Desmatamento pode reduzir capacidade da usina de Belo Monte
Estudo sobre o impacto do desmatamento aponta que, no pior dos cenários, a geração de energia seria de apenas 25% da capacidade de Belo Monte
Um novo estudo publicado por pesquisadores brasileiros e americanos aponta que a conservação das florestas na bacia do rio Amazonas tem impacto na produção de energia por hidrelétricas instaladas na região. Os resultados, publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revelam que se o desmatamento seguir no ritmo atual, a projeção de produção de energia em Belo Monte pode ter sua capacidade reduzida.
O estudo considerou a influência que a floresta tem na produção de chuva e como o desmatamento pode reduzir a precipitação. De acordo com a pesquisa, nos níveis atuais de perda da vegetação, o volume de chuva é entre 6 e 7% menor do que com a cobertura florestal completa. Porém, com a estimativa atual de perda de floresta de 40% até 2050, a precipitação seria até 15% mais baixa, fazendo com que a capacidade de produção de energia da hidrelétrica caia a 25% da capacidade máxima da planta ou a até 40% das próprias projeções da usina.
Segundo os pesquisadores, a perda de capacidade de geração de energia devido ao desmatamento poderia dificultar os esforços do Brasil em resolver os problemas energéticos. "Os resultados são extremamente importantes para o planejamento energético de longo prazo", disse o climatologista Marcos Costa, pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e um dos autores do estudo. "Estamos investindo bilhões de dólares em usinas hidrelétricas em todo o mundo. Quanto mais florestas, mais água vamos reter nos rios, e mais energia elétrica seremos capaz de obter", complementou.
As áreas com florestas tropicais tendem a ter grandes quantidades de chuva, tornando os locais privilegiados para projetos hidrelétricos que aproveitam a alta dos rios para gerar eletricidade. O Banco Mundial estima que a energia hidrelétrica não explorada nestes locais é quase quatro vezes maior do que a capacidade instalada na Europa e na América do Norte - e grande parte deste potencial encontra-se no coração das florestas tropicais. "O Brasil, Peru, Colômbia, Congo, Vietnã e Malásia estão se voltando para a 'eletricidade verde' produzida pela hidrelétrica para atender as demandas de suas economias em crescimento", disse Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Embora ambientalistas critiquem os impactos ao ambiente na construção das usinas, as hidrelétricas geralmente produzem menos gases de efeito estufa do que muitas outras fontes de energia. Mais de 45 novas usinas estão previstas somente no Brasil para os próximos anos, sendo que Belo Monte foi projetada para ser a terceira maior usina do mundo e suprir 40% do crescimento do Brasil em produção de eletricidade.