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Pesquisa da USP descobre maior lago do mundo e entra para o Guinness Book

Estudo foi liderado pelo cientista Dan Palcu; fenômeno geográfico passou a ser chamado oficialmente de ‘O maior lago de todos os tempos'

10 mar 2024 - 05h00
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Na foto, as falésias da Baía de Bolata (Bulgária) sobre a área do lago
Na foto, as falésias da Baía de Bolata (Bulgária) sobre a área do lago
Foto: Dan Valentin Palcu

Uma pesquisa inédita feita pela Universidade de São Paulo (USP) descobriu o maior lago que já existiu na face da Terra e fez a instituição entrar, pela primeira vez, para o Livro dos Recordes, o Guinness World Records 2024. O estudo foi liderado pelo cientista Dan Palcu, com uma equipe de pesquisadores do Instituto Oceanográfico da universidade e colaboradores.

O reconhecimento veio após a descoberta do gigantesco corpo de água chamado Paratethys, que existiu há aproximadamente onze milhões de anos, no continente Europeu.

Segundo os pesquisadores, o megalago se estendia do leste das montanhas dos Alpes até as regiões hoje anexadas ao Cazaquistão. Este fenômeno geográfico passou a ser chamado oficialmente de “o maior lago de todos os tempos”.

O time de pesquisadores, liderado por Palcu, doutor em Geociências, revelou as dimensões do megalago, em um estudo publicado em junho de 2021, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Para dimensionar a relevância do fenômeno geográfico, foi utilizada uma técnica magneto-estratigrafia, que utiliza as inversões de polaridade do campo magnético da Terra nas rochas como uma ferramenta de datação e reconstruções paleogeográficas digitalizadas. A partir da aplicação desse método científico, Palcu e sua equipe conseguiram determinar - com precisão - o tamanho e o volume do Paratethys.

Rochas formadas durante as crises do megalago se tornaram falésias no litoral do Mar Negro, onde se manteve preservada a sua história geológica
Rochas formadas durante as crises do megalago se tornaram falésias no litoral do Mar Negro, onde se manteve preservada a sua história geológica
Foto: Dan Valentin Palcu

Os resultados mostram que o Paratethys abrangia uma área de aproximadamente 2,8 milhões de quilômetros quadrados, preenchida com mais de 1,8 milhão de quilômetros cúbicos de água salobra. Esse volume é mais de dez vezes superior ao combinado de todos os lagos atuais de água doce e salgada no mundo hoje.

“Durante muito tempo, acreditou-se que ali existia um mar pré-histórico, conhecido como Mar Sármata. Agora, temos evidências de que, ao longo de cinco milhões de anos, este mar tornou-se um lago isolado do oceano e cheio de animais nunca vistos em outros lugares ao redor do globo”, explica Palcu.

Conforme aponta o estudo, o megalago Paratethys abrigava uma fauna endêmica única, incluindo a Cetotherium riabinini, a menor baleia já registrada. Outro fato curioso é a presença de botos - similares aos botos da Amazônia, que assim como no Brasil, eram golfinhos que ficaram presos no lago quando a conexão com o mar terminou.

Região onde se encontrava o megalago Paratethys de acordo com os pesquisadores
Região onde se encontrava o megalago Paratethys de acordo com os pesquisadores
Foto: Dan Valentin Palcu

Além da fauna, a equipe de Palcu identificou a história turbulenta do Paratethys, marcada por crises hidrológicas e períodos de seca. Durante a crise mais severa, o megalago sofreu uma redução de mais de dois terços da sua extensão e um terço do seu volume, com a queda do nível da água em até 250 metros. Essa transformação teve um impacto devastador na fauna, resultando na extinção de muitas espécies.

“Nossas investigações vão além da simples curiosidade. Elas revelam um ecossistema que responde de forma extremamente aguda às flutuações climáticas. Ao explorar os cataclismos que este antigo megalago sofreu, como resultado das alterações climáticas, obtemos informações valiosas que podem elucidar potenciais crises ecológicas. É uma forma de entender as crises desencadeadas por mudanças no clima pelas quais o nosso planeta atravessa atualmente, possibilitando descobertas sobre a estabilidade de bacias de águas tóxicas como o Mar Negro”, acrescenta o cientista.

Descoberta é uma esperança para futuro, diz cientista

Palcu explica que o Mar Negro moderno é um reflexo de várias características ambientais do antigo homólogo, o Paratethys. As profundezas do Mar Negro, em grande parte carentes de oxigênio essencial para a vida, apresentam águas abundantemente carregadas com sulfureto de hidrogénio, um gás tóxico prejudicial tanto para os seres humanos como para a maioria das espécies animais.

Além disso, os sedimentos do Mar Negro abrigam metano congelado, um gás de efeito estufa extremamente potente, que pode ser liberado na atmosfera em resposta ao aquecimento global, desencadeando uma série de catástrofes ambientais.

Palcu, que atualmente investiga a resiliência destas regiões ecologicamente frágeis, diante das mudanças climáticas e das alterações provocadas pelo homem, afirma que desvendar a história do Paratethys é uma luz de esperança para o futuro.

“O Mar Negro tem potencial para se tornar uma das maiores regiões naturais de armazenamento de carbono da Terra. A sua estabilidade é de suma importância para desbloquear a sua capacidade para futuras iniciativas de armazenamento de carbono e para prevenir futuros desastres ecológicos”, destaca.

O cientista também acredita que a Pesquisa da USP pode servir de inspiração para novas gerações de futuros cientistas, impulsionados pela missão de preservação do planeta.

“Atualmente, estou ativamente envolvido em orientar jovens pesquisadores brasileiros que se especializam no Reino Unido e na Holanda para estudar os megalagos do Pré-Sal, o Paratethys e os lagos do leste da África. É uma forma de entender a evolução humana, a partir de investigações sobre um antigo megalago que existiu no sul do Brasil antes da era dos dinossauros”.

A pesquisa do megalago contou com anos de expedições ao Leste da Europa e à Ásia, além de muitas investigações laboratoriais na Holanda e no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, no Brasil.

O estudo foi uma colaboração entre a Universidade de São Paulo (Brasil), a Universidade de Utrecht (Holanda), a Academia Russa de Ciências (Rússia), o Centro Senckenberg de Pesquisa em Biodiversidade e Clima (Alemanha) e a Universidade de Bucareste (Romênia), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), liderado por Palcu.

Fonte: Redação Terra
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