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Tempestade Akará: entenda os riscos de fenômeno considerado raro no Brasil; veja imagens

Sistema, que se transformou em tempestade tropical no fim de semana, enfraqueceu na noite de terça-feira, 20, e foi reclassificado como depressão tropical; já não atua mais sobre o Brasil

20 fev 2024 - 10h18
(atualizado em 22/2/2024 às 13h52)
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Um ciclone considerado raro na costa brasileira, que voltou a ser considerado como uma depressão tropical, já não atua mais sobre o Brasil. Ao longo do último fim de semana, ele fez a transição de subtropical para tropical antes de se tornar tempestade e ser nomeado no domingo, 18, como Akará, espécie de peixe em Tupi antigo, em nomenclatura dada pela Marinha do Brasil. O fenômeno permaneceu enfraquecendo na quarta-feira, 21, e nesta quinta-feira, 22, já não estava mais presente.

O sistema começou a perder força durante a noite de terça-feira, 20. Na análise técnica da Marinha do Brasil, Akará já era considerado uma depressão tropical. Na quarta, permaneceu enfraquecido até desaparecer completamente. Ele não chegou a ser reclassificado como uma depressão subtropical, como havia sido estimado anteriormente.

Akará não tem relação com fortes chuvas que atingem o País

Ainda de acordo com a Climatempo, a tempestade tropical Akará não teve influência direta na chuva nem em ventos fortes que possivelmente atingiram continente.

"Os temporais são das nuvens cumulonimbus, que provocam fortes pancadas de chuva e que crescem fartamente sobre o País por causa da grande disponibilidade de ar quente e úmido. Mas, o fenômeno causa ventos fortes sobre o oceano e isso deixa o mar agitado na costa do Sul e do Sudeste do País e os navegantes precisam ficar atentos aos avisos da Marinha do Brasil", acrescenta a Climatempo.

Uma tempestade tropical é o último estágio de desenvolvimento abaixo de um furacão. "Não há expectativa que Akará se intensifique mais e se transforme em um furacão", afirma a empresa de meteorologia.

Este foi o primeiro ciclone a ser nomeado no Brasil desde a tempestade subtropical Yakecan, em maio de 2022.

Entenda como ocorreu a transição de subtropical para tropical, segundo o meteorologista Guilherme Borges:

  • 14 de fevereiro: a Marinha do Brasil emitiu o alerta para a previsão do ciclone subtropical na noite do dia 14.
  • 15 de fevereiro: inicialmente o ciclone passou pelo estágio de uma depressão subtropical, com ventos menores do que 63 km/h e pressão atmosférica mínima de 1010 hPa. Ele foi identificado pela Marinha do Brasil como um ciclone em alto-mar, na costa do Rio de Janeiro, na altura de Arraial da Cabo, a pouco mais de 200 km afastado do continente. Com formação na noite de quinta-feira, 15, o ciclone subtropical continuou ganhando força em alto-mar, na costa do Rio de Janeiro.
  • 16 de fevereiro: o sistema se manteve como depressão subtropical, ainda na costa do Rio de Janeiro, e à noite a pressão atmosférica mínima foi de 1008 hPa. Havia a expectativa que a depressão subtropical se transformasse em tempestade subtropical na noite de sexta-feira, 16.
  • 17 de fevereiro: o sistema se manteve como depressão subtropical, na altura da costa sul do Rio de Janeiro, deslocando-se para o sul em direção à costa de São Paulo. A pressão atmosférica mínima foi de 1006 hPa na análise da Marinha do Brasil, por volta das 9 horas da manhã (horário de Brasília).
  • 18 de fevereiro: na manhã de domingo, o sistema ganhou força e foi reclassificado como depressão tropical na altura da costa de São Paulo, com a pressão atmosférica mínima no centro em 1002 hPa. Como depressão tropical, este ciclone produzia ventos ainda menores do que 63 km/h. No entanto, na noite de domingo, na análise meteorológica da Marinha do Brasil de 21 horas (horário de Brasília), o ciclone se intensificou um pouco mais, com ventos mais fortes, e foi reclassificado como tempestade tropical, recebendo o nome de Akará. A pressão atmosférica mínima era de 1000 hPa e sistema estava em alto-mar, na altura do litoral sul de São Paulo e do Paraná, com ventos estimados entre 63 km/h e até valores menores do que 118 km/h.
  • 19 de fevereiro: seguindo para a região Sul, a tempestade tropical Akará foi observada em alto-mar, na costa de Santa Catarina, com pressão atmosférica mínima de 998 hPa, com ventos entre 63 km/h e até valores menores do que 118 km/h. Por ser tropical, os ventos se intensificam. Com esse limiar mais forte (lá, no oceano), o fenômeno, segue em alto mar, trazendo apenas uma leve agitação marítima na costa do Sul e Sudeste, sem impactos no continente, como já mencionado anteriormente;
  • 20 de fevereiro: permaneceu atuando sobre a região Sul, sem se aproximar efetivamente do continente. No fim da noite, a tempestade Akará voltou a ser considerada como uma depressão tropical. Expectativa é que enfraqueça ainda mais;
  • 21 de fevereiro: sistema permaneceu enfraquecido na costa Sul do País;
  • 22 de fevereiro: já não atuava sobre o Brasil.

Havia risco de se tornar um furacão?

Assim como a Climatempo, a Metsul também avaliou que não havia risco de evolução para um furacão.

