Outono é mais quente que a média e tem recorde histórico de chuvas, dizem especialistas
Estação atípica foi marcada por enchentes no Sul e ondas de calor pelo País
O outono de 2024 foi marcado por temperaturas mais altas, consideradas atípicas para esta época do ano, além de recordes de chuvas em várias regiões do Brasil, como a tragédia no Rio Grande do Sul durante o mês passado. Meteorologistas ouvidos pelo Terra afirmam que a combinação do El Niño com o aquecimento global foi um fator determinante para as anomalias climáticas desta estação. O inverno chega a partir da quinta-feira, 20.
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No Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, a estação teve calor e tempo mais seco que de costume, segundo o professor da USP e meteorologista Micael Cecchini: “O outono foi atípico, sim, nesse ano. As temperaturas foram mais quentes que o normal.”
Ele destaca que a média das temperaturas máximas em São Paulo foi significativamente mais alta que a média histórica dos últimos 30 anos. "Em março, abril e maio, registramos temperaturas máximas de 29,3°C, 29,9°C e 27,1°C, respectivamente, cerca de dois graus acima do esperado" explica.
Cecchini também atribui o aumento das temperaturas ao El Niño, que tende a elevar a pressão do sistema de alta pressão no Atlântico e no Sudeste e Centro-Oeste, bloqueando a passagem de frentes frias que trariam chuva e aliviariam o calor. "Esse padrão era esperado, considerando os efeitos do El Niño", completa.
Chuva excessiva e enchentes no Sul
Enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste enfrentaram calor e seca no outono, o Sul do Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul, sofreu com chuvas intensas e enchentes que deixaram milhares de desabrigados.
A meteorologista do MetSul Estael Sias destaca que o Rio Grande do Sul teve uma chuva "excepcional" durante abril e maio, causando uma catástrofe climática na região. "A temperatura ficou acima da média e a chuva foi muito acima do normal, especialmente na metade norte e leste do estado", relata.
Sias explica que o El Niño, em combinação com o aquecimento dos oceanos, foi um dos principais fatores por trás das enchentes. "O oceano quente significa mais vapor d'água na atmosfera, mais umidade para formar fenômenos atmosféricos extremos", comenta. Ela ressalta que, apesar da indicação de um outono atípico devido ao El Niño, a intensidade e a abrangência das chuvas superaram as expectativas.
Ao todo, 173 pessoas morreram e 806 ficaram feridos durante a tragédia no Rio Grande do Sul. O Estado teve 478 cidades afetadas pela catástrofe e mais de 600 mil chegaram a ficar desabrigados durante o período mais intenso das chuvas.
Impacto das mudanças climáticas
Tanto Cecchini quanto Sias concordam que as mudanças climáticas estão intensificando e aumentando a frequência de eventos extremos. "Os últimos cinco anos têm mostrado uma alta frequência de eventos extremos", observa Sias. Ela menciona que o aquecimento global está tornando o planeta e os oceanos mais quentes, contribuindo para eventos climáticos mais severos e frequentes tanto no Brasil quanto em outros países.
Cecchini também diz que estamos presenciando uma "escalada de eventos extremos," com áreas cada vez maiores sendo impactadas. Ele afirma que o El Niño deste ano, apesar de não ter sido o "super El Niño" previsto inicialmente, teve efeitos tangíveis, piorando a seca no Centro-Oeste e Sudeste e as chuvas no Sul.
Como será o inverno?
Com o fim do outono, as previsões para o inverno indicam que o El Niño está se dissipando, e há uma expectativa de transição para o La Niña, que tem efeitos opostos.
"Pode ser que o inverno ainda seja mais quente e seco do que o normal, mas com tendência de normalização na primavera", prevê Cecchini. Ele também alertou para a continuidade de temperaturas altas e risco de queimadas no Pantanal devido à persistente seca.