Inspirada por baleias de Abrolhos, artista conecta público e natureza com suas obras

A paixão pela natureza, pelos animais e vida marinha é o que move o trabalho da artista visual Raquel Salles. Ela, que é natural de Taubaté, no interior de São Paulo, conecta as pessoas com a natureza através de suas esculturas de baleias em cerâmica, que encantam pela riqueza de detalhes.

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A trajetória artística de Raquel começou na infância. Ela conta que, inspirada pela mãe desenhista e pintora, sempre se envolveu com a arte. Na adolescência que começou a explorar linguagens artísticas com as próprias mãos, em um curso técnico de artes plásticas. Com 14 anos, Raquel teve a oportunidade de experimentar diversas técnicas, incluindo desenho, pintura, gravura e modelagem em argila.

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Foi este último que consolidou seu interesse pela cerâmica.

"Durante todo esse tempo, eu sempre estive experimentando as técnicas que eu estava aprendendo, que eu estava estudando, e eu fui me aprofundando, buscando outros cursos. A temática sempre foi muito relacionada a tudo que era natural. Era a fonte da minha inspiração e o meu meio de expressão também", conta Raquel, em entrevista ao Terra.

Embora a cerâmica tenha se tornado uma paixão central, Raquel não se limitou a essa forma de expressão. Ela também explorou a ilustração botânica, que a levou a estudar biologia para aprofundar seu conhecimento sobre a natureza.

"Quando eu olho, percebo a minha produção, eu sempre percebo que a natureza, o mundo orgânico, o mundo natural sempre teve um papel de muito destaque", completa.

Atualmente, Raquel vive de sua arte, apesar das dificuldades que enfrentou para transformar essa paixão em uma carreira sustentável. Ela ministra aulas de técnicas artísticas, incluindo desenho, pintura e modelagem, compartilhando seu conhecimento e amor pela arte com seus alunos.

Esculturas de baleias

A decisão de criar esculturas de baleias tem uma ligação especial com a experiência de Raquel ao ver as baleias jubarte em seu habitat natural, durante sua lua de mel em Abrolhos. Esse encontro transformador inspirou a artista a expressar a majestade e a beleza desses animais em suas obras.

"Eu olhei para a minha lista de possibilidades de passeios, de ver belezas naturais, e falei: 'Nossa, acho que agora eu quero ver baleias! Quero ir para Abrolhos'. Comecei a ficar apaixonada por essa ideia, e até a sonhar com baleias. Comecei a pesquisar muito e a nutrir minha imaginação com isso", relembra.

Foi aí que vieram as pinturas de baleias em aquarela, e o animal virou símbolo de transformação devido às mudanças em sua vida naquele momento. Logo, as imagens se tornaram tão naturais para a artista quanto as aves e árvores que já estava acostumada a retratar em sua arte.

"A imagem da baleia, do mar, dos animais marinhos, me remetiam a essa curiosidade de saber como seria a vida nessa maré de mudanças. Eu sentia como se estivesse mergulhando num mar desconhecido. Então, a imagem da baleia tem essa força na minha imaginação. Eu comecei a fazer baleias loucamente. E eu sabia que quando eu visse uma baleia de perto, isso ia mudar muito a minha forma de expressão. E foi realmente o que aconteceu", lembra a artista.

Processo criativo

Raquel começou a produzir esculturas de baleias para se lembrar da experiência transformadora. Como procurou um souvenir da viagem que remetesse às baleias e não encontrou, decidiu apostar nessas peças.

O processo de criação das peças de Raquel é minucioso e respeita o tempo natural da argila, segundo ela. Desde a concepção da ideia até a peça finalizada, ela faz o desenho, modelagem e as diversas etapas de queima e esmaltação. Toda a produção da obra leva de dois a três meses, exigindo paciência e respeito pelos ritmos naturais do material.

"O processo de fazer cerâmica é muito interessante, porque ele é muito orgânico. Então, eu achei que ele combinou super com esse tema e com essas reflexões que a natureza traz pra gente. E ela sempre me traz essa mesma sensação até hoje, quando eu vou modelar, que é uma sensação de que a gente está submisso a um processo natural", explica.

Por ser um material natural, a argila exige cuidado com o tempo em que é manuseada, e muitas vezes, demanda mais dedicação, e menos pressa.

"Não tem como apressar tanto o processo natural da argila, e isso me traz uma paz, uma calma, porque é muito acelerado o nosso tempo, o nosso mundo. A argila impõe o seu ritmo. Foi o material que eu achei que mais comunicou tudo que eu gostaria de comunicar, não somente no resultado final, mas também no processo", diz.

Arte e a conexão com a natureza

Raquel acredita firmemente que sua arte pode conectar as pessoas à natureza, algo que considera de extrema importância. A urgência em conscientizar sobre a vida dos animais e preservação dos oceanos é pauta de sua arte, que busca sensibilizar sobre o assunto.

"Vejo a questão da preservação dos oceanos como muito urgente. A gente, como humanidade, está fazendo coisas muito desalinhadas. Então, isso realmente me preocupa e sempre, sempre me preocupou".

Desde criança, Raquel tem uma profunda preocupação com o meio ambiente e busca fazer escolhas conscientes em seu dia a dia, influenciando positivamente aqueles ao seu redor, inclusive, seus alunos.

“É um movimento que tem que ser pessoal e que, ao mesmo tempo, ele pode ser, sim, uma coisa despertada pelo outro. Então, eu tento sempre fazer isso. Como eu estive, durante algum tempo dentro da educação básica, como professora de artes, sempre trouxe isso para os meus alunos. Eu acredito muito, muitíssimo, que, através da arte, é possível educar as pessoas sobre o meio ambiente”, diz.

Para ela, a arte é poderosa em comunicar de forma mais direta sobre a preservação do meio ambiente.

"Ela pode despertar esse anseio por essa conexão. E é isso que eu tento trazer, do fundo do meu coração, e de toda a minha sensibilidade, toda a minha reflexão, todo o processo de criação, eu tento trazer isso àquele material, àquele instrumento, para que a outra pessoa tenha esse contato, e que ela também possa se sentir conectada", reflete a artista.