Onda de calor poderia fazer o horário de verão voltar? Entenda
Aumento na demanda de energia elétrica pode ter como uma das causas as altas temperaturas
A volta do horário de verão gera debate e divide opiniões, especialmente quando é relacionada às altas temperaturas e as ondas de calor que o Brasil tem enfrentado nos últimos meses. O ajuste dos relógios tem como objetivo otimizar o aproveitamento da luz solar durante o dia, e possui seus defensores e críticos.
Entre os aspectos positivos, destaca-se a possibilidade de economia de energia. A ideia é aproveitar o maior período de luminosidade natural, reduzindo a necessidade de iluminação artificial. Isso pode resultar em um consumo menor de eletricidade, o que, por sua vez, impacta positivamente no meio ambiente e nos custos financeiros para o consumidor.
No atual cenário climático, porém, a economia de energia está cada vez menos relacionada ao uso da luz, e vale considerar também o uso de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores, por exemplo, entre outras formas usadas para se refrescar em dias quentes, que usam eletricidade.
Contudo, há quem critique o horário de verão, apontando para possíveis desvantagens, especialmente em regiões onde as temperaturas são naturalmente elevadas. O argumento central é que adiantar os relógios pode aumentar a exposição das pessoas ao calor intenso, sobretudo durante as tardes prolongadas. Isso pode acarretar desconforto, desgaste físico e até mesmo impactar a produtividade no trabalho e estudos.
Para entender os principais prós e contras do horário de verão em meio à onda de calor, e se essa seria uma solução possível no cenário atual do País, o Terra conversou com o conselheiro do Crea-SP e meteorologista Carlos Raupp.
Raupp destaca que a demanda por energia em condições climáticas severas, principalmente devido ao uso generalizado de ar-condicionados em ambientes corporativos, atinge seu pico durante as tardes, justamente quando as temperaturas estão mais intensas. Segundo o conselheiro, o adiantamento em uma hora não seria suficiente para alterar significativamente esse quadro.
“A mudança no horário de verão não deve influenciar as condições climáticas, ou seja, não há um embasamento teórico e científico que leve a crer que o horário de verão vá modificar a dinâmica atmosférica. A única coisa que vai mudar é o horário do máximo e do mínimo da temperatura, mas não vai modificar as condições climáticas e a dinâmica atmosférica”, explica.
Quanto à possibilidade de o horário de verão evitar problemas no abastecimento de energia, o meteorologista ressaltou que a instabilidade observada em algumas cidades, não seria solucionada com essa medida. “Essa instabilidade no abastecimento de energia em algumas cidades se dá devido à sobrecarga em função do pico da utilização de ar-condicionado, principalmente nos setores corporativos, e essa utilização se dá no período da tarde, que é exatamente quando se tem a máxima temperatura. Então, com o horário de verão, eu acredito que não vai mudar esse cenário”.
Conforto térmico
Ao abordar a questão do conforto térmico, Raupp destaca alguns argumentos a favor do horário de verão. Ele menciona que o deslocamento para o trabalho e escola uma hora mais cedo permitiria às pessoas evitar o calor intenso, especialmente pela manhã. Além disso, o conselheiro apontou que o horário de verão poderia proporcionar economia de energia ao aproveitar mais a luz natural durante as atividades cotidianas.
“Um outro argumento a favor do horário de verão é que, como as pessoas iriam para casa num horário mais cedo, na hora solar verdadeira, elas poderiam aproveitar mais a luz natural, a luz do dia, enquanto estiverem em suas casas”, defende.
“Isso, obviamente, levaria a uma economia de energia, acredito que seja a principal razão para se adotar o horário de verão, essa economia de energia relacionada com o maior tempo de utilização da luz natural”.
Dicas
Para um consumo consciente de energia, Carlos Raupp dá algumas dicas, como usar o ar-condicionado e ventiladores de forma consciente, além de adotar hábitos como banho frio nos dias mais quentes.
“Não utilizar o ar-condicionado no máximo, ou seja, na mínima temperatura, utilizar numa temperatura adequada, que permita um conforto térmico. Com relação ao uso de ventiladores em casa, utilizar o ventilador somente quando estiver alguém naquele ambiente, então, quando sair do ambiente pode desligar. O calor intenso é uma boa oportunidade para você economizar o uso do aquecedor, você pode tomar, por exemplo, banho frio e economizar energia associada com o uso do aquecedor”, diz.
O meteorologista também faz um alerta para que a população se cuide nos dias mais quentes, e evite problemas de saúde.
“Evitar a exposição ao sol no período das 10 da manhã às 4 da tarde, e se realmente precisar se expor, utilizar o protetor solar, evitar realizar exercícios físicos nesse período e caprichar na hidratação”, recomenda.
Frente fria
Carlos Raupp diz que há previsão para a chegada de uma frente fria nos próximos dias, que pode tirar a intensidade da onda de calor a partir deste fim de semana. “Na próxima semana, essa massa de ar quente e seco deve perder intensidade e abrangência”.
“Porém, como as previsões climáticas indicam aí que esse El Niño vai continuar se intensificando até o mês de janeiro, passando a se desintensificar a partir de então, mas continuando a atuar ao longo aí do primeiro semestre de 2024, é possível que nesse verão ocorram outras ondas de calor, principalmente no centro-norte e no nordeste do Brasil”, completa.