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'Passarinheiro' já avistou mais de 300 espécies em região de Minas Gerais; conheça

Prática de observar pássaros ao ar livre é o hobby de muitos brasileiros

15 ago 2024 - 05h00
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Beija-flor-de-bochecha-azul (Heliothryx auritus)
Beija-flor-de-bochecha-azul (Heliothryx auritus)
Foto: Amaury Pimenta

Você já ouviu falar no termo passarinheiro? O 'apelido carinhoso', derivado do verbo passarinhar, antes se referia ao ato de caçar aves. Contudo, a palavra ganhou um novo significado e hoje é utilizada para designar a observação de aves -- e nada de pássaros em gaiolas.

No Brasil, o hobby é tão praticado que diversos encontros entre os mais de 49 mil observadores que integram a comunidade online Wikiaves. Uma espécie de enciclopédia colaborativa, o site já catalogou quase 2 mil espécies. 

Um desses passarinheiros é Amaury Pimenta, de 59 anos. Adepto da atividade há 15 anos, o engenheiro mecânico aposentado de Minas Gerais decidiu "passarinhar" depois que percebeu que seu dia parecia um "conto de fadas". Todos os dias, ele era visitado por diversas espécies de pássaros em seu jardim e em seu quintal.

"Isso me deu a oportunidade de registrar em um livro de fotografias cerca de 140 espécies que já havia encontrado dentro do condomínio onde moro. O livro 'Veredas das Aves' foi o que me impulsionou para uma maior dedicação a atividade, tamanha a repercussão", conta ele, em entrevista ao Terra.

Amaury Pimenta é observador de aves há 15 anos
Amaury Pimenta é observador de aves há 15 anos
Foto: Amaury Pimenta/Arquivo Pessoal

Desde então, Amaury se dedica ao hobby quase que diariamente: "Meu foco e objetivo é registrar e identificar o maior número de espécies aqui na região com intuito de sensibilizar a sociedade, através das aves, para a importância da preservação da natureza que nos cerca", destaca ele, que é natural de Nova Lima.

Além do hobby, outra forma que Amaury encontrou de conscientizar as pessoas sobre a beelza e diversidade das aves foi por meio da ONG Ecoavis. O aposentado é membro da diretoria da entidade, que reúne mais de 300 associados, em sua maioria passarinheiros. A ONG promove projetos junto a instituições públicas e privadas, com o objetivo de promover a educação ambiental.

Conexão com a natureza

Além de atividade para relaxar e desconectar do "mundo acelerado em que vivemos", nas palavras do próprio Amaury, a prática de passarinhar tende a ser lapidada com o tempo. Os praticantes da observação de pássaros adquirem algumas técnicas para encontrar mais aves, avaliar o bioma e o ambiente. 

"Recentemente registrei uma espécie chamada Tangarazinho (Ilicura militaris) regurgitando uma semente de erva de passarinho e em seguida ela colou com o bico essa semente num tronco... Ali certamente vai brotar a planta e no futuro ele vai ter mais alimento naquela região... Isso é simplesmente fantástico de se observar", lembra.

Tangarazinho (Ilicura militaris)
Tangarazinho (Ilicura militaris)
Foto: Amaury Pimenta

Outro registro recente que chamou a atenção de Amaury foi o pássaro Azulinho (Cyanoloxia glaucocaerulea), que no inverno migra do Sul para o Sudeste. "Agora em agosto eles retornam ao Sul, um movimento muito interessante. Encontrá-los aqui nessa época é um desafio e também muito gratificante", acrescenta.

Mas, de acordo com Amaury, nenhum desafio se compara a ter um registor do Macuqinho (Eleoscytalopus indigoticus), que é conhecido como o 'fantasminha das matas'.

"Vive como um ratinho dentro das matas úmidas e registrá-lo é um dos maiores desafios para os observadores. Hoje, conheço dezenas de pontos na região onde podemos registrá-los, mas sempre com muita paciência e dedicação", revela.

