Ataques a peixes-boi ressaltam ameaça de extinção da espécie, aponta especialista
Casos recentes de ataques e morte dos mamíferos aquáticos acenderam um alerta entre especialistas, que ressalta o declínio da população
Casos recentes de ataques e mortes de peixes-boi acenderam um alerta entre os especialistas. Em rios ou nos mares, os mamíferos enfrentam o risco de extinção com a perda de habitat, poluição das águas e a caça ilegal. Considerado símbolo da conservação da espécie, o peixe-boi-marinho conhecido como Tinga foi resgatado com sinais de agressões e indícios de que tenha sido golpeado na cabeça com um facão.
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O caso aconteceu no fim de março e mobilizou especialistas da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA). Segundo o instituto, o animal já tinha sido socorrido com cortes no dorso e na nadadeira semanas antes. Hoje, Tinga vive na foz do Rio São Francisco, entre as cidades de Piaçabuçu (AL) e Brejo Grande (SE).
Por viver entre a divisa dos dois Estados, os cuidados ao animal são divididos entre o Instituto Biota, em Alagoas, e o FMA, em Sergipe. Para ajudar no monitoramento, Tinga é rastreado por um chip satelital, instalado em 2021, para que os especialistas possam encontrá-lo.
Mas o caso de Tinga não é o único. Em 7 de abril, o naufrágio de uma balsa que transportava um caminhão com óleo diesel pelo rio Cajuuba, no Arquipélago do Marajó (PA), contaminou a água, o que resultou na morte de um peixe-boi na região. Ele também foi encontrado com ferimentos.
Em 12 de março, um filhote de peixe-boi-da-Amazônia também foi resgatado por um pescador em Porto de Moz, no Pará, com marcas de queimadura por exposição ao sol e uma das nadadeiras amputadas. Ele foi transportado de avião até Belém e foi levado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Castanhal, nordeste do estado, onde se recupera.
Ao Terra, o biólogo Eric Comin explica que a espécie do peixe-boi-marinho está classificada como 'ameaçada de extinção'. Uma das causas é a perda de habitat, ocasionada pelo aumento da densidade demográfica nas regiões costeiras. No Brasil, especialistas estimam que existam pouco mais de 1 mil indivíduos soltos na natureza atualmente.
'Adoção' de peixes-boi
A Fundação Mamíferos Aquáticos mantém o Projeto Viva O Peixe-boi-marinho, responsável por monitorar e atender à população dos animais que vivem no litoral brasileiro. Segundo Comin, eles estão distribuídos, de forma descontínua, do estado de Alagoas até o Amapá.
Também existem peixes-boi que foram soltos no estado de Alagoas e utilizam o estado de Sergipe e litoral norte da Bahia.
Um deles é Astro, o primeiro peixe-boi-marinho reintroduzido na natureza no Brasil, em 1994. Segundo a fundação, o animal já foi atropelado 20 vezes por embarcações no litoral.
O projeto permite que voluntários 'apadrinhem' Astro, além de outros três desses animais, a fim de contribuir com o trabalho de proteção, monitoramento e educação ambiental para com a espécie.
Cuidados na interação
Eric Comin afirma que os peixes-boi são dóceis e que costumam interagir com humanos. No entanto, deve-se evitar o contato e, principalmente, a alimentação dos animais. "A gente acaba induzindo uma alimentação que não é natural e ele deixa de comer o que é da natureza dele".
O nome da espécie, aliás, se dá pelo hábito do peixe-boi em se alimentar de capim-agulha, vegetação encontrada em praias e estuários. Também sobrevivem de algas marinhas e folhas de mangue e, quando adultos, podem comer 60 kg de vegetação aquática todos os dias.
Um peixe-boi-marinho adulto pode pesar até 1.000 kg e medir até 4 metros de comprimento, da ponta do focinho à cauda. A gestação de um peixe-boi dura 12 meses e os filhotes se amamentam até 2 anos de idade. Assim, o intervalo entre as gestações pode levar até quatro anos.
Os longos intervalos entre o nascimento de filhotes, caracterizados como 'resguardos', também influenciam o declínio das populações desses animais, segundo o biólogo. "É um sistema de reprodução muito baixo, e isso coloca em risco a espécie".
No Brasil, o peixe-boi é protegido por Lei desde 1967, quando sua caça e comercialização de produtos derivados do animal se tornaram crimes ambientais. A pena pode levar a dois anos de prisão para o infrator.