Fumaça de queimadas pode ajudar na revegetação do Cerrado, aponta estudo
Estudo mostra que substâncias da fumaça podem melhorar a germinação de espécies do bioma, podendo otimizar processos de restauração de áreas
Substâncias presentes na fumaça de queimadas espontâneas podem favorecer a germinação de sementes e, consequentemente, ajudar na revegetação e restauração do Cerrado. Foi isso que mostrou um estudo promovido por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicado em maio deste ano.
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A pesquisa 'Efeitos da fumaça na germinação de espécies do Cerrado' resume que o fogo é um componente natural em ecossistemas como o Cerrado. Portanto, no equilíbrio do bioma, a fumaça é um dos produtos do fogo que pode estimular a germinação de sementes. Mas essa resposta "positiva" acontece de acordo com a espécie da planta e da concentração de fumaça.
De 44 espécies estudadas, 32% mostraram aumento na germinação, a depender da concentração. Além disso, existem centenas de substâncias na fumaça. Um grupo dessas substâncias que se destaca com relação à resposta das vegetações é o das carriquinhas.
A cientista Rosana Marta Kolb, orientadora de Gabriel Schimidt Teixeira Motta, que conduziu o estudo, explica ao Terra sobre espécies que possuem bancos de sementes – quando, de forma simplificada, sementes ficam 'escondidas' no solo até que algo gere o impulso para que brotem. Essa 'dormência' pode ser quebrada pela temperatura elevada do fogo, por exemplo.
O fogo espontâneo também tem um papel benéfico para a rebrota, fazendo com que plantas voltem ainda mais vigorosas após a passagem das chamas.
"São plantas adaptadas à ocorrência do fogo. O problema é se você extrapola o regime natural do Cerrado. Se tiver fogo todo ano, você não dá tempo dessas plantas que rebrotaram se recuperar, crescer de novo, atingir o tamanho que deveriam. Você quebra esse equilíbrio", pontua a cientista.
Então, para além do que é 'natural', devido à ação do homem que tem levado o planeta a extremos climáticos, pensar na necessidade de revegetação se torna algo cada vez mais necessário – e é aí que esse estudo mostra sua relevância prática. A cientista conta, por exemplo, que os conhecimentos levantados podem ser utilizados de diferentes formas.
Ela cita a técnica de 'primer', que consiste em embeber as sementes em água de fumaça (a mesma utilizada no estudo) antes de ela germinar, e deixá-la secar naturalmente. Com isso, a semente ficará com essas substâncias em seu interior, sendo 'melhorada', com mais 'força' para germinar em ambientes degradados.
"Conhecendo a resposta de cada espécie [à água de fumaça, em concentrações avaliadas por cientistas], você tem a possibilidade de aumentar a chance de sucesso da restauração através de semeadura direta, entregando sementes que vão ter melhores condições de germinar em qualquer situação", pontua Rosana.