Na ONU, Brasil propõe um ajuste de rota para enfrentar crise climática
Enfrentamento da crise climática passa por ações reais em nível global
Na mesma semana em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a discursar no chamado Parlamento Mundial representado pela ONU, os vários milhares de mortos e desaparecidos na Líbia chocam o mundo. Em terras brasileiras, a Região Sul também enfrenta de forma drástica os desastres climáticos mais frequentes.
Por isso, uma das frases do mandatário brasileiro no seu discurso em Nova York chama a atenção. "A promessa de destinar US$ 100 bilhões, anualmente, para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma longa promessa", disse Lula, que depois de 14 anos voltou a abrir a Assembleia-Geral da ONU, como é tradicional um presidente brasileiro fazer.
Na última década, acordos climáticos importantes surgiram em reuniões internacionais sobre o tema, mas pouco se avançou na prática. Os cientistas estão convictos de que tempestades como a que varreu o Mediterrâneo e o Norte da África foram alimentadas pelo aquecimento das águas marinhas. Assim como os ciclones sobre a parte meridional da América do Sul ficarão mais frequentes.
Cancelamento da dívida
Outros líderes mundiais fizeram coro à delegação brasileira em Nova York. Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados, por exemplo, pediu o cancelamento da dívida de todos os países pobres para que eles possam cumprir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e adotar ações climáticas. Para a líder do Partido Trabalhista barbadiano, e primeira mulher a ocupar o cargo em seu país, tomar dinheiro emprestado para enfrentar os danos climáticos é quase um crime contra a humanidade. Por ser uma ilha no meio do Caribe, Barbados corre riscos com a subida do nível médio do mar.
"Da mesma forma que podemos levar a Ucrânia a sério no Conselho de Segurança, podemos levar a crise climática a sério e as necessidades de financiamento para ela no Conselho de Segurança", disse Mottley, uma das vozes globais contra as mudanças climáticas. "Essa é uma ameaça tão grande quanto, na verdade, é uma ameaça maior, porque há mais vidas em jogo globalmente do que na Ucrânia. Não tenho nada contra a Ucrânia, na verdade, espero que o povo ucraniano receba todo o apoio de que precisa. Mas sei que as pessoas do mundo todo precisam de apoio e, sem uma intervenção urgente para resolver a estrutura de financiamento, não chegaremos lá."
Lição de casa
O Brasil pleiteia sediar a reunião anual do clima da ONU em 2025, além de já estar definido como sede do encontro do G-20 no ano que vem. Se as próximas reuniões internacionais serão peças-chave no quebra-cabeça global, a questão também passa essencialmente por fazer a lição de casa. Em Nova York, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falou sobre os próximos passos.
"O Brasil, que já tinha uma das metas climáticas mais ambiciosas do mundo, decidiu ir além. Tenho a satisfação de anunciar hoje que vamos atualizar nossa contribuição nacionalmente determinada no âmbito do Acordo de Paris, a NDC. Vamos retomar o nível de ambição que apresentamos originalmente na COP-21 [a reunião anual da ONU sobre clima que a cada ano ganha um número sequencial após sua sigla] e que tinha sido alterado no governo anterior [a contabilidade do governo Bolsonaro fez com que, na prática, o Brasil chegasse a 2030 podendo emitir mais do que a proposta original previa]. Elevaremos os compromissos brasileiros de redução de emissão de 37% para 48% até 2025; e de 50% para 53% até 2030. Isso apesar de nossas responsabilidades históricas serem incomparavelmente menores do que a dos países ricos", afirmou.
Marina Silva desde os anos 1990 levanta a bandeira da sustentabilidade e falou sobre a urgência da adoção de políticas mais concretas para proteção do meio ambiente. "Será a nossa última chance", disse ela nos Estados Unidos, fazendo referência à COP-30, em 2025. A reunião será importante porque é o prazo marcado para que os países apresentem uma segunda rodada de compromissos climáticos.