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Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia  Foto: Leo Drumond/Nitro

'Mariana foi a sirene de Brumadinho': famílias cobram Justiça após 6 anos da tragédia de Brumadinho

Ao todo, 272 morreram no rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da Vale, em Minas Gerais

Imagem: Leo Drumond/Nitro
  • Marcela Ferreira Marcela Ferreira
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25 jan 2025 - 05h00

Lembrar a história para que ela não se repita. Isso é o que move a busca pela Justiça e conforta os corações de famílias que foram precocemente separadas em 25 de janeiro de 2019, em Brumadinho (Minas Gerais), em uma das maiores tragédias ambientais e humanas na história do Brasil.

Seis anos depois, a luta é a mesma, e o luto não parece ter fim. Manter a memória daqueles que se foram, soterrados pela lama, uniu famílias e deu origem a um memorial às vítimas do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da Vale, para abrigar os restos mortais recuperados das vítimas.

Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia
Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia
Foto: Leo Drumond/Nitro

Ao todo, 272 morreram, mas três corpos continuam desaparecidos até hoje. A ideia por trás do memorial é também contar a história do que aconteceu pela visão das famílias, que vivem com cicatrizes deixadas pelo caso.

Nayara Porto
Nayara Porto
Foto: Arquivo Pessoal

Nayara Porto é presidente da Avabrum (Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – Brumadinho). Ela perdeu o marido e o cunhado na tragédia, e hoje a associação a ajuda cerca de 900 associados a seguir em busca de um desfecho para a história.

Criada em agosto de 2019, a Avabrum surgiu pela necessidade das famílias em concentrar a busca dos direitos em uma única entidade. Os pilares da associação são: memória, encontro dos corpos das vítimas, Justiça e responsabilização, a não repetição da tragédia e o reconhecimento dos direitos dos familiares.

“Eu perdi o meu marido, Everton Lopes Ferreira, de 32 anos na época, e perdi meu cunhado, Thiago da Silva Barbosa, de 30 anos. A minha irmã estava saindo de um tratamento de depressão profunda. Eu vivi dias terríveis da minha vida, mas também não tive nem tempo de ter luto, porque eu tinha que cuidar da minha irmã”, relembra. Nayara só conseguiu viver o luto, de fato, cerca de um ano depois, quando sua irmã estava melhor.

“Foi aí que eu vivi o meu luto e faço tratamento psicológico até hoje, tomo remédio, e a gente vai vivendo. Estar na luta com a Avabrum me dá muita força, porque eu jamais aceitaria o que aconteceu com o meu marido e é um meio de dar voz para ele, porque ele não esperaria menos de mim. E eu vou, a gente vai, até o fim na luta por essa Justiça, porque eu aprendi que a gente planta, mas a gente tem que colher”, defende Nayara.

Luto sem fim

Helena Taliberti é presidente do Instituto Somos Sementes, criado após perder a família na tragédia de Brumadinho
Helena Taliberti é presidente do Instituto Somos Sementes, criado após perder a família na tragédia de Brumadinho
Foto: Arquivo pessoal

À espera do primeiro neto, Helena Taliberti recebeu a notícia de que havia perdido a filha, o filho, a nora grávida, o ex-marido e a esposa dele para a tragédia. “A família toda morreu, então foi um trauma enorme, uma tragédia que só começou naquele dia 25 de janeiro de 2019. É uma dor cotidiana, é um luto que não acaba”.

O filho e a filha de Helena, Luiz e Camila, foram encontrados mortos na primeira semana após a tragédia, mas a nora só foi encontrada após 22 dias. Luiz e a nora de Helena moravam na Austrália e estavam passando férias no Brasil, quando decidiram se hospedar em Brumadinho para conhecer Inhotim -- um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil.

“Não tinha informação nenhuma nos primeiros dias, e não sabia a magnitude”. Ela lembra outro rompimento de barragem, a tragédia em Mariana (MG), em 2015, mas confessa que apesar de ter ficado consternada, aquilo parecia distante de sua realidade, morando em São Paulo. 

“Meus filhos eram turistas. Nós somos de São Paulo. Eles estavam lá passeando. Então, não é porque aconteceu longe de você. Mariana foi a sirene de Brumadinho que não foi ouvida”, conta.

“Não é um luto normal. Porque você sabe que a todo momento eles descobrem coisas, que a morte deles poderia ter sido evitada. O rompimento da barragem poderia ter sido evitado. E não foi evitado por ganância, por busca do lucro acima de qualquer coisa, acima da vida”, completa.

Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia
Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia
Foto: Leo Drumond/Nitro

Somos Sementes

Com a partida precoce dos filhos, Helena fundou junto com amigos o Instituto Somos Sementes, atuantes na preservação da memória das vítimas do rompimento da barragem.

“Quando você luta por Justiça, você não pode esquecer o que aconteceu em momento algum. Eu acho que nós temos que fazer essa tragédia ser lembrada constantemente para que não aconteça de novo, para que a mineração mude a sua forma de se relacionar com comunidades, com o meio ambiente, que seja uma mineração responsável e sustentável”.

O objetivo é fazer com que a sociedade possa ver que aquilo “poderia ter acontecido com qualquer um”, segundo Helena. “É fazer com que as pessoas que estão envolvidas na tragédia, que eram funcionários da Vale, e que estão arrolados no processo criminal, que eles sejam julgados. Que eles sejam julgados e responsabilizados por aquilo que eles fizeram. O nosso luto só vai sossegar, o coração da gente só vai sossegar na hora que isso acontecer”.

Espera por justiça

O julgamento da Vale, empresa responsável pela barragem da mina Córrego do Feijão, que rompeu e provocou a destruição em Brumadinho, ainda não aconteceu. Em dezembro de 2024, a Justiça absolveu o ex-presidente da Vale S.A., Fabio Schvartsman. O ex-diretor de Ferrosos e Carvão da empresa, Gerd Peter Poppinga, foi condenado ao pagamento de multa de R$ 27 milhões por infração ao art. 153 da Lei 6.404.

“Seis anos de impunidade, seis anos sem Justiça, seis anos que, na nossa cabeça, os réus riem da cara da gente. E a gente fica aqui, vivendo um dia após dia, como se fosse 25 de janeiro todos os dias”, desabafa Nayara.

“O julgamento ainda não aconteceu. A gente sabe que isso pode ser mais demorado. E eu acho que nós não podemos jamais desistir. Jamais desistir. E eu acho que você não desiste porque você está cercado de pessoas que lutam pelo mesmo objetivo. Tentaram nos enterrar; não sabiam que éramos sementes”, diz Helena.

Memorial Brumadinho

Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia
Memorial Brumadinho é inaugurado neste sábado, 25, após seis anos da tragédia
Foto: Leo Drumond/Nitro

O Memorial Brumadinho será inaugurado neste sábado, 25, com uma cerimônia especial envolvendo familiares das vítimas, autoridades e a comunidade local.

Criado pela mobilização dos familiares, o espaço homenageia as 272 vidas perdidas no rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, incluindo trabalhadores, nascituros, moradores e turistas. Localizado no próprio Córrego do Feijão, o memorial se junta a outros memoriais in situ, como o Cais do Valongo, o Memorial 11 de Setembro e Auschwitz, mantendo viva a memória da tragédia.

Além de ser um espaço de memória, ele também servirá como área de convivência, com projetos educativos e de pesquisa nas áreas do meio ambiente, geografia, arquitetura, direito e história, com foco na tragédia e nos desdobramentos dela.

Fonte: Redação Terra
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