"Sigo minha rotina, com leveza e muita paixão pelas aves. Acredito que dessa forma estou contribuindo e deixando um pequeno legado para a sociedade e visando um mundo melhor para as próximas gerações. Nova Lima tem hoje registrado oficialmente 348 espécies. Dessas todas, eu ainda não encontrei cerca de 20 delas. Sigo procurando", acrescenta.

Pássaros podem ser observados de todas as regiões?

O biólogo Juan Espanha, que também integra a Ecoavis, explica que Nova Lima é uma região rica em espécies de aves porque boa parte de suas áreas verdes nativas são conservadas. O município, aliás, está localizado na transição entre os biomas mata atlântica e cerrado. 

De acordo com Espanha, outras cidades vizinhas estão inseridas na chamada Cordilheira do Espinhaço, também conhecida como Serra do Espinhaço. 

"O gradiente altitudinal do espinhaço propicia uma série de características diferenciadas como microclima e microambientes distintos, favorecendo a ocorrência de espécies únicas ou dependentes desses tipos de ambientes, ecossistemas singulares, como por exemplo, os campos de altitude, campos rupestres e cangas", diz.

Macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus)
Macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus)
Foto: Amaury Pimenta

O avistamento de pássaros é uma prática que potencializa o turismo ecológico no Brasil, na medida em que desperta a atenção das pessoas para a natureza e para as aves nativas de vida livre. De acordo com o biólogo, a observação de aves também pode se tornar uma fonte de renda.

"A mais óbvia, é o que podemos chamar de aviturismo, o turismo especializado na observação de aves, e dentro dela talvez a atividade direta principal seja a de guia de turismo especializado em observação de aves", explica.

Desta forma, outros produtos e serviços podem ser oferecidos ao passarinheiros, como pousadas e comércio. Artistas e artesãos também podem lucrar.

"A atividade de observação de aves pode ser tão impactante e transformadora, a ponto de mudar a matriz econômica de cidades e até de regiões e países inteiros", acrescenta.

Ninho com filhotes de Falcão-de-coleira
Ninho com filhotes de Falcão-de-coleira
Foto: Amaury Pimenta

Existem malefícios na prática da atividade?

Em suma, não existe impacto negativo para os pássaros, pois é possível observá-los de onde quer que você esteja, no campo ou na cidade. Na verdade, essa prática costuma beneficiar espécies de aves, já que a comunidade se movimenta para a criação de áreas de conservação públicas e privadas, pousadas amigas da natureza e educação ambiental para a população.

Contudo, cabe atenção para outras atividades, como fotografar e alimentar os pássaros, segundo alerta o biólogo Juan Espanha. Por isso, é importante realizar a observação de aves com técnicos ou instituições que já estejam habituados à prática.

"A tendência natural na prática de observação de aves, em especial no caso de brasileiros, é que estes utilizem técnicas e estratégias complementares que propiciem uma prática de observação de aves mais efetiva e dinâmica, ou seja, que aumentem consideravelmente a chance de avistamentos, aproximação das aves e boas oportunidades de foto e gravação de sons e vídeos", destaca.

O que fazer para começar a passarinhar 

  • Evite fazer trilhas sozinho;
  • Procure se informar antecipadamente sobre o local e as condições no dia da visita;
  • Antes da atividade, comunique aos responsáveis pelo grupo sobre qualquer condição específica de saúde ou necessidades especiais que você apresente;
  • Evite tocar na vegetação e nunca toque ou capture animais, mesmo que para fotografar;
  • Não colete nada da natureza, nem deixe lixo na trilha;
  • Não leve animais domésticos de estimação (cães, gatos, etc.) para ambientes silvestres, incluindo parques urbanos;
  • Vista roupas de cores neutras e confortáveis, preferencialmente calça comprida e agasalho;
  • Utilize filtro solar, repelente e boné ou chapéu;
  • Leve garrafinha com água, para hidratação;
  • É obrigatório usar calçado fechado, e é recomendado usar perneiras;
  • Aos pais que estiverem com crianças, sempre ficar próximo aos filhos;
  • Se você possui binóculos e câmeras, pode levar, mas não é obrigatório para a realização da atividade;
  • Se possível, leve lanche;
  • Fale baixo ao se comunicar com os participantes;
  • Curta muito as aves.
Fonte: Redação Terra
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