, a ação humana passou a ser o maior fator de alteração do clima.

Esse impacto vai além da elevação das temperaturas. A mudança climática, segundo a especialista, também provoca uma série de fenômenos que afetam os padrões climáticos globais e locais.

"O aquecimento não é uniforme; estamos presenciando extremos climáticos, como chuvas intensas e secas prolongadas. O que acontece é uma alteração nas massas de ar e na circulação dos ventos, o que interfere diretamente na evaporação da água e nos padrões de chuva", explica a especialista.

Essas alterações tornam-se evidentes na prática quando observamos eventos climáticos extremos que se tornaram mais comuns e intensos no Brasil nos últimos anos. As secas que assolam o Sudeste e o Cerrado, ou as chuvas torrenciais que causaram enchentes no Sul, são exemplos desses novos padrões climáticos.

"As estações do ano, como as conhecíamos, estão cada vez mais imprevisíveis. No Cerrado, por exemplo, a seca, que já era intensa durante três meses do ano, agora tende a se prolongar e tornar-se ainda mais severa", afirma Morgana.

O meteorologista Gustavo Verardo corrobora essa visão. Para Verardo, a emergência climática no Brasil não é um cenário futuro; ela já está acontecendo e mudando drasticamente o dia a dia da população. "As estações estão ocorrendo normalmente, mas, em média, todas as estações estão ficando mais quentes e temos um encurtamento do período chuvoso no Brasil", ressalta. A falta de previsibilidade, segundo o meteorologista, é um dos maiores desafios enfrentados tanto pelos especialistas quanto pela sociedade. 

Consequências drásticas

O aumento da temperatura, segundo Morgana Bruno, acelera o ciclo de vida de várias espécies de insetos, incluindo o mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como a dengue, zika e chikungunya.

"O aquecimento global faz com que o mosquito atinja a fase adulta mais rápido, aumentando a população desses vetores e, consequentemente, os riscos de surtos de doenças", alerta a bióloga.

Além disso, a diminuição da produção primária nos oceanos, causada pelo aquecimento das águas e pela menor assimilação de oxigênio pelas algas, pode ter efeitos devastadores na cadeia alimentar marinha, levando à extinção de espécies e à perda de biodiversidade.

"Esse ambiente em que eles vivem vai ser modificado. A maioria dos organismos não consegue se adaptar em tão pouco tempo", afirma Morgana. "Quando você diminui o recurso, você diminui o alimento. Não são só os animais que vão embora. Os seres humanos também vão".

A ecóloga alerta que a busca por recursos hídricos e alimento levará a fluxos migratórios, intensificando os conflitos.

"Se já temos diferenças culturais entre o Cerrado e o Rio Grande do Sul, imagina a gente saindo do Sul e indo para o Norte global. Não vão ser só conflitos por comida ou água, serão conflitos religiosos e culturais", acrescenta.

Fonte: Redação Terra
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