10 catástrofes climáticas que custaram bilhões em 2022
Um relatório produzido pela Christian Aid identificou os dez eventos extremos mais caros de 2022 influenciados pela crise climática
por Cinthia Leone (Climainfo)
Um relatório produzido pela Christian Aid identificou os dez eventos extremos mais caros de 2022 influenciados pela crise climática. Cada um deles causou prejuízos de mais de R$ 15 bilhões (3 bilhões de dólares). O estudo levou em conta apenas as perdas reportadas pelas seguradoras, o que significa que o prejuízo real é muitas vezes maior.
A Christian Aid apela aos líderes mundiais para que decidam com urgência sobre como será gerido o Fundo de perda e os danos acordado na última Conferência da ONU sobre Clima (COP27). A organização cobra urgência dos países e empresas para que cortem as emissões d gases de efeito estufa que causam a mudança climática.
"Tendo dez desastres climáticos separados no último ano, cada um custou mais de US$ 3 bilhões - este é o custo financeiro da inação na crise climática. Mas por trás dos números em dólar estão milhões de histórias de perda e sofrimento humano. Sem grandes cortes nas emissões de gases de efeito estufa, este custo humano e financeiro só vai aumentar", afirma Patrick Watt, CEO da Christian Aid.
"O custo humano da mudança climática é visto nas casas lavadas pelas enchentes, pessoas queridas mortas pelas tempestades e meios de subsistência destruídos pela seca. Este ano foi um ano devastador se você por acaso esteve na linha de frente da crise climática", completou Watt.
O Relatório Contando os Custos (Counting the Cost) também examina outros dez eventos extremos que causaram danos ambientais, na maioria dos países mais pobres. Entre eles está destacada a tragédia em Petrópolis no começo do ano e o aquecimento simultâneo e inédito dos dois pólos terrestres. Saiba mais aqui: https://www.christianaid.org.uk/
Vila inundada em Matiari, na província de Sindh, no Paquistão (Foto: UNICEF/Asad Zaidi)
Os 10 eventos extremos mais caros de 2022
Tempestade Eunice (14-19 de fevereiro)
O ciclone extratropical Eunice atingiu Bélgica, Alemanha, Irlanda, Holanda, Polônia e Reino Unido, matando 16 pessoas e deixando prejuízos reportados pelas seguradoras em mais de 4,3 bilhões de dólares. Para algumas desses países, esta foi a pior tempestade em décadas, com ventos de até 196 km/hora.
Inundações na Austrália (23 de fevereiro a 31 de março)
As águas de março no leste da Austrália não deixaram espaço para a poesia. As autoridades afirmam que 27 pessoas morreram, 1 está desaparecida e 60 mil ficaram desabrigadas, enquanto os prejuízos apontam para 7,5 bilhões de dólares. A região metropolitana de Brisbane recebeu em três dias naquele período mais de 600 mm de chuva, com várias cidades batendo recordes históricos de precipitação.
Inundações na África do Sul (8-15 de abril)
As regiões de KwaZulu Natal Eastern Cape registram a morte de 459 pessoas em decorrência das chuvas extremas, que ainda deixaram 40 mil pessoas desabrigadas. O porto de Durban foi parcialmente destruído e ficou paralisado por vários dias. Apenas os prejuízos segurados apontam para mais de 3 bilhões de dólares.
Chuvas no Paquistão (14 de junho a setembro)
As inundações que deixaram mais de um terço do Paquistão debaixo d'água foram um evento extremo sem precedentes e que mostram a gravidade do estágio atual da crise climática. Quase 1800 pessoas morreram em decorrência das chuvas intensas que duraram todo o verão, e mais de 7 milhões ficaram desabrigadas. O prejuízo estimado pelo relatório é de 5,6 bilhões de dólares.
Chuvas na China (de junho a setembro)
O verão de 2022 em várias partes da China também foi trágico, com chuvas incessantes que custaram ao país 12,3 bilhões de dólares. As autoridades chinesas não reportaram o número oficial de vidas perdidas e admitem que ao menos 239 pessoas ficaram desabrigadas. A imprensa internacional aponta para uma quantidade muito maior de pessoas deslocadas pelas chuvas e indica fatalidades.
