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'Desespero': produtor rural do Rio Grande do Sul perde contato com os pais após chuvas

Dois amigos estão entre os 60 desaparecidos em cidades gaúchas por causa dos temporais, além de 29 mortes confirmadas. Estado tem áreas ilhadas e rompimento de barragem

3 mai 2024 - 07h50
(atualizado às 09h09)
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Flores da Cunha foi uma das cidades arrasadas pelos alagamentos
Flores da Cunha foi uma das cidades arrasadas pelos alagamentos
Foto: Divulgação/Prefeitura de Flores da Cunha / Estadão

O produtor rural Alexandre Scortegagna, de Flores da Cunha, na Serra Gaúcha, vive o drama de estar há três dias sem contato com os pais idosos, ilhados pelas enchentes na propriedade rural da família. Dois amigos estão desaparecidos, depois que a casa deles foi atingida por um grande deslizamento na região. Em todo o Estado, são 29 mortos e 60 desaparecidos.

Alexandre está na área urbana de Flores da Cunha e, nesta quinta-feira, 2, recebeu a informação transmitida por um chacareiro de que seus pais estão bem, embora tenham perdido todos os alimentos que estavam no freezer. Se parar de chover, Scortegagna vai tentar ver o casal no domingo, quando possivelmente as águas baixarão.

Ele conta que outras famílias da região enfrentam um drama ainda maior. "Dois amigos, pai e filho, estão desaparecidos em São Vendelino, aqui perto. Soube por relatos que os corpos ficaram embaixo dos escombros da casa e da avalanche e ainda não conseguiram retirar", contou.

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A casa ficava na margem da rodovia ERS-122, que foi atingida por um grande deslizamento de terra. "Eles eram produtores de bergamota e laranja-de-umbigo", detalhou.

Scortegagna conta que sua família é dona de uma agroindústria de suco de uva, mas o barranco desceu, a lama destruiu os parreirais e atingiu a fábrica. "Por sorte, não chegou na casa (dos pais), que fica no alto do morro, mas uma amiga que produz doce de leite em uma região próxima perdeu 50 vacas da raça jersey. Da noite para o dia, veio uma onda de água e as vacas desapareceram. Nem as carcaças acharam."

Ele conta que muitos bairros rurais estão isolados e há relatos de mais desaparecidos. "O Rio das Antas junta com as águas do Rio Caí e forma o Rio Taquari. Há muitas barragens que estão com água até o topo. Uma delas, a 14 de Julho, rompeu em Cotiporã. Toda essa água está indo em direção a Porto Alegre. É uma situação assustadora. Aqui em Flores da Cunha têm barreiras nas pistas, erosões e açudes estourando, uma catástrofe, mas outras cidades estão em situação ainda pior", disse.

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Em Mato Perso, distrito de Flores da Cunha, uma casa da família Pandolfi desabou, mas os ocupantes estavam abrigados no porão e conseguiram escapar apenas com poucos ferimentos. Segundo o subprefeito Mauro Basso, a mãe, a filha e o noivo dela passaram momentos de terror.

"Eles estavam abrigados, mas não sabiam se a estrutura do porão iria aguentar, como de fato não aguentou. Por sorte os três não foram atingidos em cheio pelos escombros", contou. O distrito está sem energia e comunicação. "As quedas de barreiras derrubaram postes e árvores e ainda chove sem cessar, por isso não temos um levantamento completo da situação", disse.

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Estado tem o 'maior desastre' climático e temporal seguirá para SC

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou estado de calamidade pública após 203 municípios gaúchos terem sido afetados pelas chuvas intensas, pouco mais de 40% de todas as cidades do Estado.

Leite informou no início da tarde desta quinta-feira, 2, que parte da Barragem 14 de Julho, entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, se rompeu. O alerta foi feito pelo governador Eduardo Leite (PSDB), que foi às redes sociais comunicar a informação à população e pedir que a população da região busque áreas de segurança.

Segundo o governador, este deve ser "o maior desastre" climático já enfrentado pelos gaúchos, e o Rio Taquari, um dos principais do Estado, atinge a maior elevação da história. Foram contabilizadas 71.306 pessoas afetadas, sendo 10.242 desalojadas, 4.645 abrigadas e 36 feridas.

Leite descreveu a situação como "absurdamente excepcional" e que as chuvas que caem no Estado gaúcho provocará a "pior enchente já vista", superando a do ano de 1941. Afirmou também que o temporal tem atrapalhado a ação de resgates e pediu à população que busque proteção, afastada de áreas que possam sofrer com alagamentos e deslizamentos de morros. A previsão é de que a precipitação forte siga para Santa Catarina nos próximos dias.

Estadão
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