É possível comer carne e frear as mudanças climáticas?
A resposta é sim e a ferramenta para isso está disponível ao consumidor. Saiba o que é o Radar Verde.
É possível comer carne e frear as mudanças climáticas? A resposta é sim e a ferramenta para isso está disponível ao consumidor.
A criação de gado é o principal motor do desmatamento na Amazônia. Atualmente, pastos para o gado cobrem cerca de 90% da área total desmatada e mais de 90% dos novos desmatamentos são ilegais, de acordo com um estudo realizado pelo projeto Amazônia 2030. Pelo menos 93 milhões dos mais de 218 milhões de bovinos criados no Brasil estão nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal (2022), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A criação de gado é o principal motor do desmatamento na Amazônia. (Foto: Getty Imagens)
Isso quer dizer que é bem provável que a carne que está no nosso prato veio de fazendas que um dia foram Floresta Amazônica, num momento em que proteger a Amazônia é um desafio para o Brasil. A região possui riquezas de valor incalculável: guarda a maior floresta tropical do mundo, que contribui para o equilíbrio do clima, abriga uma das maiores diversidades do planeta e ainda possui potencial econômico com os produtos da floresta.
Mas, é possível proteger esse patrimônio, ajudar a frear as mudanças climáticas e, ainda, continuar comendo carne. Desde 2022, o Radar Verde, por meio de um índice público, avalia o comprometimento de frigoríficos e supermercados quanto ao controle e transparência da cadeia de produção. O indicador foi desenvolvido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Instituto O Mundo Que Queremos, com financiamento da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega (NICFI) e do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
O objetivo do Radar Verde é mostrar aos consumidores quais frigoríficos e supermercados têm maior controle e transparência sobre sua cadeia da carne. Com o índice, o consumidor saberá se a carne comprada nos estabelecimentos avaliados na pesquisa contribuiu ou não com o desmatamento na Amazônia durante seu ciclo de produção.
Em 2022, 90 frigoríficos e 69 redes varejistas foram convidadas a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento na Amazônia. Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final. Entre os frigoríficos, 94,5% não participaram do levantamento. Outros 5,5% responderam, mas não autorizaram a divulgação de seus resultados. No segmento varejista, 96% dos supermercados convidados não responderam. Os 4% que aceitaram participar não autorizaram a publicação de seus resultados.
Em 2023, outro levantamento será realizado e todas as empresas serão convidadas a participarem novamente. Investidores e consumidores têm o direito de saber quais frigoríficos e supermercados atendem à demanda de comprovação e transparência, mesmo que não consigam ter o controle total de seus fornecedores, pois o indicador avalia o grau de esforço das empresas em garantir uma carne completamente livre de desmatamento. O Radar Verde é uma ferramenta para o consumidor fazer escolhas conscientes e uma oportunidade para as empresas demonstrarem responsabilidade ambiental.