890 mil pessoas foram atingidas por desastres ligados a chuva em 2022, maior número em 10 anos
Dados são do sistema da Defesa Civil Nacional; especialistas explicam que eventos extremos são consequências de efeitos da mudança climática
O Brasil registrou em 2022 o maior número de pessoas afetadas por desastres relacionados às chuvas e a maior quantidade de ocorrências em uma década, de acordo com informações do sistema da Defesa Civil Nacional.
No total, 890.188 pessoas foram afetadas, o que engloba vítimas fatais, feridos, doentes, desabrigados, desalojados e desaparecidos. Isso representa um aumento de 150% em comparação com o ano de 2012.
Essas pessoas foram impactadas por um total de 2.576 registros ligados a chuvas intensas, incluindo enxurradas, alagamentos, inundações e movimentos de massa, como deslizamentos de terra. O número representa um aumento de 402% em relação a 2012.
Os dados fazem parte do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), que é alimentado por informações fornecidas por governos estaduais e municipais.
Na última década, além do aumento registrado em 2022 (um crescimento de 86%), houve 2 outras situações em que ocorreu um aumento acentuado no número de ocorrências. Isso ocorreu de 2016 (com 566 registros) para 2017 (com 1.150 registros) e de 2012 (com 513 registros) para 2013 (com 1.002 registros).
Já com relação às pessoas atingidas na última década, os anos com maiores registros são: 2019 (214% e mais de 319 mil atingidos), 2017 (177% e mais de 306 mil atingidos) e 2013 (63% e mais de 581 mil atingidos).
O que é considerado como uma chuva intensa?
Uma chuva intensa não se refere a qualquer pancada de chuva comum. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que segue a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres, uma chuva intensa é caracterizada por precipitações "com acumulados significativos, capazes de desencadear múltiplos desastres".
Aquecimento global
O aumento na ocorrência de eventos extremos é uma evidência de que os impactos do aquecimento global já estão sendo sentidos, de acordo com o físico e professor da USP, Paulo Artaxo.
"O que está previsto nos relatórios do IPCC [Painel Internacional para Mudanças Climáticas da ONU] é exatamente o que está acontecendo agora. Vemos na Líbia, no Rio Grande do Sul e na China, é um forte aumento da concentração das chuvas.", disse em entrevista à Folha de S. Paulo.
"Antes das inundações na Líbia, houve recorde histórico na Grécia, com 700 milímetros em 24h", lembra o climatologista Carlos Nobre. Para ele, os registros de chuvas intensas compõem um cenário que exige respostas rápidas. "Os desastres vão continuar por muito tempo, até o fim deste século. Não sabemos o que acontecerá no próximo, mas não tem volta", completou.
Para estabelecer de maneira precisa a conexão entre eventos climáticos extremos e as mudanças climáticas, os cientistas realizam estudos de atribuição.
Nesses estudos, eles examinam dados e realizam projeções comparando cenários com os níveis atuais de carbono na atmosfera e cenários sem esses níveis. Isso permite que os pesquisadores estimem se a crise climática tornou um evento em um local específico mais provável e/ou mais intenso.