Recorde de chuvas e 50 alertas vermelhos: temporal no RS superou média histórica
Em algumas cidades, choveu o volume de três meses em poucos dias
Mais de uma semana depois do início dos temporais que provocaram mortes e estragos no estado, o Rio Grande do Sul ainda possui mais de 50 alertas vermelhos em vigor por causa do grande volume de chuvas. Os avisos foram emitidos na segunda-feira, 6, pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), responsável por monitorar o Brasil com mais de três mil pluviômetros.
"Se a gente olha o evento como um todo -- o tamanho da área, o número de municípios, o número de bacias e um número que é evidente para todo mundo, a altura do Rio Guaíba ali em Porto Alegre, que chegou a 5 metros e 33 centímetros, quando o recorde anterior era 4,75 metros, em 1941 --, dá para se considerar esse desastre como sendo o maior desastre climático do estado do Rio Grande do Sul na história", afirma o meteorologista e pesquisador do Cemaden, Giovanni Dolif.
De acordo com a última atualização do Governo do Rio Grande do Sul, ao menos 83 mortes foram confirmadas e mais de 100 pessoas estão desaparecidas, em 364 municípios gaúchos. Para prevenir tragédias como esta, Dolif vê como fundamental a participação das defesa civis nacional, estaduais e municipais nos fóruns acadêmicos de discussão, para debater a elaboração de planos de resposta.
Até porque, segundo aponta o Cemaden, há possibilidade muito alta de novas ocorrências hidrológicas, devido à permanência das inundações. O cenário vale para a Região Metropolitana de Porto Alegre, e as regiões noroeste, nordeste, sudeste, sudoeste, centro-oriental e centro-ocidental do estado. Ainda segundo o órgão, todas as bacias hidrográficas destas regiões seguem em situação crítica, acima da cota de alerta ou de transbordamento.
Volumes de chuva
Entre 29 de abril e 2 de maio, a capital do estado, Porto Alegre, teve um volume de chuva de 258,6 milímetros. Esse valor corresponde a mais de dois meses de chuva, quando comparado à normal climatológica dos meses de abril (114,4 milímetros) e de maio (112,8 milímetros), de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Até o dia 2, as estações do Inmet que mais registraram chuva eram Soledade, com 488,6 milímetros; Santa Maria, com 484,8 milímetros; e Canela, com 460 milímetros. Em mais de um século de observação, a estação meteorológica convencional de Santa Maria teve recorde de chuva em 24h, com acumulado de 213,6 milímetros, no dia 1º de maio.
O recorde anterior, de 182,3 milímetros, ocorreu em junho de 1944. Se considerada a medição de três dias, o volume de chuva na cidade chegou a 470,7 milímetros, o que corresponde a três meses de chuva, conforme a média observada pelo Inmet.
Segundo o meteorologista Henrique Repinaldo, do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel), as médias históricas, tanto por mês de abril como por mês de maio, giram em torno dos 140, 150 até 200 milímetros, no Rio Grande do Sul, podendo variar um pouco mais em algumas regiões. No entanto, desta vez a diferença foi expressiva.
"A gente teve, em poucos dias, especialmente na metade norte do estado, em torno de 400, 500 milímetros de chuva. Em alguns lugares, inclusive, chuvas acima de 700 milímetros", afirma.
Problema recorrente
Há menos de um ano, o Rio Grande do Sul havia sofrido a que era considerada a maior tragédia climática da sua história. Em setembro do ano passado, a passagem de um ciclone, junto com temporais e ventania, deixou ao menos 41 mortos e 46 desaparecidos. Na época, o estado ainda se recuperava de outra tragédia climática, quando, em junho do mesmo ano, um outro ciclone fez 16 vítimas.
Repinaldo afirma que, em relação às chuvas do ano passado, em especial a que ocorreu no Vale Taquari, o temporal deste mês tem dimensão maior porque se espalhou por muitas regiões da metade norte do Rio Grande do Sul. Em 2023, o temporal se restringiu à região do Vale do Taquari, mas, desta vez, 345 municípios foram afetados, o que representa 850.422 pessoas impactadas pelas chuvas de alguma maneira.
"E toda essa água acaba sendo canalizada pelos rios das regiões, das serras, dos vales, e acaba também desaguando toda no Rio Guaíba. E o Guaíba acaba represando bastante dessa água, liberando aos poucos em direção à Lagoa dos Patos. Então, nesse caso, em termos de volume atingido uma determinada área, foi muito maior do que o da tragédia de Taquari no ano passado", continua Repinaldo.
Com nova previsão de chuva e uma frente fria para esta semana, o estado continua sob alerta. Além de novas pancadas, os termômetros em cidades gaúchas devem apresentar queda de mais de 10ºC na temperatura entre esta terça, 7, e quarta-feira, 8.
"É preciso haver um avanço bastante grande nessa questão de monitoramento, e também na parte de manejo dessas pessoas que vivem em áreas de risco. Então, deve ser feito um grande mapeamento de áreas de risco no Rio Grande do Sul, considerando já esses novos normais de chuva que a gente vem observando, e fazer uma movimentação dessas áreas de risco, levar essas pessoas para áreas que dificilmente serão inundadas", sugere Repinaldo.
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