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Entenda o fenômeno das 'terras caídas' que deixou mais de 200 desabrigados na seca do Amazonas

Desbarrancamento de longos paredões evidencia o risco a que moradores dessas áreas estão suscetíveis

3 out 2023 - 03h10
(atualizado às 08h04)
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Embarque no porto de Manacapuru das equipes de pronto atendimento às vítimas do desbarrancamento no município de Beruri
Embarque no porto de Manacapuru das equipes de pronto atendimento às vítimas do desbarrancamento no município de Beruri
Foto: ANTONIO LIMA/SECOM

O desbarrancamento de longos paredões às margens dos rios amazônicos, também conhecido como fenômeno "terras caídas", chama atenção pela força da natureza e, por outro, evidencia o risco a que moradores dessas áreas estão suscetíveis.

No último sábado, 30, um desabamento às margens do rio Purus, afluente do rio Solimões, deixou dois mortos e mais de 200 desabrigados na comunidade Arumã, no município amazonense de Beruri (a 263 quilômetros de Manaus). De acordo com a prefeitura, ainda há três pessoas desaparecidas.

Doutor em Ordenamento Territorial e Ambiental, o geógrafo José Alberto Lima de Carvalho é especialista no fenômeno das terras caídas. Ele explica que os desabamentos são multifatoriais e podem chegar a atingir paredões com quilômetros de extensão.

"É um fenômeno natural responsável pela constante modificação da paisagem ribeirinha do rio Amazonas. Resulta de processos mais simples a altamente complexos e engloba escorregamento, deslizamento, desmoronamento e desabamento que acontece às vezes em escala quase que imperceptível, indo de pontual, recorrente e não raro, até catastrófico, afetando em muitos casos distâncias quilométricas", afirma.

Para o geógrafo, o desabamento na comunidade Arumã pode ter sido causado por pelo menos dois fatores. "Pela posição da Vila de Arumã em relação ao rio Purus, a interpretação que faço é de que o deslizamento foi causado principalmente pela saturação do material das margens do afluente e do vale do Igarapé do Arumã", explica.

Seca

Atualmente a região amazônica vive um dos períodos de seca mais severos já registrados pelas réguas oficiais. O rio Negro, que banha Manaus, media 15,29 metros nesta segunda-feira, 2. Faltam apenas 1,66 metros para alcançar a cota histórica (13,63 metros) registrada em 2010.

Já o rio Solimões atingiu a cota de -43 centímetros no último dia 22 de setembro, segundo boletim semanal do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Essa também é a segunda maior seca registrada para o afluente, com as medições "abaixo do normal para o período", segundo o CPRM.

Conforme o geógrafo José Alberto Lima, é comum que o fenômeno das terras caídas se torne mais frequente durante o período de seca dos rios. "A vazante tem papel importante nas terras caídas, pois, quanto maior for a vazante, mais alto se torna o barranco. Com isso, aumenta a chamada 'força de cisalhamento', associada à força da gravidade", pontua.

Outras ocorrências

O caso da comunidade Arumã repercutiu nacionalmente em razão do número de desabrigados e pelo tamanho do desabamento, mas outros casos foram registrados em diferentes municípios do Amazonas ao longo do mês de setembro.

Na última sexta-feira, 29, um desabamento também às margens do rio Solimões deixou pelo menos oito casas destruídas em Coari (a 363 quilômetros de Manaus). De acordo com a Polícia Militar do Amazonas e o Corpo de Bombeiros, a ocorrência não deixou feridos.

Já no último dia 16 de setembro, um desbarrancamento às margens do rio Madeira, em Manicoré (a 457 quilômetros de Manaus), engoliu parte de uma rua e casas. A ocorrência deixou uma pessoa ferida. Semanas antes a prefeitura do município havia feito a desocupação do local, já por causa do risco de desabamento.

Medidas

De acordo com o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), equipes da Polícia Militar e da Defesa Civil foram enviadas à comunidade Arumã, em Beruri, para fazer o atendimento às vítimas do desabamento. Cestas básicas foram distribuídas para as famílias afetadas pela tragédia. "Nossas equipes estão em campo para fazer o que for preciso. Minha solidariedade e orações às famílias atingidas", publicou nas redes sociais.

Já a Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas (Sema) informou que vai entregar 150 cestas básicas, 150 kits de higiene pessoal, 100 garrafões de água de 20 litros e 180 frangos aos moradores. Os itens foram adquiridos com apoio do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática.

* Acompanhe mais notícias sobre o meio ambiente no Terra Planeta.

Estadão
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