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Irmãos separados pela seca no Ceará se reencontram pela internet depois de mais de 50 anos

José Maria e Dimas da Silva Guerra se viram por vídeo chamada, mas ainda não conseguiram se abraçar pessoalmente

19 out 2023 - 05h00
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José Maria e Dimas da Silva Guerra não se veem há mais de 50 anos
José Maria e Dimas da Silva Guerra não se veem há mais de 50 anos
Foto: Arquivo pessoal

"Quando é para falar do meu irmão, eu me emociono, porque são tantas coisas, tanta história, tanta distância". É assim que José Maria da Silva Guerra define os mais de 50 anos de saudade que tem do irmão Dimas da Silva Guerra, que viu pela última vez em 1972. Uma seca severa havia atingido o Ceará, e como a família não tinha condições, Dimas rumou para a capital do Estado para tentar uma vida melhor. Nos últimos meses, eles conseguiram ter uma primeira conversa depois de décadas, mas ainda não puderam se encontrar pessoalmente.

Uma lembrança presente que José tem do irmão é quando era levado por ele em um jumento para buscar água em um açude, próximo à casa onde viviam naquela época, em Beberibe (CE). Já uma das últimas lembranças é quando Dimas foi embora para Fortaleza, pois havia arrumado um novo emprego. Até este ano, a relação dos dois era mantida somente na memória e com a esperança de um dia poderem conversar mais uma vez.

O que por anos foi só uma fagulha de fé numa imensidão de desesperança, nos últimos meses se tornou realidade. A filha de José, Brena Kelly, conseguiu achar o tio pelas redes sociais e promoveu uma conversa entre os irmãos depois de cinco décadas. Agora, falta só o abraço pessoalmente.

Seca e ditadura tornou a distância ainda maior

Em entrevista ao Terra, José conta que foram anos de seca forte na região, uma das maiores registradas no Nordeste, com bichos morrendo de fome e sede. Ao mesmo tempo, a ditadura militar ressoava no Brasil, então, quem conseguia, migrava para a capital para conseguir sobreviver.

“[Naquela época] Morávamos dentro das matas e não tinha nem como se deslocar para a cidade. Passamos muita fome, muita necessidade. Então, os que já eram maiores, coitados, fizeram que nem passarinho e voaram. Os que eram menores ficaram. Tinham que ficar ou morrer. O governo não se preocupou com a pobreza do interior, não mandava ninguém para saber se existia a seca.”

Por isso, Dimas se mudou de Beberibe. Com a partida dele e da maioria de seus irmãos, que já faleceram, José se sentiu como um filho único, e as festas de final de ano em família foram ficando mais solitárias. Quando teve filhos, as festividades o faziam lembrar ainda mais do irmão que nunca mais teve contato, e questionar se ele ainda estava vivo.

“Às vezes meu filhos me perguntavam: ‘Pai, o que você queria ganhar nesse momento?’ Eu dizia que queria ganhar o abraço do meu irmão.”

José Maria da Silva Guerra sonha em encontrar o irmão pessoalmente
José Maria da Silva Guerra sonha em encontrar o irmão pessoalmente
Foto:

Encontro

Brena cresceu vendo o pai falar sobre o sonho de encontrar Dimas, e a vontade dele também se tornou a da estudante de Cinema e Audiovisual. Com a ajuda das redes sociais, a jovem encontrou o tio depois de uma longa caçada por informações que pudessem levar a alguma pista de onde morava. Ela só tinha o nome dele e dos próprios avós, além de um pouco de esperança.

Brena ajudou o pai, José, a encontrar o irmão
Brena ajudou o pai, José, a encontrar o irmão
Foto:

Foi em um grupo de desaparecidos no Facebook que a jovem encontrou a informação de que um homem, com o mesmo nome do irmão de seu pai, também procurava a família. Ela e um primo chamaram o rapaz, que mandou o CPF do tio. Com os dados, a estudante conseguiu informações sobre a localidade do tio por meio da certidão de quitação eleitoral.

“Aí baixou a cidade onde ele estava, em Oriximiná, no Pará. O nome dos pais dele era igual aos dos meus avós”, relembra. Ela, então, pediu o contato do tio ao rapaz que fez o anúncio. Quando eu liguei para ele por vídeo chamada, vi que era idêntico ao meu pai, não tive dúvidas de que era ele”, explica.

Brena soube pelo tio que ele sempre teve o desejo de reencontrar a família, mas como não sabe ler e nem escrever, e tampouco tem recursos financeiros, não tinha como procurá-los. “Foram anos e anos e anos procurando, mas valeu muito a pena, sabe?”, descreve a jovem.

Esperando pelo abraço

Dimas e José não têm condições financeiras para se encontrar ainda e, por isso, Brena está organizando uma campanha por meio das redes sociais para levar o tio até Fortaleza, onde o pai mora. “Apesar da minha mãe não ter tido essa chance - nem meu pai -, minha mãe deixou essa obrigação, essa autoridade para mim. [...] Graças a Deus, o encontraram. Não me acho em condição de abraçar meu irmão agora, mas quando tiver essa oportunidade, vou com todas as forças. Quero passar a mão na cabeça dele, do jeito que ele fazia na minha quando eu era criança”, finaliza José, esperançoso.

Fonte: Redação Terra
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