O que os animais selvagens fizeram durante a pandemia de Covid-19?
Cientistas espalharam câmeras por 21 países para analisar comportamento animal e humano durante o período; resultado impressiona
A pandemia de coronavírus (2020-2023) pegou o mundo de surpresa. É comum pensar que os animais silvestres respiraram aliviados sem a presença humana para incomodá-los. Porém, um estudo publicado na Nature Ecology & Evolution na última segunda-feira, 25, mostra que o caso não é tão simples assim. Alguns ficaram mais ativos, outros mais quietos, outros desenvolveram hábitos noturnos e por aí continua.
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"Tivemos uma noção um tanto simplista: humanos param, animais respiram felizes e se movem mais naturalmente", afirmou Cole Burton, ecologista de vida selvagem e biólogo da conservação da Universidade da Colúmbia Britânica, que liderou a pesquisa. "Mas o que vimos foi bem diferente".
Armadilhas fotográficas espalhadas por 21 países, a maioria na América do Norte ou Europa, mas também na América do Sul, África e Ásia, permitiram que os cientistas estudassem padrões de atividades de 163 espécies de mamíferos e monitorassem seu comportamento em relação a presença humana.
Apesar de a presença humana ter diminuído em alguns lugares na quarentena --como nas grandes cidades--, aumentou em outras regiões --como nos campos. Muitas famílias buscaram se isolar em casas no interior ou sítios para fugir dos grandes centros, essa movimentação alterou a vida e modos dos animais.
No período da quarentena, por exemplo, carnívoros, como lobos e linces, mostraram uma queda na atividade. Os especialistas acreditam que eles ficaram receosos com a presença humana. É comum pensar que predadores poderiam começar a causar problemas, porém, estes animais são cautelosos.
"Carnívoros, especialmente os maiores, têm essa longa história de antagonismo com as pessoas", afirmou Burton. "As consequências de um carnívoro predar uma pessoa frequentemente significou a morte a ele".
Em contrapartida, herbívoros, como veados e alces, tiveram pico de atividade durante a pandemia, principalmente quando tinha humanos por perto. Os cientistas avaliaram duas possibilidades. A primeira é: com os humanos afastando predadores, os herbívoros começaram a se aproximar para usar as pessoas como escudos, assim ficou mais seguro sair e buscar comida. A segunda é: com os humanos invadindo o espaço selvagem, ficou difícil não se deparar com eles no meio da floresta para se movimentar.
"Os herbívoros tendem a ser um pouco menos temerosos das pessoas, e eles podem usá-los como um escudo contra os carnívoros", disse Marlee Tucker, ecologista da Universidade Radboud, na Holanda, que não esteve envolvida na pesquisa.
Enquanto nos campos e em áreas rurais alguns animais ficaram mais quietos, nos grandes centros os mamíferos selvagens ficaram mais ativos. "Isso foi um pouco contraintuitivo e surpreendente", disse Kaitlyn Gaynor, ecologista de vida selvagem e bióloga da conservação na Universidade da Columbia. "Analisamos mais de perto e percebemos que grande parte dessa atividade ocorreu à noite. Os animais ficaram noturnos".
Os pesquisadores sugerem que os animais poderiam estar atraídos pelos recursos humanos, como comida e lixo, e estavam deslocando suas expedições para o período noturno a fim de reduzir o risco de encontrar pessoas. "Isso parece ser uma adaptação dos animais para conviver com as pessoas", disse Burton. "São os animais trabalhando para fazer a sua parte na coexistência".