EUA precisam de protestos como os do Brasil, diz sobrinho de Kennedy
Advogado americano defende as manifestações e ainda cobra mais envolvimento da população em temas ambientais para não sermos "corrompidos" pelas corporações
Sobrinho do ex-presidente americano John Kennedy, o ativista Robert Kennedy Jr. defendeu nesta sexta-feira, durante a realização do Fórum Mundial de Meio Ambiente em Foz do Iguaçu (PR), os protestos que tomaram conta das ruas do Brasil nos últimos dias. "Precisamos disso nos Estados Unidos também. Temos muitas corporações corrompendo a nossa democracia", disse o advogado, conhecido pela luta contra empresas poluidoras dos rios nos Estados Unidos.
Apesar de condenar a violência e o vandalismo nas manifestações em grandes cidades do País, o ativista ambiental afirmou que a população precisa sentir-se parte da democracia. "O que acontece no Brasil é algo muito bom. As pessoas perceberam que têm direito à transparência, que os políticos precisam estar a serviço do povo". Ele disse ainda que os protestos são, em parte, resultado do sucesso econômico do País.
"Visitei o Brasil na década de 1970 e fiquei impressionado com a desigualdade social. Existia uma minoria rica e uma pobreza devastadora. Tinha ido antes para o Chile e Argentina, mas lá existia uma classe média, aqui não. (...) Hoje o Brasil tem classe média, e é de se esperar que esses milhões de pessoas cobrem mais participação no governo, nas decisões", disse em entrevista antes da abertura oficial do fórum.
Kennedy Jr. foi eleito pela revista americana Time como um dos "heróis do planeta" por sua contribuição na luta contra a poluição dos mananciais - especialmente a luta pela proteção do rio Hudson, em Nova York. Ele criticou a política americana de atrair grandes corporações, principalmente da área do petróleo, sem preocupação com o ambiente. Também defendeu que a população americana - e também a brasileira - se envolva mais com os temas ambientais. "Um povo que não tem consciência sobre seu ambiente é muito fácil as corporações internacionais levarem tudo", afirmou, lembrando que a pauta ambiental também deve ser um mote das manifestações sociais.
Capitalismo livre, meio ambiente e eleições
Durante sua palestra no fórum ambiental, Kennedy Jr. defendeu o capitalismo de livre mercado como uma forma de se alcançar justiça social e a proteção do ambiente. “O mercado livre promove eficiência, a redução de desperdícios, valoriza os recursos ambientais. O verdadeiro mercado livre pode deixar todos bem, pois envolve a comunidade. Mas o que o capitalismo atual faz é deixar apenas alguns ricos", disse ao criticar o que classifica de capitalismo corporativo dos Estados Unidos.
Segundo ele, são essas corporações capitalistas que hoje financiam as eleições bilionárias do país e depois cobram retornos dos governos. "É muito perigoso ver as grandes companhias intervindo no processo eleitoral, dando dinheiro para os políticos financiarem suas campanhas".
O advogado ambiental ainda falou sobre a sua prisão em frente da Casa Branca, em fevereiro deste ano, após participar de um protesto contra a instalação de um oleoduto que vai atravessar o país. "O presidente Obama garantiu vários avanços na luta contra as mudanças climáticas, mas essa questão do oleoduto nos preocupa muito e se não houver uma nova posição do governo (barrar a proposta), as entidades ambientais vão se decepcionar muito com ele". O projeto de extensão do oleoduto tem sido questionado desde seu início, há quatro anos, por causa dos impactos ao meio ambiente. O canal deve carregar óleo do Canadá para refinarias no Golfo do Texas.
Ao terminar sua palestra, Kennedy foi questionado por um dos debatedores sobre o interesse em disputar cargos públicos. "Eu cheguei muito próximo de ser candidato ao senado por Nova York duas vezes, mas tinha seis crianças pequenas em casa naquele momento, tive que me focar neles.. Agora as crianças cresceram, são 85 Kennedys na família pensando em se candidatar, ficou difícil para mim", completou arrancando risos da plateia.
Fórum de Meio Ambiente
Ocorre nesta sexta-feira e no sábado, em Foz do Iguaçu (PR), o Fórum Mundial de Meio Ambiente, que reúne empresários, políticos e ambientalistas para debater ações relacionadas à preservação da água. Entre os palestrantes estão o ativista e advogado americano especializado em direito ambiental, Robert Kennedy Jr., o presidente da Ocean Futures Society (OSF), Jean-Michel Cousteau, e a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Promovido pelo Lide - Grupo de Líderes Empresariais, a iniciativa faz parte das discussões do Ano Internacional de Cooperação pela Água, definido pela ONU para 2013, com o objetivo de estimular a consciência sobre a escassez do recurso natural.
A repórter viajou a convite da organização do evento.