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Após 13 meses de temperaturas recordes, ações contra aquecimento global continuam ineficazes

Ainda que problema piore por falta de preocupação de 'todos os países', especialista aponta que Brasil precisa agir mais

29 jul 2024 - 05h00
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Sala de meteorologia da Copernicus
Sala de meteorologia da Copernicus
Foto: Copernicus

Com temperaturas médias frequentemente quebrando recordes e um cenário pessimista no combate ao aquecimento global, ambientalistas apontam que ações para frear o aumento do calor intenso precisam ser mais contundentes para darem resultados. Caso não sejam, os termômetros do planeta Terra continuarão com registros acima das médias históricas.

O motivo da preocupação é claro: o Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S), registrou temperaturas globais recordes nos últimos 13 meses, em período que engloba junho de 2023 a junho de 2024. Embora ainda incomum, uma sequência semelhante de recordes de temperatura global mensal ocorreu anteriormente em 2015/2016.

O último relatório do Copernicus aponta que junho de 2024 foi, globalmente, mais quente do que qualquer junho anterior na história do planeta. Além disso, o registro de dados do programa mostra que o mundo teve temperatura média de superfície de ar 0,14°C acima do recorde anterior, estabelecido em junho de 2023. 

De acordo com os dados do órgão, o mês foi 1,50°C acima da média estimada de junho para 1850-1900, período de referência pré-industrial designado, tornando-o o décimo segundo mês consecutivo a alcançar ou ultrapassar o limite de 1,5°C.

Gráfico mostra comportamento das temperaturas globais nos últimos 13 meses
Gráfico mostra comportamento das temperaturas globais nos últimos 13 meses
Foto: Copernicus

Regiões como o leste do Canadá, o oeste dos Estados Unidos e México, o norte da Sibéria, o Oriente Médio, o norte da África, a Antártica Ocidental, além de todo continente europeu e boa parte do Brasil constam no relatório como locais onde as temperaturas estiveram mais acima da média.

Para o Copernicus, a situação é mais do que uma anomalia estatística e demonstra uma grande e contínua mudança no clima. Mesmo se essa sequência específica de extremos acabar em algum momento, os especialistas classificam com "inevitável" que vejamos novos recordes sendo quebrados, a menos que paremos de adicionar gases de efeito estufa na atmosfera e nos oceanos.

"Os limites de 1,5°C e 2°C estabelecidos no Acordo de Paris são as metas para a temperatura média do planeta ao longo de um período de 20 ou 30 anos. São esperadas flutuações, mas a frequência sem precedentes com que esses limites foram excedidos nos últimos meses demonstra uma tendência de aquecimento global que se aproxima dos 1,5°C. Por isso, é importante monitorizar com que frequência e durante quanto tempo a temperatura global atinge ou excede este limiar", avalia Francesca Guglielmo, cientista sênior do C3S, a pedido do Terra.

"Não existem ações"

Pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luciana Gatti critica a inércia de lideranças mundiais para frear o aquecimento global. Em sua análise, todos os países estão aumentando as emissões. Por causa da guerra na Ucrânia, por exemplo, a Alemanha voltou a usar carvão. 

Luciana destaca que a premissa econômica e do lucro tem sido vitoriosa na luta contra as mudanças climáticas.

"Não existem ações de combate ao aquecimento global. As cartas de intenção são compromissos assumidos que não têm repreensão. Quem não cumpre não sofre nada. E ninguém cumpre. [...] Todos os acordos não passam de cartas de intenção que não se levam a sério", afirma Luciana Gatti, em entrevista ao Terra

Redução do desmatamento na Amazônia é chave para reduzir aquecimento global, segundo cientistas
Redução do desmatamento na Amazônia é chave para reduzir aquecimento global, segundo cientistas
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Participação do Brasil

Para a pesquisadora, o Brasil irá colher frutos do desmonte às ações de combate à elevação das temperaturas promovidos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), classificados por ela como "uma catástrofe".

"O desmatamento foi tão elevado na Amazônia que nós não vamos poder receber nenhum centavo do Fundo Amazônia até 2030. O Brasil vai deixar de arrecadar US$ 2,5 bilhões por culpa do Bolsonaro e do Ricardo Salles [ministro do Meio Ambiente entre 2019 e 2021], que destruíram a proteção ambiental", avalia. 

Apesar dos reflexos da falta de ações ambientais do governo bolsonarista, Luciana também aponta que a atual gestão de Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) aumentou a produção de petróleo e as emissões de combustíveis fósseis, e promoveu a construção de usinas termelétricas. 

"A gente não vê efetividade no discurso que fala em trabalhar pela energia de transição. O que a gente realmente está vendo é um aumento de emissões de CO2. O Ministério da Agricultura e Pecuária... Não tem como você aumentar exportações de soja, de carne, sem que isso signifique aumento de desmatamento. Então, a gente também tem que mudar a lógica da matriz econômica no Brasil para poder proteger o meio ambiente, restaurar uma parte do meio ambiente perdida durante o governo Bolsonaro, que foi muito grande, e todos nós estamos vendo o quanto está fazendo falta pela aceleração dos eventos extremos que a gente está tendo no Brasil", conclui a pesquisadora do Inpe.

À reportagem, o Ministério da Agricultura e Pecuária classificou como um equívoco relacionar o aumento da exportação de soja e carne e o aumento do desmatamento. "Desconsidera os avanços conquistados por meio da introdução de tecnologias e inovações no campo, como aquelas desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além de políticas públicas como o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono", diz a nota, que também aponta como o aumento da produção de carne vem acontecendo mesmo com uma diminuição na área de pastagem no país. 

"O mesmo movimento é observado na agricultura, principalmente de grãos, onde, em função do uso de práticas conservacionistas do solo, manejo adequado de culturas, melhoramento genético de sementes e cultivares, além do uso de tecnologias sustentáveis de produção como sistemas integrados, plantio direto e utilização de bioinsumos, houve um aumento significativo da produtividade utilizando-se as mesmas áreas", segue a pasta.

O Terra também procurou os Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações a respeito das questões apontadas pelo Inpe.

Fonte: Redação Terra
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