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Nada de 'selva de pedra': inventário promove e protege fauna silvestre extensa em São Paulo

Inventário da Fauna Silvestre de São Paulo foi publicado, pela primeira vez, em 1993; em 2023, documento contou 1.354 espécies na capital

15 jun 2024 - 05h00
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Gavião Preto foi avistado pela primeira vez, em São Paulo, em 2023
Gavião Preto foi avistado pela primeira vez, em São Paulo, em 2023
Foto: Divulgação/SVMA/Prefeitura de São Paulo

À primeira vista, pode ser difícil imaginar que a cidade de São Paulo, em meio a milhares de edificações, ofereça abrigo para qualquer variedade de vida silvestre. É com o objetivo de desmistificar a ideia de que a capital paulista seja uma 'selva de pedra' que a Divisão de Fauna Silvestre (DFS), da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), elabora um rigoroso inventário da vida animal selvagem na cidade.

Ao Terra, a bióloga e coordenadora de equipe do DFS Letícia Zimback destacou a importância do Inventário da Fauna Silvestre de São Paulo. Na última edição, elaborada a partir de dados coletados em 2023, foram contabilizadas 1.354 espécies no município paulistano, 22 a mais que em 2022.

Entre as novidades, as equipes da Divisão de Fausa Silvestre registraram, pela primeira vez, a presença do gavião-preto e dos morfos, uma espécie de borboletas neotropicais. 

"Começou como um trabalho interno, depois passou a pautar os dados para o desenvolvimento de políticas públicas. Agora, estamos conseguindo furar a bolha entre pessoas que não são necessariamente da área, mas então tendo acesso às informações e incentivam novos estudos", afirma Letícia.

Entre os animais catalogados, foram contabilizados 830 espécies de vertebrados, divididos entre 57 peixes, 89 anfíbios, 59 répteis, 516 aves e 109 mamíferos. Foram constatados, também, 524 invertebrados, entre eles 345 lepidópteros – borboletas e mariposas, importantes indicadoras da qualidade ambiental. 

Os números trazem, também, um dado alarmante: 172 espécies catalogadas em São Paulo enfrentam o risco de extinção, 12,7% do total, o que indica a necessidade de ampliação de ações e políticas públicas para auxiliar na conservação da fauna. 

"O que a gente tenta é mudar essa ideia de que São Paulo seja uma 'selva de pedra'. É uma cidade muito grande com diferentes tipologias de vegetação, temos matas, áreas de represa, um pouco de campos e até mesmo a área urbana arborizada, e tudo isso atrai uma fauna que pode escapar aos olhos", destaca a bióloga. 

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Pioneirismo pela biodiversidade

O Inventário da Fauna Silvestre foi publicado pela primeira vez em 1993, com o objetivo de auxiliar equipes responsáveis pelo resgate e soltura da fauna de São Paulo. O trabalho ampara, também, ações de manejo aos animais vítimas de agravos, como atropelamentos, colisões contra estruturas de vidro, predação por animais domésticos e tráfico de animais, entre os casos mais comuns.

"No começo do serviço, em 1991, quase não haviam informações sobre onde os animais estavam na cidade de São Paulo. Tinham algumas informações na Cantareira, no Jardim Botânico, no Zoológico, onde já haviam algumas pesquisas. A Divisão de Faunas teve o protagonismo de começar a conhecer a cidade", explica Letícia.

Segundo a especialista, com o tempo, o inventário passou a pautar, também, políticas e obras públicas na capital. Entre elas, Letícia cita a construção de trechos do anel viário Rodoanel, que envolveu discussões sobre registros de faunas onde aconteceriam as obras.

"Foi remodelado o trajeto por conta de uma população de bugios que habitavam a região, além de outros registros de animais ameaçados. Então, o inventário considera, também, o uso que as pessoas dão para o documento, que vai além do nosso trabalho de identificar locais de soltura da fauna", explica.

Lagartas da borboleta Morpho hercules foram avistadas pela primeira vez, em São Paulo, em 2023
Lagartas da borboleta Morpho hercules foram avistadas pela primeira vez, em São Paulo, em 2023
Foto: Divulgação/SVMA/Prefeitura de São Paulo

Desafios à conservação

Entre os obstáculos para a conservação da fauna paulistana, Letícia cita a predação de animais domésticos, como cães e gatos, principalmente contra aves. A degradação de áreas verdes na capital também prejudica a sobrevivência de animais silvestres. 

"O que a gente pretende é fazer com que as pessoas comecem a pensar em um possível impacto sobre essa fauna. Quando a gente impermeabiliza uma área verde para construir um condomínio, por exemplo, podemos alterar todo um ciclo de aves migratórias que usam a cidade como abrigo", diz a bióloga. 

Para auxiliar na conservação ambiental, o trabalho da Divisão de Fauna Silvestre busca aproximar a população à conscientização. "A cidade não foi pensada para respeitar, ser comportada junto com a natureza. A dinâmica natural daquele ambiente foi completamente modificada".

"Acho que o legal assim do trabalho é a gente é mudar esse paradigma mesmo de que a cidade é uma selva de pedra. A gente sabe que tem bairros, que são muito mesmos, e a ideia é tentar fazer com que a diversidade esteja permeada em todos eles. Isso é possível pela arborização urbana, pelas próprias moradias, não só com o uso de árvores, mas de outros elementos que também ajudam, como trepadeiras. A gente sempre tenta passar essa imagem de que qualquer coisa vale", finaliza. 

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Fonte: Redação Terra
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