O que se sabe sobre risco de colapso de uma mina em Maceió
Cidade registra desde 2018 rachaduras e tremores de terra, e milhares já tiveram que deixar suas casas
Os moradores de Maceió estão se preparando para uma possível tragédia: o colapso iminente de uma mina de sal-gema da Braskem.
A Defesa Civil emitiu nesta quinta-feira (30/11) um alerta máximo para moradores do bairro Mutange, que os obrigou a deixar suas casas às pressas - mesmo que sob força policial.
O órgão informou que um colapso da mina 18 pode ocorrer a qualquer momento, e que esse episódio poderia provocar a abertura de uma cratera.
Moradores da região protestaram pela remoção ter sido determinada em cima da hora e com falta de clareza sobre quais serão os próximos passos e se eles receberão indenização da empresa.
Um hospital no bairro Pinheiro, vizinho ao Mutange, também foi evacuado na noite de quinta-feira como precaução. A cidade decretou na quarta-feira situação de emergência. Nesta sexta, o governo federal chancelou a medida. Com isso, a cidade deverá receber repasses federais de forma simplificada.
Como o problema começou
O risco apresentado pelas minas de sal-gema em Maceió já é conhecido há vários anos.
O minério, utilizado para a produção de soda cáustica e PVC, começou a ser extraído da região no final da década de 1970, pela então Salgema Indústrias Químicas S/A, em minas localizadas a cerca de 1.200 metros abaixo da superfície.
Para retirar o minério, a empresa injetava água na camada de sal e extraía a salmoura resultante. Depois, reinjetava líquidos no local para estabilizar o solo. Porém, as minas apresentaram vazamentos.
Em 2018, grandes rachaduras começaram a aparecer no bairro do Pinheiro e tremores de terra foram registrados. No ano seguinte, um órgão do governo federal, o Serviço Geológico do Brasil, confirmou que as minas de sal-gema estavam provocando a instabilidade.
Há, no total, 35 minas na capital alagoana, que foram desativadas em 2019.
Desde junho de 2019, mais de 14 mil imóveis de cinco bairros de Maceió tiveram que ser desocupados devido à instabilidade do solo, criando ruas fantasmas onde antes moravam 55 mil pessoas.
A Braskem vem realizando intervenções para tentar estabilizar as cavernas criadas para extração do minério, mas, em novembro, cinco tremores de terra foram registrados na região.
Qual é o risco no momento
Autoridades locais avaliam que há grande chance de a mina 18, no bairro do Mutange, colapsar a qualquer momento.
O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, afirmou à emissora CNN Brasil que, na manhã desta sexta-feira, a região estava afundando cerca de 5 centímetros por hora. Ele falou que a cidade está próxima de viver "a maior tragédia urbana do mundo em curso".
A mina 18 fica parte sob a lagoa Mundaú e parte sob o bairro do Mutange. A Defesa Civil estima que, no momento em que a mina ceder, uma cratera deverá ser criada e preenchida com águas da lagoa.
É possível também que toda a cidade de Alagoas sinta um tremor de terra no momento do colapso. Mas, segundo o órgão, a magnitude do tremor não deve afetar prédios com estruturas saudáveis.
Como a Braskem se posiciona
A Braskem afirmou em nota que reconhece o crescente risco no local e afirma estar tomando todas as medidas cabíveis para reduzir seu impacto, e que segue monitorando e compartilhando os dados com as autoridades.
Segundo a empresa, os dados atuais de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá ocorrer de forma gradual até a estabilização ou de maneira abrupta.
A empresa vem indenizando os moradores obrigados a se realocar, nos termos de um acordo assinado em janeiro de 2020 com Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de Alagoas, Defensoria Pública da União e Defensoria Pública do Estado de Alagoas.
Segundo a Braskem, em outubro, 17.828 indenizações já haviam sido pagas, e o montante desembolsado em indenizações e auxílios financeiros somava R$ 3,85 bilhões.
bl/le/ra (Agência Brasil, ots)