Oceanógrafo francês alerta para risco ambiental na exploração do pré-sal
Jean Michel Cousteau disse que o Brasil precisa de uma "polícia" para fiscalizar a exploração de petróleo e evitar tragédias como a do Golfo do México, onde mais de 4 milhões de barris vazaram em 2010
Filho do lendário explorador francês Jacques Cousteau, Jean Michel Cousteau percorre o mundo difundido as ideias de proteção dos oceanos que aprendeu desde criança com o pai. O oceanógrafo que mergulhou nas águas do Golfo do México para investigar os danos causados pelo vazamento de petróleo, disse nesta sexta-feira, em Foz do Iguaçu (PR), que o Brasil precisa de uma fiscalização rigorosa sobre a exploração de petróleo na camada do pré-sal.
"É uma exploração muito profunda. Quem garante que foi certificado que está se fazendo tudo certo?", questionou o ativista ao participar de um debate sobre proteção dos oceanos no Fórum Mundial de Meio Ambiente. Ele lembrou de tudo o que viu no Golfo do México – onde a explosão na plataforma da British Petroleum em 2010 provocou o derramamento de mais de quatro milhões de barris de petróleo, no que é considerado o mais desastre ambiental dos Estados Unidos. "Depois das catástrofes que vi, tenho muito medo dessa exploração (de petróleo no pre-sal). Basta os executivos tomarem uma decisão errada, no caso de lá eles optaram por cortar custos em vez de agir de maneira certa", disse.
Segundo Cousteau, a produção de petróleo só deve ser feita com um rigoroso controle, que não pode ser das empresas interessadas no lucro, mas por reguladoras externas. "Assim como temos policiais cuidando das nossas cidades, do trânsito, precisamos ter uma espécie de polícia controlando essa atividade (...) Temos que ter ações preventivas, e não agir somente depois das tragédias", afirmou.
Apaixonado pela floresta amazônica como o pai, Cousteau ainda falou sobre o desafio de educar os jovens para que tenham consciência ambiental, principalmente em nações subdesenvolvidas como o Brasil. "Eu sempre digo que você não pode ensinar alguém que está passando fome. Eu sei que o Brasil avançou muito nisso, mas muita coisa ainda precisa ser feita", disse ao lembrar da pobreza que viu durante suas expedições na Amazônia.
Os efeitos de Fukushima
O ambientalista, que criou uma organização em benefício do meio ambiente e dos oceanos - a Ocean Futures Society-, alertou também sobre os efeitos da radiação liberada pela usina de Fukushima, após o terremoto que devastou o Japão no ano passado. Segundo Cousteau, as autoridades japonesas omitem muita informação sobre a tragédia e a população acaba não tendo conhecimento sobre os danos ambientais e à saúde pública da radiação liberada.
"Mesmo que seja pouca a concentração (da radiação), ela é absolvida por algas e atinge os peixes, influenciando em toda a cadeia alimentar". Ele explicou que o peixe mais rápido do oceano, o atum azul, tem influencia nesse processo, já que pode atravessar todo o oceano Pacífico em um curto espaço de tempo. "A comunidade científico encontrou 14 exemplares desse peixe no sul da Califórnia com a radiação de Fukushima. O mesmo peixe pode voltar ao Japão e ficar com uma concentração ainda maior, até chegar a um ponto que ela poderá atingir as pessoas", argumentou.
Apesar dessas preocupações, Cousteau disse que acredita muito em um processo da mudança, já que a população está cada vez mais preocupada com o ambiente. "A criança vê uma pessoa jogando um cigarro no chão, ela vai lá e questiona. A consciência ambiental aumentou muito", completou.
Fórum de Meio Ambiente
Ocorre nesta sexta-feira e no sábado, em Foz do Iguaçu (PR), o Fórum Mundial de Meio Ambiente, que reúne empresários, políticos e ambientalistas para debater ações relacionadas à preservação da água. Entre os palestrantes estão o ativista e advogado americano especializado em direito ambiental, Robert Kennedy Jr., o presidente da Ocean Futures Society (OSF), Jean-Michel Cousteau, e a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Promovido pelo Lide - Grupo de Líderes Empresariais, a iniciativa faz parte das discussões do Ano Internacional de Cooperação pela Água, definido pela ONU para 2013, com o objetivo de estimular a consciência sobre a escassez do recurso natural.
A repórter viajou a convite da organização do evento.