Cúpula da Amazônia fracassa com negacionismo climático do Brasil
O Brasil, idealizador e anfitrião do evento, saiu de Manaus criticado e humilhado
Foi um fracasso a cúpula da Amazônia. Foram vários dias reunindo os líderes dos oito países da Organização do Tratado de Cooperação Econômica a OCTA. O Brasil, idealizador e anfitrião do evento, saiu de Manaus criticado e humilhado.
Não se chegou a criar uma meta regional para combater o desmatamento e não avançou o bloqueio à exploração de petróleo na região. Eram os dois pontos chave defendidos pelos especialistas em meio ambiente e aquecimento global.
O que resultou do encontro: a “Declaração de Belém”, documento com 113 artigos, um tijolaço de belas declarações que escamoteia a desconversa.
O documento final cria uma série de novas burocracias e agências intergovernamentais. Papel aceita tudo. Precisamos ver é o que realmente vai se materializar de tanto anúncio.
Entre o que foi anunciado está o Painel Intergovernamental Técnico-Científico da Amazônia, com pesquisadores da região e participação de comunidades indígenas e tradicionais.
Também se falou da criação do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia com sede em Manaus. E da criação de um sistema conjunto de controle de tráfego aéreo para combater a exploração ilegal de recursos naturais e o tráfico de drogas.
Claro que todas as palavras bonitas estão lá no documento. Direitos humanos, bioma, diversidade, educação, segurança alimentar e tudo mais. Lula comemorou que o desmatamento está caindo na Amazônia, mas não citou o Cerrado, onde está aumentando rapidamente.
O texto final cita os povos indígenas 64 vezes. Não especifica quais investimentos serão feitos para proteger de fato os povos da floresta.
O único líder que de fato demonstrou liderança foi o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que defendeu que não se abram novas frentes de exploração de petróleo na Amazônia. É o que defende o consenso da Ciência.
O Brasil, anfitrião do evento, passou a maior vergonha, graças ao ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira. Falou uma porção de bobagens.
Silveira explicita a contradição do governo Lula, que quer ser respeitado como líder ambiental global, mas sem abrir mão de continuar lucrando com o Aquecimento Global, através de sua participação na Petrobras. Vale lembrar que a empresa é uma das 20 maiores responsáveis pela emissão de gases estufa.
Neste vídeo explico em detalhes quem é Alexandre Silveira e como suas declarações negacionistas enterraram a credibilidade ambiental do Brasil na Cúpula da Amazônia.
(*) André Forastieri é jornalista, sócio da consultoria Compasso e fundador de Homework. Conheça melhor seu trabalho em andreforastieri.com.br.