Empresa cria selo para garantir que embalagens descartadas sejam recicladas
Com créditos de reciclagem, Eureciclo faz compensação ambiental de resíduos que são jogados fora por consumidores
Você sabe o que acontece com o lixo depois que ele sai da sua casa? Mais de 90% dos resíduos urbanos são coletados no Brasil. O que é bom, certo? Seria, mas 40% desse volume é destinado para áreas inadequadas, como lixões. Além disso, apenas 3% dos recicláveis são, de fato, reciclados. Os dados são da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
“A gente usa um produto, descarta a embalagem e não sabe se ela foi mesmo para reciclagem, se foi para um lixão ou se foi para um aterro”, diz Camila Bos Vidal, head de marketing na Eureciclo, a maior certificadora de logística reversa de embalagens do Brasil.
Talvez você já tenha visto o selo da imagem ao lado em embalagens de diferentes tipos de produtos e talvez também não tenha entendido bem o que ele representa. Em poucas palavras, o selo Eureciclo indica que a marca do produto está fazendo a compensação adequada de resíduos após o descarte do consumidor.
Tá na lei
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) define que todas as empresas devem garantir que ao menos 22% dos resíduos gerados terão o destino correto — e a porcentagem deve aumentar para 30% em 2024. O trabalho da Eureciclo é oferecer créditos de reciclagem, como se fosse o elo entre as empresas, as cooperativas e as centrais de triagem.
“A gente garante que, a cada embalagem colocada no mercado por meio da venda de um produto, outra equivalente seja reciclada”, diz Camila, complementando que as marcas, então, usam o selo para comprovar e comunicar o seu compromisso ambiental.
Para entender melhor:
- Você comprou uma garrafa de água, tomou o líquido e descartou a embalagem;
- Se a garrafa for recolhida por um catador ou pela coleta seletiva, é possível que chegue a uma central de triagem;
- Lá é feita a separação entre papel, metal, vidro e plástico;
- Cada material é colocado em grandes fardos;
- Os fardos são vendidos para recicladores;
- Nessa venda é emitida uma nota fiscal;
- A nota é usada para confirmar que o material foi realmente destinado para reciclagem.
“A gente é uma empresa que rastreia essa cadeia e garante que o fardo foi até o reciclador. O que usamos como comprovação é a nota fiscal, que é um documento que não tem duplicidade”, explica a head de marketing.
Em resumo, a empresa compra créditos de reciclagem da Eureciclo, que repassa a maior parte do valor para cooperativas e centrais de triagem. “É como se estivessem pagando pelo serviço ambiental prestado”.
Selos
A empresa oferece três tipos de selo:
- 22%: compensação conforme requerida por lei
- 100%: a cada embalagem vendida, é garantida a reciclagem de outra equivalente
- 200%: a cada embalagem vendida, duas serão recicladas
Entre as empresas que possuem o selo estão: Gol, Qualy, Wickbold, Petlove e Embeleze. A lei é para empresas de embalagens, mas a Gol, por exemplo, é cliente da Eureciclo para garantir que 100% dos descartáveis entregues nos voos sejam reciclados. “Até estamparam o nosso selo na aeronave”, diz Camila.
Impacto positivo
Hoje, a Eureciclo atua com mais de 420 centrais de triagem espalhadas pelo país, ajudando na estruturação básica, como auxílio para tirar licença ambiental, ou em manutenção, reformas e reestruturações.
Também existe um fundo de apoio a cooperativas para auxiliar em momentos de necessidade: “Uma cooperativa pegou fogo e com o dinheiro do fundo, ajudamos a reformar. Outra, que é só de mulheres, foi assaltada e recebeu auxílio”, conta Camila. Até o momento foram oito organizações beneficiadas.
Trabalho invisibilizado
Camila explica que a Eureciclo tem dois principais objetivos. O primeiro é aumentar as taxas de reciclagem e ajudar o consumidor a escolher produtos de marcas preocupadas com a questão ambiental. A outra é resolver a invisibilidade dos trabalhadores.
“Hoje existem mais de um milhão de catadores no Brasil, puxando carroça e recolhendo material. A gente fala que eles são considerados invisíveis pela sociedade. Eles são muitos, mas parece que ninguém está preocupado com eles”, comenta. 90% de todo o resíduo que vai para reciclagem passa pela mão desses catadores: “Eles têm um papel fundamental, mas não são remunerados adequadamente”.
Para ajudar a resolver o problema, a empresa criou um programa que paga valores justos de mercado para catadores individuais, para que não precisem vender para atravessadores. “Até 2030, queremos ter 8 mil trabalhadores dentro do programa”, afirma.