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 Foto: Divulgação SP Invisível | Arte: Mariana Sartori

ONG ouve histórias de pessoas em situação de rua e atua oferecendo acolhimento

SP Invisível completa 10 anos em 2024 e ações vão desde coleta de histórias à capacitação profissional

Imagem: Divulgação SP Invisível | Arte: Mariana Sartori
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25 jun 2024 - 04h00

Os paulistanos André Soler e Vinícius Lima tinham 18 anos quando decidiram caminhar pela capital paulista ouvindo relatos de vida de pessoas em situação de rua. Os relatos coletados começaram a ser publicados em uma página do Facebook, cujo objetivo era divulgar histórias invisíveis. 

A ideia veio à cabeça dos jovens depois de uma sugestão do pastor da Igreja Batista da Água Branca, frequentada por eles desde a infância. Era um projeto fotográfico, que deveria ser executado pelo grupo de jovens da igreja, sobre tudo o que era considerado "invisível" em São Paulo (SP).

“Começaram a chegar fotos muito expressivas de pessoas em situação de rua e isso mexeu com a gente. Nos perguntamos qual seria a história por trás daquelas pessoas e decidimos contá-las. À época – isso foi em 2014 –, as redes sociais não tinham esse fim comercial como têm hoje. Então, a gente só queria publicar as fotos e contar histórias”, conta André.

Os dois jovens passaram a ir até os arredores da estação Barra Funda e caminhar por toda a região central de São Paulo coletando histórias de vida. “Nós abordávamos pessoas e dizíamos que queríamos ouvir o que tinham para dizer, de onde vieram, de que gostavam. E, por incrível que pareça, elas se empolgavam muito com isso”, relembra.

O projeto, que era para ser apenas um registro em uma plataforma digital, se transformou na SP Invisível, uma ONG de impacto que atua em três frentes: segue fazendo o que se propôs a fazer, que é coletar histórias, mas também oferece assistência à população de rua (organizando campanhas periódicas de doação de produtos) e capacita essas pessoas para o mercado de trabalho. 

Foto: Divulgação SP Invisível | Arte: Mariana Sartori

André conta que o começo do projeto o fez refletir sobre o que gostaria de fazer, sobre como poderia encabeçar mudanças sociais que julgava necessárias. Ele havia criado uma página que fazia sucesso, mas sentia que sua missão era maior, e que poderia de alguma forma fazer aquilo crescer e atingir mais pessoas. 

Por mais que a gente soubesse que o projeto tinha como base a conscientização social, a gente se perguntava com frequência qual era a utilidade prática dele

-  André Soler, da SP Invisível

Novas ações começam a ser implementadas

Após um ano ouvindo e reproduzindo histórias, a dupla começou a sentir constantemente que a missão precisava ser expandida. Em 2015, eles começaram a criar algumas iniciativas sociais de distribuição de itens de necessidades básicas e agasalhos.

A primeira ação criada pela ONG foi a “Inverno Invisível”, que dura todo o período mais frio do ano e tem como objetivo distribuir moletons e kits de higiene para pessoas em situações de rua sobreviverem às baixas temperaturas. A organização monta, também, tendas pelas ruas com psicólogos, médicos e assistentes sociais voluntários prestando atendimento gratuito a quem está na rua. A campanha de 2024 estreou em 20 de maio e funcionará até agosto.

Os moletons são todos novos, explica André. Eles, na verdade, são produzidos com o dinheiro arrecadado por doações de pessoas físicas e jurídicas. Os itens de higiene, como absorventes, escovas de dente, lenços umedecidos etc, são adquiridos diretamente com os fabricantes. Já os moletons são produzidos em larga escala por uma fábrica parceira. Há, ainda, marcas que produzem de forma voluntária.

A segunda campanha criada pela ONG foi a “Natal Invisível”, que distribui kits de higiene pessoal e alimentos em novembro e dezembro. A distribuição acontece também junto da acolhida, que disponibiliza tendas com especialistas da área da saúde que se voluntariam para atender essas pessoas. 

Além das ações periódicas, A SP Invisível distribui alimentos pelas ruas da cidade semanalmente.

Foto: Divulgação SP Invisível | Arte: Mariana Sartori

Estudar para emancipar

André afirma que a nova ação da SP Invisível, cujo projeto piloto estreou em 2023 e a continuação segue neste ano, é a capacitação de indivíduos para o mercado de trabalho. 

“Nós fazemos uma seleção em centros de acolhida e capacitamos as pessoas selecionadas por dois meses. Essa capacitação é uma parceria feita com a universidade Anhembi Morumbi, em que todos fazem um curso de gastronomia de dois meses de duração. Depois desse período, nós inserimos essas pessoas no mercado de trabalho e as acompanhamos por seis meses, até que estejam totalmente emancipadas”, conta André.

O projeto piloto começou no ano passado e teve sucesso: já foram 45 pessoas capacitadas, sendo que sete delas já passaram pelos seis meses de experiência, seguem trabalhando e já desenvolveram autonomia. “As pessoas têm gostado muito disso, é uma iniciativa que tem dado bastante retorno”, conta o CEO.

A captação de pessoas para participar do programa acontece em centros de acolhida, explica André, porque é preciso que os participantes estejam minimamente organizados para entrar no projeto. 

“Quanto mais organizada essa pessoa está, mais pronta ela está para sair das ruas. Quando estão em centros de acolhida, geralmente já têm alguns vínculos com assistentes sociais, já reduziram o uso de drogas ou têm vínculos familiares. A gente tem entendido cada vez mais o perfil de quem vai abraçar a oportunidade e realmente se emancipar”, diz.

André relembra a história de Heraldo, um participante do programa de emancipação que o marcou. Heraldo fez parte da primeira turma da jornada, um teste piloto. “Na formatura, ele disse que o curso daria a ele a oportunidade de alugar uma casa, de ter uma conta no banco, de conseguir ir ao mercado. Algo que, para nós, é banal, para ele é a recuperação de sua dignidade”, conta. 

Mas André não teve oportunidade de rever a maior parte das pessoas que conheceu nesses últimos dez anos. Todas as histórias que ouviu permanecem guardadas em seu acervo, mas ele não consegue reencontrar seus protagonistas. 

“A nossa grande dificuldade ao cuidar de pessoas que vivem na rua é reencontrá-las. Isso dificulta essa relação de cuidado. Por isso, nossa próxima meta é construir algo para monitorar de forma mais eficaz os dados de pessoas em situação de rua. Assim, conseguiremos trabalhar mais precisamente.

Fonte: Redação Planeta
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