Seca na Europa (de junho a setembro)
A chuva que sobrou na Ásia fez muita falta no verão Europeu, com prejuízos estimados em 20 bilhões de dólares. Vários países tiveram crise de abastecimento de água, interrupção do transporte fluvial, mortandade de peixes e paralisação de fábricas. As ondas de calor que circularam o continente causaram mortes e incêndio de grandes proporções. A produção agrícola foi severamente impactada, turbinando ainda mais a crise de preço dos alimentos.
Furacão Fiona (14-28 de setembro)
O ciclone tropical Fiona atingiu o Caribe e depois rumou para o Canadá, matando ao todo 25 pessoas e deixando 13 mil desabrigados. Os prejuízos reportados pelas seguradoras superam 3 bilhões de dólares. O evento marcou a maior precipitação já registrada em Porto Rico, onde ocorreu a maior parte das fatalidades.
Furacão Ian (23 de setembro a 2 de outubro)
O ciclone tropical Ian passou por Cuba e depois seguiu para a Flórida, nos EUA, onde causou um estrago histórico que quase levou as seguradoras à falência: 100 bilhões de dólares em prejuízos. O evento causou a morte de 130 pessoas, a maioria nos Estados Unidos. A destruição de Ian na Flórida foi tão generalizada que está obrigando as autoridades e as empresas a repensarem modelos de gestão de risco, alertas de desastres e técnicas de construção.
Seca no Brasil (o ano todo)
A estiagem extrema que afetou o Brasil em 2021 foi tão severa, que seus prejuízos são reportados neste relatório como referentes a todo o ano de 2022. Somente no primeiro quarto deste ano, o PIB agrícola recuou 8%, diz a publicação, explicando que as perdas decorrentes da seca acabam por ser cumulativas. O texto explica que tanto a mudança do clima global, como a aceleração do desmatamento local e na Amazônia contribuíram para as secas nos estados produtores do Centro Oeste e do Sul. Os prejuízos reportados são de 4 bilhões de dólares.
Seca na China (o ano todo)
No verão deste ano uma parte da China ficou debaixo d'água e a outra sofreu com o calor e seca extremos. Rios importantes para a economia do país, como o Yangtze, bateram níveis mínimos históricas, enquanto províncias na região central tiveram crise de abastecimento de água. A safra de arroz do ano foi severamente comprometida.
Extra - Chuvas extremas no Nordeste do Brasil
O relatório da Christian Aid não menciona um dos eventos extremos mais severos da história do Brasil: as chuvas nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe em maio, que mataram 133 pessoas e deixaram milhares desabrigadas. Um estudo de atribuição publicado em julho de 2022 mostrou que essas chuvas foram 20% mais intensas devido à mudança climática, e que a urbanização inadequada contribuiu para o número de vítimas.
Meses antes, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, a Bahia e o Espírito Santo também sofreram com uma precipitação severa e invulgarmente contínua. Os custos financeiros desses eventos não foram estimados pelas autoridades brasileiras ou pelas seguradoras.
Extra - tempestade de inverno Elliot (Natal de 2022 - EUA e Canadá)
A tempestade de inverno Elliot também precisa ser incluída nos eventos climáticos extremos de 2022. Com um "ciclone bomba", Elliot gerou uma onda de frio extremo e as nevascas históricas que atingiram parte do Canadá e varreram os Estados Unidos de oeste a leste, de norte e sul no Natal de 2022. O serviço nacional de meteorologia dos Estados Unidos pôs 200 milhões de pessoas em alerta e classificou Elliot como "um evento único em uma geração. O alerta incluía risco de morte e queimaduras causados pela ventania gelada. Temperaturas de até 55°C negativos foram observadas em Bismarck, na Dakota do Norte. A intensa precipitação de neve acumulou quase 1,5 metros em alguns locais .