O que se sabe sobre o apagão de São Paulo
Cerca de 1,4 milhão de endereços chegaram a ficar sem energia após temporal; quase 200 mil clientes permaneciam sem luz após quatro dias
Cerca de 1,4 milhão de endereços chegaram a ficar sem energia na cidade de São Paulo em decorrência do temporal que atingiu a capital paulista na última sexta-feira. A força dos ventos derrubou centenas de árvores, afetando a rede elétrica. Na manhã desta terça-feira, 7, 185 mil clientes no município ainda continuavam sem luz.
O blecaute chegou a afetar o funcionamento de locais como o Parque Ibirapuera, onde está sendo realizada a 35ª Bienal de São Paulo, e escolas que realizariam neste domingo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Moradores dos bairros de Capão Redondo e Campo Limpo, na zona sul da cidade, ficaram mais de 70 horas sem eletricidade, relatando prejuízos em comércios e alimentos estragados. A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) avaliou que o apagão causou um prejuízo de até R$ 126 milhões. A falta de luz afetou 15% dos comerciantes da cidade, segundo a Associação Brasileira de Comércios (Abrasel).
Chuvas fortes
Parte do estado de São Paulo foi atingindo por chuvas fortes na tarde de sexta-feira. O temporal com rajadas de vento causou seis mortes, devido à queda de árvores, muros e paredes. Foram registradas ainda enchentes e desmoronamentos. Somente na capital paulista, o Corpo de Bombeiros recebeu 1.281 chamados para quedas de árvores.
A cidade de São Paulo ficou em estado de atenção por quase duas horas. As rajadas de vento em algumas regiões chegaram a 104 km/h. Esses foram os maiores ventos já registrados na capital paulista, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo, que monitora esses dados desde 1995.
As chuvas provocaram ainda um apagão em vários bairros da capital paulista e da Região Metropolitana. Cerca de 1,4 milhão de residências ficaram no escuro.
"O vendaval que atingiu a área de concessão no dia 3 de novembro foi o mais forte dos últimos anos e provocou danos severos na rede de distribuição", afirmou a concessionária privada italiana Enel, responsável pelo fornecimento de energia de São Paulo, ao portal Uol, destacando que estava priorizando o trabalho de reparação da rede elétrica nos casos mais críticos, como serviços essenciais.
Passado quatro dias desde o temporal, algumas regiões ainda continuam sem luz.
Prefeitura dá ultimato a concessionária
O prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, afirmou nesta segunda-feira que irá entrar na Justiça caso a concessionária privada italiana Enel Distribuição São Paulo não restabeleça a energia elétrica de 100% da população da cidade até o final desta terça.
De acordo com Nunes, a empresa assumiu um compromisso público de religar a energia de todos aqueles que ainda estão sem luz. "Eu vou entrar na Justiça. Ele [Max Xavier Lins, diretor-presidente da Enel Distribuição São Paulo,] fez um compromisso público comigo. Isso tem valor de contrato", disse Nunes.
A declaração do prefeito ocorreu após reunião no Palácio dos Bandeirantes com o governador do estado, Tarcísio de Freitas. O encontro também teve presença de deputados estaduais, diretores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e executivos de cinco empresas de distribuição de energia que atuam no território paulista.
Nunes cobrou as concessionárias de energia e pediu uma regulação mais rígida das empresas privadas que fazem o serviço de distribuição de energia elétrica. "A gente precisa avançar um pouquinho mais na questão da regulação. Me parece que é preciso melhorar um pouco mais o nível de responsabilização e o nível de exigência das respostas no momento em que a gente percebe que as mudanças climáticas elas estão aí postas", disse.
Max Xavier Lins confirmou o compromisso de restabelecer a energia até o final do dia de terça e classificou como "fantástica" a atuação da empresa.
"Nós assumimos o compromisso de zerar ou reduzir significativamente os eventos dos clientes que ficaram sem energia", disse o diretor-presidente da Enel. Segundo ele, às 17 horas desta segunda-feira, 6% dos clientes afetados pelo apagão ainda estavam sem energia. "Uma recuperação muito, muito extraordinária, fantástica. Nosso objetivo é chegar no final do dia com isso zerado", afirmou.
Agência abrirá investigação
O diretor geral da Aneel, Sandoval de Araujo Feitosa Neto, disse que a agência irá abrir investigação para saber se as concessionárias prestaram adequadamente os serviços, e que multas poderão ser aplicadas. Ele ressalvou que as concessionárias não tinham informações prévias sobre a gravidade das chuvas que atingiram o estado na sexta-feira.
"As distribuidoras não tinham nenhuma previsão da gravidade desse evento. De alguma forma, sabia-se que haveria uma chuva, os próprios sistemas de detecção também do estado identificaram a chuva, mas não conseguiram precisar a sua extensão e a sua gravidade", disse.
Já o governador do estado, Tarcísio de Freitas, atribuiu a principal causa do problema à queda de árvores. "O grande vilão desse episódio foi a questão arbórea. Foi a questão da quantidade de árvores que por falta de manejo adequado acabaram caindo sobre a rede. A gente precisa de um plano conjunto de manuseio arbóreo".
"O plano de manejo arbóreo é uma solução das mais baratas, é efetiva e uma coisa que a gente pode fazer imediatamente. Nós vamos estudar um projeto de lei para Assembleia Legislativa para facilitar o esforço das prefeituras", acrescentou.
Governo federal cobra providências
O governo federal também afirmou que irá cobrar providências e explicações da concessionária Enel sobre o apagão. Após determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino, o secretário nacional do Consumidor, Wadih Damous, informou, em sua conta na X, que irá notificar a Enel para prestar informações, no prazo de 24 horas, sobre a regularização do serviço, canais de atendimento aos consumidores, assim como sua ampliação no período de maior demanda, planejamento para enfrentar a situação, minimizar danos e ressarcir os consumidores.
A secretaria, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ainda deve exigir da concessionária um plano de contingência frente a eventos climáticos extremos, "com detalhamento claro das ameaças, resposta imediata ao problema, prazos de conclusão, bem com os recursos e pessoal envolvidos e cronograma de atendimento imediato e a médio prazo".
MP de São Paulo abrirá apuração
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) vai abrir, ainda nessa semana, uma investigação para apurar se houve omissão da concessionária Enel no restabelecimento de energia para os consumidores da Região Metropolitana de São Paulo.
Os promotores paulistas querem saber o motivo pela falta de energia ter afetado tantos consumidores e por tanto tempo. Eles também querem apurar se a Enel tem a quantidade suficiente de empregados para atender as demandas emergenciais nos 24 municípios onde a companhia italiana atua.
A Enel reduziu cerca de 36% dos seus funcionários desde 2019, somando terceirizados e contratados, apesar do aumento de mais de 7% no número de consumidores.
De acordo com dados da Aneel, em 2019 a Enel SP possuía um colaborador para atender a cada 307 clientes em média. Atualmente, a equipe de funcionários tem a responsabilidade de atender a uma média de 511 consumidores por colaborador.
A empresa nega a piora do serviço e afirmou através de nota que "tem trabalhado em tempo recorde".