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Viagem sustentável: café do interior de São Paulo vai para a Europa em navio à vela

Vento também gera energia eólica, que é armazenada em baterias e alimenta toda a operação da embarcação

15 nov 2024 - 00h00
(atualizado às 03h10)
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Cerca de 600 toneladas de café produzidas no interior de São Paulo estão sendo exportadas para a Europa em um navio à vela. Mais de um século depois da aposentadoria dos grandes veleiros de carga, o navio Artemis está ancorado no Porto de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, para receber o carregamento de 700 pallets totalizando 9.800 sacas de café. Serão embarcadas também algumas sacas contendo semente de cacau brasileiro para uma indústria europeia de chocolates.

Chama a atenção o conjunto de velas do Artemis, que foi fabricado no Vietnã e saiu direto do estaleiro para o porto paulista. São 3 mil metros quadrados de velas esticadas a partir de dois mastros fincados no convés, o principal com 65 metros de altura. O conjunto é operado por joysticks direto da cabine de comando. O vento também gera energia eólica com o movimento das velas.

A energia limpa é armazenada em baterias e alimenta toda a operação do navio, como painéis de comando, equipamentos e iluminação. Apenas quando a calmaria é muito severa, e não há vento suficiente para inflar as velas, a embarcação utiliza motor a combustão. O navio deve partir nos próximos dias. A previsão é de que a viagem pelo Atlântico até o Porto Le Havre, na França, demore três semanas.

A empresa francesa Towt, dona do veleiro, disse em rede social que o cargueiro chegou ao Brasil depois de navegar "com o vento em popa pelos alísios do Oceano Índico", tendo chegado com quase uma semana de antecedência. O veleiro evitou a rota pelo Canal de Suez, que continua sob ameaça dos piratas do Mar Vermelho, e fez o trajeto para o Oceano Atlântico contornando o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.

Operação sustentável

Esta é a primeira viagem do veleiro-cargueiro e a escolha do porto paulista para carregar o café está relacionada à proposta de realizar a operação mais sustentável possível, desde a produção até o transporte, segundo a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado (Semil), a qual a Companhia Docas de São Sebastião é vinculada.

Pesaram também a profundidade do canal de navegação e o apelo turístico de São Sebastião e da vizinha Ilhabela. Já a carga de café provém de uma fazenda conhecida pelas boas práticas agrícolas e é rastreada, o que permite aos compradores saber como foi o processo do plantio à colheita.

Além disso, o porto possui selo verde, sendo o primeiro porto público brasileiro a receber a certificação ambiental. "É uma operação significativa e que reforça o crescimento do Porto de São Sebastião, que vem batendo recordes de movimentação de carga. É relevante também realizar o transporte de um produto tão simbólico para o Estado de São Paulo e para o Brasil, ainda mais em um formato sustentável", diz o diretor-presidente da Docas, Ernesto Sampaio.

Após seis décadas

O Porto de São Sebastião voltou a operar cargas de café depois de mais de 60 anos sem realizar esse tipo de operação. O primeiro embarque do produto para exportação aconteceu em setembro deste ano, quando 8 mil toneladas de café verde produzido em Minas Gerais e São Paulo embarcaram com destino à Alemanha, em cargueiro convencional. Até então, a última operação para o setor cafeeiro tinha acontecido na década de 1960.

A carga atual embarcada no veleiro é operada pela Seaforte, empresa controlada pela FTSpar. O diretor de logística da FTSpar, Rafael Moura, considerou a operação histórica. "Falamos de uma carga especial que é o café brasileiro e também do nosso cacau, 100% rastreado, tudo dentro de uma cadeia sustentável, desde o plantio, cultivo e a colheita, até o momento em que a carga seguirá seu destino à Europa, em um transporte marítimo que reduz a emissão de gases poluentes", disse.

O Porto de São Sebastião está com consulta pública para a construção de um novo terminal com investimentos de R$ 660 milhões. Será feito um novo píer com dois berços de atracação de navios, obras que vão quadruplicar a capacidade de carga. A prefeitura também tem projeto de construir um homeport - estrutura para receber navios turísticos - na Praia Grande, região central da cidade. O projeto já foi apresentado à autoridade portuária e ao governo paulista.

Estadão
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