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Homem terá dedo amputado após picada de aranha: caso é normal? Especialista explica

Coordenador de Laboratório de Aracnologia da Universidade Federal de Uberlândia traz detalhes sobre picadas de aranha; saiba mais

17 jan 2024 - 05h00
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Resumo
Wilker Guimarães, de 31 anos, foi picado por uma aranha-marrom enquanto dormia, sendo encaminhado para receber um soro antiaracnídico assim que procurou auxílio médico, mas devido ao avanço da necrose, sua amputação do dedo indicador foi necessária.
Loxosceles, provável responsável pela picada; aranha foi fotografada por especialista Marcelo Gonzaga no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG)
Loxosceles, provável responsável pela picada; aranha foi fotografada por especialista Marcelo Gonzaga no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG)
Foto: Marcelo Gonzaga

Após o caso do morador de Praia Grande, litoral de São Paulo, que terá o dedo indicador amputado depois de ser picado por uma aranha enquanto dormia, o professor Marcelo Gonzaga, docente do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia e coordenador do Laboratório de Aracnologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), explicou ao Terra detalhes sobre picadas de aranha e a ação de seus venenos, desmistificando concepções equivocadas.

Segundo Gonzaga, atualmente existem 51.821 espécies de aranhas conhecidas globalmente, sendo a família Uloboridae a única isenta de glândulas de veneno. "Mas o veneno da imensa maioria não tem nenhuma ação em mamíferos. Pouquíssimas tem registros de acidentes com humanos", destaca o especialista.

No Brasil, os acidentes mais comuns envolvem espécies de Loxosceles - conhecidas como aranha-marrom - e Phoneutria nigriventer - conhecidas como armadeiras.

O professor acredita que o morador de Praia Grande tenha sido picado por uma aranha-marrom e, posteriormente, encontrado aranhas inofensivas (da espécie Nesticodes) em casa, comuns em residências.

A picada da aranha-marrom não causa dor na hora, mas seu veneno tem uma ação proteolítica que, ao degradar proteínas lentamente, pode causar a necrose. "O veneno contém proteínas que vão causar um processo inflamatório, necrose e até casos mais graves envolvendo hemólise", destaca Gonzaga.

Já as armadeiras possuem um veneno neurotóxico, causando dor intensa imediatamente após a picada, mas não causam a necrose da área afetada.

Aranhas-marrom

As aranhas-marrom, de acordo com Gonzaga, são extremamente calmas, ou seja, pouco ativas. A maioria dos acidentes envolvendo a espécie ocorre acidentalmente, especialmente quando as aranhas caem nas roupas das pessoas. Ao contrário das aranhas armadeiras, que já são agressivas. 

"Curiosamente, quem possivelmente controla as populações dessas aranhas são justamente outras aranhas que vivem em nossas casas. Existem trabalhos, por exemplo, mostrando que a aranha marrom é predada por aranhas-cuspideiras, da família Scytodidae", diz o professor.

O especialista destaca que o veneno da Loxosceles age rapidamente, indicando a importância de buscar auxílio médico imediatamente após a picada para o uso do soro antiaracnídico, diminuindo a gravidade dos sintomas.

De acordo com ele, o Paraná é o Estado brasileiro com maior incidência de acidentes com a espécie, embora as Loxosceles tenham distribuição ampla no País.

O que aconteceu com morador de Praia Grande?

Wilker Guimarães, de 31 anos, relatou ter sido picado enquanto dormia e afirmou que foi o vítima de negligência médica, ao procurar atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Samambaia duas vezes, sem receber o tratamento adequado. Somente na terceira ida ao médico, já na UPA Central, ele afirma ter sido encaminhado para receber um soro antiaracnídico, mas a necrose já havia comprometido o membro.

Em entrevista ao Terra, ele contou que no dia 28 de dezembro acordou com uma picada de aranha no dedo, acompanhada de uma dor latejante. "Ficou latejando bastante, que eu não consegui voltar mais a dormir", relembra.

A primeira ida à UPA Samambaia ocorreu algumas horas após a picada. "Eu avisei que era uma picada e estava doendo muito, eu tremia de tanta dor. Primeiro, a enfermeira me deu a pulseira de menor urgência. Depois, o médico receitou alguns remédios, mas nada específico para o caso", afirmou Wilker. A falta de melhora o levou a retornar à unidade, onde outra receita foi prescrita, mas a condição piorou.

"Eu decidi voltar novamente no médico, mas dessa vez na UPA Central. Quando cheguei lá, me deram a pulseira amarela, indicando gravidade. Fui encaminhado para o Pronto Socorro Quietude, referência no soro antiaracnídico em Praia Grande", explicou Wilker.

O tratamento recebido no Quietude foi o adequado, no entanto, não impediu a progressão da necrose. "Meu dedo estava praticamente roxo quando acordei. Fiquei internado, aguardando leito para a cirurgia de amputação", relatou.

Programada inicialmente para o dia 4, a cirurgia teve sua realização adiada após a análise dos cirurgiões no Hospital Irmã Dulce, onde atualmente está recebendo atendimento. Em uma conversa com o cirurgião, Wilker afirma que ficou decidido seguir com um tratamento adicional antes da amputação, visando evitar intervenções desnecessárias ou múltiplas cirurgias futuras.

Agora, Wilker está fazendo uma campanha de arrecadação online para conseguir custear seus gatos básicos, já que trabalha como garçom e está impossibilitado de realizar a função devido à necrose no dedo. 

Em nota, a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande informou que o paciente foi vítima de ferimento por picada de aranha, evoluindo com necrose de pododáctilo esquerdo, o qual não tem relação com a realização do soro no início do quadro. "O paciente está internado aos cuidados de ortopedia aguardando delimitação da necrose para amputação do dedo afetado", diz a pasta. Com relação a alegação de negligência médica, a Sesap informa que vai apurar o caso.

Fonte: Redação Terra
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