Brasil registra região árida de deserto: o que isso significa?
Para especialistas, estratégias precisam ser criadas para que a população do local possa conviver com o clima
Novos mapas produzidos por cientistas brasileiros apontam que, pela primeira vez, o Brasil tem áreas com clima árido, similar ao de desertos. Uma nota técnica produzida por cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgãos do governo federal, cita o índice de aridez cai a patamares inéditos, aumentando áreas em desertificação.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram dados históricos do período que vai entre 1960 a 2020. “Não se tratam de projeções de modelos, apenas o resultado de observações”, explica o pesquisador do Inpe e coordenador do estudo, Javier Tomasella.
Existe um índice de aridez
Esse cálculo classifica o clima da região em diferentes categorias: de árido (quando o índice é inferior a 0,2), semiárido (entre 0,2 e 0,5), a outros climas. Essa conta mostra a relação entre chuva e a evaporação da água no local. Uma pequena região no norte da Bahia, por exemplo, está classificada como árida, com índice inferior a 0,2.
O especialista em Climatologia, Astronomia e Geologia da ONG Amigos da Água, Rodolfo Bonafim, esclarece que essa região árida não é contínua, ou seja, não é um único espaço árido, e sim pequenos espaços que vão se intercalando entre árido e semiárido. “Se juntarmos todos esses espaços, a região árida é do tamanho da Inglaterra”, afirma.
Essa mudança é fruto da intervenção humana: os especialistas apontam que as mudanças climáticas, que aquecem o planeta e levam a uma evaporação mais rápida da água, são os fatores preponderantes para esse fenômeno. Tudo isso, claro, associado a questões humanas de degradação do solo, com desmatamento e queimadas, por exemplo.
A população pobre é a que sofre mais: Bonafim ainda afirma que, entre as áreas que estão em processo de desertificação no mundo, o nordeste brasileiro é a que concentra a maior população: “As mudanças climáticas atingem todos, mas é a população pobre que sofre mais."
O pesquisador do Inpe, Javier Tomasella, defende serem necessárias estratégias para se conviver com o clima mais seco. “Certas práticas podem se tornar inviáveis. Por exemplo, a agricultura de sequeiro, que depende de chuvas estacionais, com este contexto se torna mais incerta. Dessa forma, a oferta segura de água passa a ser fundamental", argumenta.
Isso pode ser revertido? “Não, uma vez que é um processo de escala global, e a tendência é a temperatura aumentar nos próximos 100 anos. A área delimitada pelo clima árido só tenderá a crescer. Assim, a única saída é ações de adaptação para uma nova realidade”, afirma Tomasella.