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Relatório alerta sobre pontos de não retorno no clima

Pesquisa adverte que mudança climática ameaça danificar de modo irreversível cinco ecossistemas globais e que Humanidade enfrenta um risco sem precedentes.

8 dez 2023 - 01h44
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Cinco principais ecossistemas naturais estão ameaçados de danos possivelmente irreversíveis devido ao atual aquecimento global, alertam pesquisadores no Global Tipping Points Report (Relatório global de pontos de inflexão), publicado nesta quarta-feira (06/12) durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), realizada em Dubai até 12 de dezembro de 2023.

Foto: Climatempo

Baixo nível de água em Shasta Lake, Califórnia devido à seca em julho de 2021 (Foto: Getty Images)

Na pesquisa climática, "pontos de inflexão" são definidos como momentos em que, por meio de pequenas mudanças, é desencadeado um efeito dominó, cujas consequências podem ser impossíveis de reverter. Esse conceito, juntamente com as incertezas associadas a ele, vêm sendo intensamente discutidos pela comunidade científica.

Segundo o relatório, a Humanidade enfrenta um risco "sem precedentes" de atingir pontos de inflexão que podem desencadear um efeito dominó de catástrofes planetárias irreversíveis.

O relatório foi preparado por uma equipe internacional de mais de 200 pesquisadores, sob coordenação da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e do Bezos Earth Fund.

"Cinco grandes sistemas já correm o risco de ultrapassar seus pontos de inflexão com o atual aquecimento global", alertou o Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK, na sigla em alemão), sediado na Alemanha e que esteve envolvido no relatório.

Esses sistemas são os mantos de gelo da Groenlândia e o da Antártida Ocidental, o giro oceânico subpolar do Atlântico Norte, recifes de coral de águas quentes e algumas áreas de permafrost.

"Se o aquecimento global aumentar 1,5°C, florestas boreais, manguezais e prados marinhos podem se tornar mais três sistemas adicionais a estarem ameaçados na década de 2030", afirma o PIK.

Se vários pontos de inflexão forem superados, haveria também o risco uma perda catastrófica da capacidade de cultivar plantas para produção de alimentos básicos, alertam os autores do relatório.

"Sem uma ação urgente para deter a catástrofe climática e ecológica, as sociedades poderão ser afetadas no caso de a natureza sair do controle", alertou a Universidade de Exeter, em comunicado.

Dado que a resposta dos governos de todo o mundo não é suficiente, os pesquisadores apresentam seis recomendações para evitar pontos de inflexão negativos e até mesmo iniciar pontos de inflexão positivos.

As seis recomendações incluem a interrupção das emissões provenientes de combustíveis fósseis e do uso da terra muito antes de meados do século.

Pontos de inflexão positivos como solução

Além disso, as consequências negativas devem ser mitigadas entre os grupos populacionais e países mais fortemente afetados. Também são necessários, segundo os cientistas, esforços coordenados para desencadear pontos de inflexão positivos e aumentar a consciência em relação aos pontos de inflexão.

Exemplos de pontos de inflexão positivos incluem a expansão das energias renováveis e a mudança para a eletromobilidade. "Uma cascata de pontos de inflexão positivos salvaria milhões de vidas, evitaria o sofrimento de bilhões de pessoas e evitaria triliões de dólares em prejuízos, além de dar início a uma restauração da natureza da qual todos dependemos", alerta a universidade britânica.

Novembro de temperaturas recorde

Após recordes seguidos em junho, julho, agosto, setembro e outubro, o mês passado foi o novembro mais quente já registrado no planeta, afirmou nesta quarta-feira (06/12) o Serviço Copernicus para Mudança Climática (C3S), tendo apresentado uma temperatura média global de 14,22°C, e 0,32°C acima do recorde anterior para o mês, estabelecido em novembro de 2020. O C3S aponta também que 2023 será o ano mais quente já medido na Terra.

Novembro de 2023 foi também 1,75°C mais quente do que a média de novembro do período 1850-1900, que corresponde à era pré-industrial.

O outono boreal (setembro a novembro no Hemisfério Norte) é assim o mais quente da história, com 15,30°C, ou seja, "uma ampla margem" de 0,88°C acima das médias.

"O ano de 2023 tem agora seis meses recordes e duas estações recordes. Este extraordinário mês de novembro, que inclui dois dias com temperaturas dois graus acima dos níveis pré-industriais, significa que 2023 é o ano mais quente já registrado na história", afirmou a diretora adjunta do Serviço de Alterações Climáticas do Copernicus (C3S), Samantha Burgess, em comunicado.

Desde janeiro, a temperatura média tem sido a mais quente já medida nos primeiros 11 meses do ano: 1,46°C acima da média climática para o período 1850-1900 e 0,13°C acima dos primeiros 11 meses de 2016, o ano mais quente até à data.

"Temperaturas continuarão subindo"

"Enquanto as concentrações de gases de efeito estufa continuarem a aumentar, não devemos esperar resultados diferentes dos observados este ano. As temperaturas continuarão a subir, tal como os efeitos das ondas de calor e das secas", advertiu o diretor do C3S, Carlo Buontempo, citado no comunicado.

O fenômeno climático cíclico El Nino sobre o Pacífico Equatorial vai continuar potencializando o aumento das temperaturas em 2023, mas ainda não atingiu o seu pico.

Em novembro de 2023, a temperatura à superfície dos oceanos foi também a mais quente para esta época do ano, 0,25°C mais alta do que no pico anterior, em novembro de 2015. Este novo recorde de calor vem juntar-se a outras máximas registradas todos os meses desde abril.

A extensão do bloco de gelo no Ártico, no norte, registrou o seu 8.º mínimo mensal para novembro, 4% abaixo da média. Na Antártida, foi registrado o segundo nível mais baixo para um mês de novembro, 9% abaixo da média, segundo o Copernicus.

A seca continuou no mês passado em várias regiões dos Estados Unidos, da Ásia Central e Oriental, e foi particularmente pronunciada na América do Sul, onde tem afetado a Amazônia.

Este conteúdo é uma obra originalmente publicada pela agência alemã DW. A opinião exposta pela publicação não reflete ou representa a opinião deste portal ou de seus colaboradores

Climatempo
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