A tendência é que continuaria seguindo rumo ao Sul, longe do continente, até se dissipar totalmente, não oferecendo perigo em terra firme. Embora sem causar consequências no continente, Akará proporcionou o registro de algumas imagens de satélite na segunda-feira, 19, conforme divulgou a Metsul.

Por que a tempestade foi batizada de Akará?

Apenas as tempestades tropicais e subtropicais recebem um nome e somente a Marinha do Brasil batiza estas baixas pressões atmosféricas especiais", disse a empresa de meteorologia Climatempo. Enquanto o ciclone permanece como depressão tropical ou subtropical não é dada uma nomenclatura para ele.

Segundo o meteorologista Guilherme Borges, no início de 2023, a Marinha listou os possíveis nomes dos próximos eventos, que incluia Akará (espécie de peixe), Biguá (ave marinha), Caiobá (habitante da mata), Endy (luz do fogo) e Guarani (guerreiro).

O Akará é o nome indígena do acará, espécie de peixe de rio encontrado na região amazônica e em outros rios do Brasil. "Conhecido por sua carne saborosa, o Akará é frequentemente utilizado na culinária local, preparado de várias maneiras, como frito, assado, cozido ou em ensopados. Além disso, é apreciado por sua carne branca e firme", explica o meteorologista.

Classificação dos ciclones, segundo a Marinha do Brasil:

  • Ciclones extratropicais: formam-se em latitudes altas, médias ou subtropicais e possuem núcleo frio em toda sua extensão vertical;
  • Ciclones tropicais: formam-se próximo ao Equador e possuem núcleo quente em toda sua extensão vertical;
  • Ciclones subtropicais: formam-se em latitudes subtropicais, tendo núcleo quente mais próximo a superfície e núcleo frio mais alto na atmosfera.

Entenda as diferenças entre depressão tropical e tempestade tropical, conforme a Climatempo:

  • Depressão tropical é uma área de baixa pressão atmosférica com ventos máximos sustentados de até 63 km/h;
  • Tempestade tropical é uma perturbação atmosférica mais organizada, com ventos máximos sustentados entre 63 km/h e 118 km/h e com pressão interna inferior à depressão subtropical. A pressão interna de uma tempestade tropical normalmente pode cair para valores em torno de 990 milibares ou menos, dependendo da intensidade da tempestade.

Por que os ciclones tropicais e subtropicais são raros no Brasil?

Ciclones subtropicais e tropicais precisam de três ingredientes básicos para a sua formação: alta temperatura da superfície do mar, muita umidade próximo da superfície, e um ciclone frio ocorrendo também nos médios níveis da atmosfera (em cerca de 5 km de altura).

"Não é sempre que a temperatura da superfície do mar está suficientemente alta, não é sempre que existe umidade suficiente na região e não é sempre que um ciclone frio ocorre a 5 km de altura. Então, a ocorrência destes três fatores, ao mesmo tempo, e em posições favoráveis, não é muito comum. Por isso estes sistemas são raros", explica a Climatempo.

Já os ciclones extratropicais, por outro lado, são bem comuns porque seus ingredientes fundamentais (variação de temperatura na horizontal perto da superfície e frentes frias ocorrem constantemente na atmosfera, de acordo com a empresa de meteorologia.

Veja a lista de tempestades tropicais e subtropicais registradas desde 2011 pela Marinha do Brasil:

Antes da tempestade tropical Akará, neste período, somente uma delas tinha sido registrada como tempestade tropical, no caso batizada de Iba.

Entre 14 e 16 de fevereiro de 2021, um ciclone permaneceu apenas como depressão subtropical, não recebendo nome. Outra depressão subtropical também foi registrada entre os dias 6 e 9 de janeiro de 2023, acrescentou a Climatempo.

  • Arani - tempestade subtropical - 14 a 16 de março de 2011;
  • Bapo - tempestade subtropical - 5 a 8 de fevereiro de 2015;
  • Cari - tempestade subtropical - 10 a 13 de março de 2015;
  • Deni - tempestade subtropical - 15 a 16 de novembro de 2016;
  • Eçaí - tempestade subtropical - 4 a 6 de dezembro de 2016;
  • Guará - tempestade subtropical - 9 a 11 de dezembro de 2017;
  • Iba - tempestade tropical - 23 a 28 de março de 2019;
  • Jaguar - tempestade subtropical - 19 a 22 de maio de 2019;
  • Kurumí - tempestade subtropical - 23 a 25 de janeiro de 2020;
  • Mani - tempestade subtropical - 25 a 27 de outubro de 2020;
  • Oquira - tempestade subtropical - 27 a 30 de dezembro de 2020;
  • Potira - tempestade subtropical - 19 a 24 de abril de 2021;
  • Raoni - tempestade subtropical - 28 de junho a 1º de julho de 2021;
  • Ubá - tempestade subtropical - 9 a 12 de dezembro de 2021;
  • Yakecan - tempestade subtropical - 16 a 19 de maio de 2022.

Em 2004 um furacão atingiu o Estado de Santa Catarina, deixando mais de 27,5 mil moradores desalojados, quase 36 mil casas danificadas, 518 feridos e 11 mortos. Os prejuízos chegaram a R$ 1 bilhão. Na ocasião ainda não havia nenhuma opção de nome a ser atribuído aos fenômenos desta natureza, e o furacão foi chamado Catarina. Depois da passagem dele, a Marinha decidiu criar uma lista.

Já Anita foi uma tempestade subtropical que se originou perto do litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina entre 8 e 12 de março de 2010, segundo a Climatempo.

Estadão
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