Conexão do El Niño e temperaturas extremas: riscos para energia
O setor elétrico brasileiro é diretamente dependente dos efeitos climáticos extremos no geral.
por Pedro Regoto - Meteorologista
As mudanças climáticas vêm sendo percebidas pelo mundo inteiro em forma, principalmente, de fenômenos climáticos mais intensos. Chuvas excessivas, secas prolongadas, ondas de calor (e inclusive ondas de frio), maior quantidade descargas elétricas, são exemplos de consequências climáticas que o planeta está sofrendo de maneira mais forte e recorrente. Mediante a esse panorama, a transição energética para uma geração de energia mais sustentável (zero carbono) se faz fundamental, justamente porque o setor energético é um dos maiores emissores de gases do efeito estufa mundialmente.
O setor elétrico brasileiro é diretamente dependente dos efeitos climáticos extremos no geral, principalmente quando há o fenômeno do El Niño, por exemplo, agravando diversos impactos no contexto de mudanças climáticas. No geral, o El Niño favorece o aumento da temperatura do ar no planeta como um todo, ou seja, aumenta um dos principais combustíveis para a formação de queimadas e até mesmo tempestades, dependendo da região e da época do ano.
Durante o inverno e início da primavera (junho a setembro), o El Niño potencializa as queimadas que tipicamente ocorrem nesse período, o que possivelmente traz mais transtornos associados a interrupções de energia nas linhas de transmissão de alta e média tensões. Além disso, destaca-se que o calor acentuado afeta diretamente a carga do Sistema Interligado Nacional (SIN), aumentando-a, principalmente ao considerar ondas de calor mais prolongadas (vários dias consecutivos com temperaturas máximas do ar significativamente elevadas). Os picos de carga ao longo do dia se tornam mais elevados, justamente porque o consumo de energia aumenta, desde o consumidor residencial até os industriais. Isso traz um grande desafio para toda a operação do SIN, em como manejar e balancear a carga e a demanda, para não haver falhas no processo. Ainda nesse contexto, a própria integridade da infraestrutura elétrica (linhas de transmissão, transformadores, subestações, por exemplo) se torna mais vulnerável nos dias de temperaturas máximas extremas, favorecendo a ocorrência de falhas no sistema.
Uma relação muito interessante (e que nem sempre é óbvia) é sobre a temperatura e a geração solar. Intuitivamente, poderíamos pensar que, num ambiente mais quente, a geração solar poderia ser favorecida. Mas, não, isso é válido apenas para a luz do Sol. Existem certos limiares que os painéis solares atingem sua melhor performance, normalmente relacionados a temperaturas mais baixas. Ou seja, o El Niño pode desfavorecer a geração solar, considerando temperaturas máximas mais elevadas.
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