Além dos males ao corpo, cigarro também é inimigo do meio ambiente
Para pesquisador, bituca pode ser comparada ao lixo hospitalar e ameaçar uma variedade de espécies marinhas
Você já se deparou com alguma foto que mostra uma ave com uma bituca, ou guimba, de cigarro no bico? Imagens assim são chocantes porque mostram que, ao ser jogado na rua ou até descartado em locais apropriados, o resto de cigarro não desaparece, continuando na natureza e trazendo riscos a várias espécies de animais.
Segundo o professor Ítalo Braga Castro, do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp), mais de 4 trilhões de cigarros são fumados e descartados no meio ambiente todos os anos. O principal problema disso é que o filtro do cigarro, feito geralmente de acetado de celulose, retém parte das mais de 7 mil substâncias químicas que são nocivas e presentes nos cigarros.
“Esses filtros funcionam como verdadeiras bombas químicas liberando substâncias perigosas, seja para o solo, seja para a água aonde elas são descartadas”, explica o professor.
Segundo Castro, as bitucas têm uma baixa capacidade de degradação e, durante o tempo de decomposição, continuam liberando substâncias tóxicas. E esses compostos químicos podem causar graves danos a vários organismos, principalmente aquáticos.
“Os principais organismos afetados são organismos que a maioria das pessoas não vê, como os plânctons, ou pequenos organismos que vivem enterrados no solo ou nas areias, ou nos fundos marinhos. Embora muito pequenos, eles são muito importantes para o equilíbrio dos ecossistemas e são importantes inclusive para a nossa sobrevivência”, afirma.
De acordo com o professor, os plânctons são vitais para a produção de oxigênio no planeta. Além dessa espécie, Castro alerta que peixes, moluscos e até camarões podem ingerir essas substâncias e acabar sendo consumidos por seres humanos.
Solução para o problema
Antes de mais nada, diminuir o uso do cigarro é uma saída. O professor do IMar, que em 2021 orientou um estudo que identificou a ocorrência e analisou a toxicidade das bitucas de cigarros nas praias de Santos, no litoral de São Paulo, alerta que políticas públicas são necessárias.
“Nós deveríamos ter uma coleta seletiva específica para bituca, para que ela fosse destinada a um tratamento químico mais seguro do que o descarte com os demais itens do lixo”, defende.
Para ele, o descarte ideal precisa garantir que o resíduo não contamine o solo. Outra sugestão é banir o cigarro das praias, medida adotada em outros países como a Espanha. Dessa maneira, a bituca não pararia tão rapidamente no mar.
“Não estou minimizando o problema do plástico. O plástico é um problema pela quantidade de microplásticos. Mas a bituca é pior que plástico. A quantidade de substâncias químicas liberadas por uma bituca é brutalmente maior do que a dos plásticos. A ponto de ela, sem sombra de dúvida, pode ser classificada como um lixo tóxico e que merecia um tratamento separado e específico”, conclui.