Eventos associados às mudanças climáticas já atingiram 70% dos brasileiros
Pesquisa revela dados importantes sobre o tamanho do impacto da crise climática na vida da população brasileira
Temperaturas extremas, chuvas desproporcionais, apagões, secas, inundações, queimadas… Aconteceram tantos eventos relacionados ao aquecimento global no Brasil nesse ano, que está cada dia mais difícil negar que as mudanças climáticas são reais e já estão impactando diretamente a vida da população.
Prova disso é a pesquisa de percepção da opinião pública sobre a crise climática e fontes de energia, encomendada pelo Instituto Pólis ao IPEC, que revela que a maior parte da população brasileira já sente os impactos negativos da crise climática e a associa aos combustíveis fósseis.
7 em cada 10 brasileiros disseram que já foram impactados por pelo menos um evento extremo associado às mudanças climáticas
A pesquisa foi realizada presencialmente em todas as regiões do país e a amostra tem duas mil entrevistas com pessoas acima de 16 anos. 51% dos participantes pertencem à classe econômica C, 27% da D e E, e 22% da classe A. 53% são pessoas pretas e pardas, 44% são brancas e 1% pertencem a outros grupos.
Você já viveu algum desses eventos climáticos?
- Pandemias: 22% (o Instituto Pólis faz a observação de que a porcentagem não é maior por se tratar de uma pesquisa de percepção pública, ou seja, nem todos entendem que pandemias são influenciadas pelas mudanças climáticas)
- Falta d’água/seca: 20%
- Chuva forte: 20%
- Alagamento/inundação/enchente: 18%
- Temperaturas extremas: 10%
- Apagão/racionamento de energia: 7%
- Ciclones e tempestades de vento: 6%
- Incêndios/queimadas: 5%
- Deslizamento de terra: 4%
- Períodos prolongados de calor ou de frio: 3%
- Escassez de alimentos/fome: 2%
- Escassez de recursos naturais: 1%
- Não vivenciou nenhum desses eventos: 28%
- Não sabe/não respondeu: 1%
É importante ressaltar que a pesquisa aconteceu entre os dias 22 e 26 de julho de 2023, antes de acontecerem eventos que atingiram diversas regiões do país, como a forte onda de calor de novembro, relacionada ao fenômeno El Niño potencializado pelo aquecimento global.
Preocupação
Outra informação revelada na pesquisa é a de que quase toda a totalidade da população brasileira está preocupada com o futuro.
Entre os eventos que mais preocupam, estão:
- Falta d’água/seca: 34%
- Alagamento/inundação/enchente: 23%
- Incêndios/queimadas: 18%
- Chuva forte: 17%
- Temperaturas extremas: 16%
Analizando os dados segregados por raça/cor, classe econômica e renda, é possível ver que quem está mais preocupado com certos eventos, como alagamento e falta d’água, é a população negra e a pertencente às classes D e E.
“Quem está sendo mais impactado é justamente a população mais pobre e negra, que mora em áreas vulnerabilizadas”, explica Maria Gabriela Feitosa, assessora de projetos do Instituto Pólis. “Um outro estudo, do ano passado, mostrou que há uma correlação entre áreas de risco mapeadas — de inundação e de deslizamento de terra — e a população que reside nessas áreas”.
Não aos combustíveis fósseis
As energias não renováveis, como as vindas de petróleo, carvão mineral e gás natural fóssil são identificadas pela maior parte da população como prejudiciais ao clima.
Percepção sobre a contribuição de cada fonte de energia para o agravamento das mudanças climáticas:
- Petróleo: 73%
- Carvão mineral: 72%
- Gás natural: 67%
Paralelo a isso, quando questionados sobre as prioridades na produção de energia, apenas 1% afirmou que deveria haver investimento em carvão mineral, 4% em petróleo e 4% em gás.
Para 86%, as prioridades de investimento do governo devem ser em energia solar, hídrica, eólica e biomassa. Porém, apesar do discurso bonito e “verde” do presidente Lula na COP 28, os bastidores da política brasileira vão na contramão das palavras. “Tivemos a aprovação de um PL que prorroga subsídios para energia movida a carvão até 2050 e a entrada do Brasil na OPEP, que é a organização dos países exportadores de petróleo e aliados”, comenta Maria Gabriela.
Para que as decisões do poder acompanhem as vontades da população, a sugestão da assessora de projetos do Instituto Pólis é explicar para o grande público que estamos pagando por fontes que vão elevar o impacto das mudanças climáticas. Afinal, ninguém gosta de perder dinheiro com aquilo que não gosta. “Tem um estudo do Inesc que revela que subsídios aos combustíveis fósseis foram cinco vezes maiores do que os incentivos às energias renováveis”.