Vermes ‘guerreiros’ se alimentam de sangue e destroem ‘inimigo’ de castas diferentes
Trematódeos são pequenos parasitas que criam uma sociedade organizada e tem até exército para proteger suas castas
Uma dupla de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, nos Estados Unidos, estudaram os vermes parasitas que infectam lesmas do mar e descobriram que eles se reproduzem em larga escala, alimentam-se do sangue e destroem indivíduos da mesma espécie para proteger suas colônias. O estudo foi realizado com o tipo Himasthla B, uma espécie de trematódeos, com um elevado grau de organização social, tais como as abelhas e formigas.
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De acordo com a revista eletrônica de ciência Words Side Kick, essas criaturas são ovais e achatadas, e usam suas bocas para sugar o sangue do hospedeiro. Embora seus cérebros consistam em uma aglomerado de células nervosas, essas espécies conseguem formar sociedades complexas, com exércitos permanentes e castas de indivíduos reprodutores
Rápidos e ferozes
Durante as análises, os cientistas perceberam que esses parasitas se clonaram repetidas vezes, atingindo números que chegam a 40% da massa de suas vítimas. Além das primárias, formas secundárias foram descobertas, que são menores e mais finas, e possuíam bocas maiores, que usavam como armas.
“Esses soldados ágeis defendem a colônia de vermes dos invasores”, afirmou o pesquisador Ryan Hechinger, zoólogo da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. “A outra casta consiste em reprodutivos, que são lentas, grandes, parecidas com caracóis, especializadas na criação de descendentes”, explica.
O ‘guerreiros’ tem 0,5 a 4% do tamanho de seus criadores, mas suas bocas são aproximadamente do mesmo tamanho que os seus conterrâneos maiores. Enquanto os criadores mal se moviam, os ‘lutadores’ eram muito ativos e se contorciam cerca de cinco vezes mais.
Em experimentos, esse exército atacou sete espécies diferentes de trematódeos 100% das vezes, “rasgando seus corpos ou comendo-os inteiros”. Eles também atacaram trematódeos da mesma espécie de outras colônias em outros hospedeiros quase o tempo todo.
“Nós nos divertimos muito realizando os experimentos de ataque no laboratório. Era semelhante àqueles jogos infantis e programas de TV, onde você coloca coisas diferentes umas contra as outras. Às vezes, quando colocamos soldados contra soldados de diferentes colônias, a cena lembrava uma verdadeira batalha real - trematódeos mordendo trematódeos, sacudindo os inimigos no ar. A principal diferença é que eles não se jogam. Quando mordem, eles não se soltam”, disse Hechinger.
Ouvido pelo Terra, o biólogo Luiz Eduardo dos Santos conta que quando estão duas colônias diferentes no mesmo hospedeiro, ocorrem deles se matarem. “É meio que uma disputa, são feitos para isso, para proteção. Eles têm o corpo mais achatadinho, mais fininho, para ter uma mobilidade maior. Porém, a boca deles é semelhante à dos produtores, para conseguir combater os outros”, explica.
A descoberta dos cientistas aponta também que esses guerreiros eram muito mais comuns em lugares outros vermes da espécie tinham maior probabilidade de invadir. Conforme o estudo, os guerreiros não se reproduzem --nenhum dos 173 guerreiros inspecionados pelos cientistas tinha embriões dentro deles, enquanto 96% dos 143 criadores tinham.
Os criadores e os guerreiros têm o mesmo gene, conforme aponta o estudo, e isso explica porque estão dispostos a lutar e morrer por seus companheiros. “Mesmo que não se reproduzam, ainda ajudam a garantir que a sua linhagem genética continue”, aponta o zoólogo da UCSB.
Os pesquisadores suspeitam que a formação de castas é provavelmente generalizada entre as cerca de 20 mil espécies de trematódeos e já encontraram evidências em cinco outras espécies, incluindo as de caracóis marinhos no Golfo Pérsico, no Japão e no oeste da América do Norte.
No entanto, há ainda há questões sem respostas. "Quão extensas são as castas de soldados entre as 20 mil espécies de trematódeos? Os soldados surgirão onde prevemos, em situações em que a invasão é mais intensa? As castas de soldados podem ser induzíveis? Isto é: as colônias podem fortalecer as forças quando estão sob níveis de ataque mais elevados? “Como exatamente as castas são formadas? Como os vermes se comunicam? Como os soldados reconhecem os soldados da mesma ou de diferentes colônias?”, questiona.
Isso deverá ser respondido em um trabalho futuro e essas descobertas também podem ajudar a evitar que esses vermes parasitas infectem humanos ou animais de criação, que infectam vasos sanguíneos, fígado e pulmões. Inclusive, Hechinger salienta que os trematódeos dependem dos moluscos como hospedeiros intermediários antes de passarem para outros hospedeiros, como a espécie humana.
Doenças em humanos
Nos humanos, a mais comum causada por esses vermes é a esquistossomose, mais conhecida como “barriga d’água”, e podem infectar o fígado, pulmões e intestinos. O biólogo Luiz Eduardo explica que os trematódeos desenvolvem sistemas de defesa complexos para sobreviver no sistema imunológico, se adaptando a diferentes ambientes e hospedeiros, facilitando sua disseminação.
“Alguns trematódeos revestem-se de proteínas do hospedeiro, tornando-se ‘invisíveis’ ao sistema imunológico. Alteram sua forma ou comportamento para evitar o ataque imunológico, secretam enzimas que degradam as defesas do hospedeiro, facilitando a invasão”, afirma.
Segundo ele, os ciclos de vida que envolvem múltiplos hospedeiros e estágios ajudam a evitar a erradicação total desses parasitas, e a superfície de seu corpo é adaptada para resistir a ataques do sistema imunológico.