Entenda as causas de forte temporal que acarreta em estragos e mortes no Rio Grande de Sul
Meteorologistas explicam que situação é crítica e pode piorar com volume de chuva dos próximos dias
O forte temporal que atinge o Rio Grande do Sul afetou ao menos 134 municípios, causou 13 mortes e deixou ao menos 21 pessoas desaparecidas em todo o estado. O governador Eduardo Leite afirmou que a destruição deve resultar no "maior desastre da história" gaúcha em termos de prejuízo material.
Ao Terra, a meteorologista Andrea Ramos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) explica que o período atual representa uma situação crítica em termos meteorológicos, com condições que favorecem as chuvas intensas.
De acordo com ela, há a presença de um bloqueio atmosférico na região central, resultado da onda de calor. Esse fenômeno faz com que os estados localizados no centro do Brasil registrem climas secos e quentes, enquanto a chuva fica concentrada nos extremos do país.
A meteorologista ressalta que a frente fria que se desloca pelo Estado está sendo desviada de sua rota habitual por causa do bloqueio atmosférico, prolongando as instabilidades e as chuvas intensas na região Sul.
"Esse bloqueio atmosférico, que na realidade é em função de uma atuação de um anticiclone que está em altos níveis, impede que sistemas em que normalmente você tem frentes frias comecem uma incursão pelo país. Então os sistemas que estão ali atuando, ficam confinados. Ou seja, é formado um centro de baixa pressão, cavados, uma frente fria. Inclusive hoje e manhã são os dias mais críticos ali no Rio Grande do Sul justamente por esse deslocamento da frente fria. Como esse bloqueio está amplo, ele não deixa ela fazer a incursão, ela quebra e volta para o Atlântico Sul e aí mantém essas instabilidades", destaca.
É o que reforça também o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). De acordo com ele, eventos extremos, como esse desastre histórico de chuvas intensas, geralmente são resultado de uma combinação de fatores.
"Essa área de alta pressão que barra o deslocamento das frentes frias. Então, as frentes frias que estão vindo com certa frequência, lá do sul da Argentina, chegam na borda dessa área de alta pressão. O normal seria elas continuarem avançando em direção à região Sudeste, por exemplo, mas não conseguem, então ficam presas lá na região sul do Brasil, entre Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina. Inclusive, essas chuvas não foram provocadas por uma única frente fria, senão por uma sucessão de frentes que está passando rapidamente uma atrás da outra. Então, passa uma, chove, vai para o oceano, imediatamente outra assume, e assim por diante", explica ele.
Influência do El Ninõ
Desde o dia 27 de abril, o Inmet e o Cemaden monitoram essas mudanças climáticas. Segundo os dois meteorologistas ouvidos pelo Terra, o El Niño ainda está vigente, apesar de estar tendo um enfraquecimento gradual. O fenômeno tende a estacionar as frentes frias sobre a região Sul do Brasil e a elevar as temperaturas sobre o Sudeste.
Outro fator mencionado foi o aumento da temperatura dos oceanos, tanto no Pacífico quanto no Atlântico, que gera mais umidade e vapor d'água, contribuindo para as chuvas intensas.
"Temos previsão de chuva para os próximos dias, pelo menos até sábado, com muita intensidade. A partir de domingo, apesar de menos volumosas, ainda haverá condição de chuva. Ou seja, essa situação como um todo persiste, porém, com menos intensidade", alerta Marcelo.
Situação é grave e pode piorar
O coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden afirma que não consegue recordar de uma situação tão grave nos últimos 25 anos em que vive no Brasil. Ele comparou a situação atual com as chuvas do ano anterior na Bacia do Taquarim (RS), observando que, embora as chuvas do ano anterior tenham sido mais intensas, elas foram mais localizadas. Em contrapartida, a situação atual é mais generalizada e prolongada.
"Em termos de impactos, na estrutura, nas pessoas, eu acho que não tem precedentes e diria que é uma das maiores tragédias, talvez, do Brasil. Difícil dizer que é a maior, mas está na lista dos eventos históricos mais devastadores, sem dúvida", destacou.
Ainda segundo o meteorologista, a previsão indica que a situação permanecerá praticamente inalterada até sábado, com a possibilidade de chuvas intensas de até 100 milímetros ou mais por dia. Ele alertou que isso pode agravar a situação atual, uma vez que a água acumulada começará a se deslocar, aumentando o risco de novas áreas serem inundadas.
O especialista também destaca a necessidade de monitorar o Rio Uruguai, que, embora esteja calmo no momento, pode transbordar posteriormente devido à sua extensão e demorar mais tempo para normalizar. "A situação hidrológica pode se propagar por vários dias. É muito grave e tende a piorar quanto mais chover daqui para frente. Os acumulados de chuva já passam dos 500 milímetros em várias localidades, destaque para Santa Maria, na região serrana também, Cacheado Sul e na região metropolitana de Porto Alegre", acrescenta.
A meteorologista Andrea Ramos expressou preocupação com os impactos das chuvas e explicou que a dificuldade no resgate é agravada pelo fato de muitas pessoas estarem ilhadas em telhados e áreas inundadas. Diante da gravidade da situação, autoridades têm realizado reuniões de emergência para coordenar os esforços de resgate e assistência à população afetada.
Ela também alertou para a necessidade de precaução, destacando as diferenças climáticas entre abril e maio e a importância de acompanhar de perto a evolução do fenômeno. Ela recomendou que a população permaneça atenta às atualizações dos órgãos de meteorologia e defesa civil, bem como siga as orientações das autoridades locais para minimizar os riscos e os impactos das chuvas e inundações.