ONU alerta para elevação do nível do Pacífico acima da média
Ilhas do Pacífico são as mais expostas às elevações dos mares causadas por aquecimento global e derretimento de geleiras.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, emitiu nesta terça-feira (27/09) um alerta global sobre os efeitos das mudanças climáticas nos mares e nas populações litorâneas, sobretudo no Oceano Pacífico.
Guterres fez seu apelo climático na ilha de Tonga, na Oceania, em uma reunião do Fórum das Ilhas do Pacífico - cujos países membros estão entre os mais ameaçados por eventos como a elevação do nível dos mares.
"Estou em Tonga para emitir um SOS global - Save Our Seas ["Salvem nossos Mares"] - sobre o aumento do nível do mar. Uma catástrofe mundial está colocando este paraíso do Pacífico em perigo", afirmou.
A elevação dos mares é uma crise inteiramente criada pela humanidade, diz Secretário-geral da ONU
(Foto: Getty Image)
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão de monitoramento climático das Nações Unidas, divulgou na segunda-feira (26/08) relatório sobre o agravamento do aumento do nível do mar, motivado pelo aquecimento global e consequente derretimento de camadas de gelo e geleiras.
O documento destaca como a elevação do mar no Oceano Pacífico é maior que a média global, sobretudo em ilhotas, onde a população está mais exposta. Isso acontece porque o gelo derretido do oeste da Antártica vai para o Pacífico, por ser um oceano com águas mais quentes e por causa das correntes oceânicas, segundo a OMM.
"Devido ao aumento do nível do mar, o oceano está deixando de ser um amigo de longa data em uma ameaça crescente", afirma Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
A organização também aponta que o sudoeste do Pacífico é prejudicado também por outros efeitos das mudanças climáticas, como a acidificação dos oceanos e ondas de calor marinhas.
"Esta é uma situação insana", disse Guterres. "A elevação dos mares é uma crise inteiramente criada pela humanidade. Uma crise que em breve atingirá uma escala quase inimaginável, sem nenhum bote salva-vidas para nos levar de volta à segurança."
Pequenos emissores são os mais ameaçados
Pouco povoadas e com poucas indústrias pesadas, as ilhas do Pacífico emitem, em conjunto, menos de 0,02% das emissões globais de gases do efeito estufa a cada ano.
A grande maioria das pessoas que vive no Pacífico Sul está a menos de cinco quilômetros da costa, de acordo com as Nações Unidas. A elevação dos mares está engolindo terras e contaminando fontes de alimentos e água.
A OMM tem monitorado os medidores de maré instalados nas praias da região desde o início da década de 1990. Em seu relatório divulgado esta semana, a organização mostrou que os mares subiram cerca de 15 centímetros em algumas partes do Pacífico nos últimos 30 anos. A média global foi de 9,4 centímetros, de acordo com o documento.
"É cada vez mais evidente que rapidamente estamos ficando sem tempo para mudar a maré", disse a principal autoridade da agência de monitoramento, Celeste Saulo.
Alguns locais, especialmente em Kiribati e nas Ilhas Cook, mediram um aumento que se igualou ou ficou abaixo da média global. No entanto, outros locais, como as capitais de Samoa e Fiji, registraram um aumento quase três vezes maior.
Em Tuvalu, nação de baixa altitude do Pacífico, a terra já é tão escassa que crianças usam a pista do aeroporto internacional como seu próprio playground improvisado.
Os cientistas encarregados desse monitoramento alertam que, mesmo nos cenários mais moderados, Tuvalu pode ser quase totalmente varrida do mapa nos próximos 30 anos.
"É desastre atrás de desastre, e estamos perdendo a capacidade de reconstrução, de resistir a outro ciclone ou outra inundação", afirmou à agência AFP o ministro do Clima de Tuvalu, Maina Talia, à AFP na segunda-feira, nos bastidores da cúpula.
Durante a cúpula, as nações do Pacífico estudam meios de pressionar países poluidores a reduzir as emissões de carbono e financiem programas de adaptação climática.
"A necessidade de financiamento para perdas e danos existe hoje, e os custos só aumentarão se não houver uma ação climática urgente agora", disse Rosanne Martyr, pesquisadora do instituto de políticas Climate Analytics.