Nem este ano, nem no Rio: saiba quais foram os cinco dias mais quentes registrados no Brasil
O calorão acima de 40ºC tem se tornado o ‘novo normal’, mas reflexos da crise climática nas altas temperaturas não são de agora
Esta semana começou com o dia mais quente do ano. Fez 42,2ºC no Rio de Janeiro, segundo registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) na última segunda-feira, 17. O calor foi intenso, mas não chegou a desbancar a maior temperatura já registrada no Brasil pelo órgão federal. Para especialistas, é preciso entender que o planeta já vive sob um novo clima.
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Segundo dados do Inmet obtidos pelo Terra, o dia mais quente no País foi 19 de novembro de 2023, durante a primavera em Araçuaí, no interior de Minas Gerais, quando foi registrada a temperatura de 44,8ºC. O dia aconteceu em meio à oitava onda de calor do ano em questão.
Das cinco maiores máximas históricas desde a década de 1960, quando teve início a base de dados do Inmet, as três maiores não aconteceram no verão. Na primavera, considerando o histórico de medições, na sequência aparecem os registros de 44,7ºC em Bom Jesus do Piauí, no Piauí, em novembro de 2005, e de 44,6ºC marcados em Paranaíba, em Mato Grosso do Sul, em outubro de 2020.
Depois há dois registros feitos no verão, época em que é de se esperar calor. Foram 44,6ºC em Bom Jesus do Piauí, dessa vez em janeiro de 2006, e 44,6ºC em Orleans, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 1963. Essa última, é a única máxima que aconteceu antes dos anos 2000.
As maiores máximas históricas desde 1961, segundo o Inmet:
- Araçuaí (MG): 44,8°C no dia 19/11/2023;
- Bom Jesus do Piauí (PI): 44,7°C no dia 21/11/2005;
- Paranaíba (MS): 44,6°C no dia 07/10/2020;
- Bom Jesus do Piauí (PI): 44,6°C no dia 30/01/2006;
- Orleans (RS): 44,6°C no dia 06/01/1963.
‘Quebra de recordes’
O calor acima de 40ºC tem se tornado cada vez mais um novo normal, pontua Danielle Ferreira, meteorologista que atua na área de climatologia do Inmet. Ela avalia que, por mais que ainda seja cedo para dizer se 2025 irá bater o recorde de 2024, que foi considerado o ano mais quente não só no Brasil, como em todo o globo segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a “quebra de recordes” recorrentes é uma realidade.
Em 2024, segundo o Inmet, as cinco maiores máximas foram:
- Goiás (GO): 44,5°C no dia 06/10/2024;
- Cuiabá (MT): 44,1°C no dia 06/10/2024;
- Aquidauana (MS): 43,7°C no dia 07/10/2024;
- Miranda (MS): 43,3°C no dia 07/10/2024;
- Aragarças (GO): 43,3°C no dia 03/10/2024.
Danielle explica que, em 2023, até o meio do ano passado, o Brasil estava sob atuação do fenômeno El Niño, que é caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na linha do Equador, com a tendência para as temperaturas se elevarem. E na sequência já chegou a La Niñ, que, por sua vez, é marcada pelo resfriamento anormal dessas águas, mas que não foi suficiente para ‘derrubar’ o calorão em meio aos desequilíbrios do fator das mudanças climáticas.
“A La Niña deve enfraquecer em meados de abril e maio, e a expectativa é que se retorne à neutralidade, que está sendo cada vez mais encurtada, desestabilizada e com oscilações mais rápidas”, complementou a especialista. Segundo ela, estão previstos cerca de três meses de neutralidade e não há previsão para o retorno do El Niño.
Ondas de calor
Na última segunda-feira, teve início a possível terceira onda de calor do ano, conforme alertado pelo Inmet, com uma massa de ar quente e seco ganhando força e devendo elevar as temperaturas em 5ºC acima da média – ainda sem previsão de fim. No dia, além dos 42,2ºC em Niterói, no Rio de Janeiro, a temperatura chegou a 42,1ºC em Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, e a 42ºC em Silva Jardim, também no Rio.
Em 2025, as cinco maiores máximas até o momento:
- Niterói (RJ): 42,2°C dia 17/02/2025;
- Porto Murtinho (MS): 42,1°C dia 17/01/2025;
- Silva Jardim (RJ): 42,0°C dia 17/02/2025;
- Porto Murtinho (MS) 41,8°C dia 10/01/2025;
- Porto Murtinho (MS) 41,4°C dia 25/01/2025.
Esses dados são de coletas feitas em estações meteorológicas do órgão federal. Já considerando outros pontos, como os de monitoramento do Sistema Alerta Rio, da Prefeitura do Rio de Janeiro, o recorde do dia foi ainda maior, com o registro de 44ºC na capital carioca. Com a alta, de acordo com o Centro de Operações e Resiliência (COR-Rio), foi o dia mais quente na cidade desde 2014, quando teve início o acompanhamento das temperaturas.
A temperatura da segunda desbancou os 43,8ºC registrados também pela Prefeitura do Rio no dia 18 de novembro de 2023. O que era de se esperar, visto que a cidade entrou pela primeira vez no Nível de Calor 4 do Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo do município – que vai do nível 1 ao 5.
Para Karina Bruno Lima, doutoranda em Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora científica, é importante entender que já vivemos sob um novo clima, que não é mais o mesmo mundo de 30 ou, mesmo, de 10 anos atrás. “É essencial que planos de adaptação climática sejam pensados para a realidade de cada lugar e que sejam, de fato, implementados”, pontua.
E, em meio a isso, ela explica que o aumento da frequência e intensidade de eventos extremos, como as ondas de calor, é uma das características das mudanças climáticas. “Não quer dizer que uma onda de calor será sempre pior que a anterior. Mas que, de forma sistêmica, teremos ondas de calor cada vez mais extremas e também com maior duração. A tendência é de piora enquanto o aquecimento global antropogênico não for estabilizado”, finaliza.