Por que cidade no interior de São Paulo sofre com cratera de 300 metros de comprimento
Vistoria técnica feita pela Defesa Civil Estadual apontou que trata-se de uma voçoroca; especialista explica fenômeno
Uma imensa cratera que vem avançando em direção à zona urbana da cidade de Lupércio, no interior de São Paulo, tem preocupado os moradores da região e já pode ser vista até por imagens de satélite. Uma vistoria técnica realizada pela Defesa Civil Estadual apontou que trata-se de uma voçoroca e atribuiu sua formação a falha em galeria pluvial.
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Segundo a Prefeitura de Lupércio, a erosão, que começou a surgir em 2007, atualmente apresenta aproximadamente 300 metros de comprimento, 25 metros de largura e 15 metros de profundidade. A administração municipal diz que realizou algumas intervenções de contenção e, paralelo a isso, entrou na Justiça para desapropriar a área, já que a cratera está dentro de um terreno particular.
Agora, o município afirma que também aguarda providências do governo estadual com relação ao envio de recursos financeiros para que seja realizada uma obra definitiva, a fim de sanar o problema.
"Já foi feito vistorias no local e a prefeitura ainda aguarda o laudo técnico", informou a administração municipal por meio de nota.
Ao Terra, a Defesa Civil do Estado informou que juntamente com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), esteve em Lupércio para vistoria técnica no local da erosão no dia 24 de abril, o que permitiu identificar se tratar de uma voçoroca. Esse tipo de erosão intensa forma grandes buracos no solo devido à ação da água da chuva sobre terrenos vulneráveis.
Se não for controlada, a voçoroca pode levar à destruição de grandes áreas de terra, o que compromete propriedades e a segurança dos habitantes locais.
A voçoroca em Lupércio
A formação da voçoroca em Lupércio é atribuída a falha em uma galeria pluvial local. Este problema de infraestrutura, conforme constatado na vistoria, tem permitido que as águas das chuvas erodam o solo de maneira agressiva, resultando em um avanço da cratera na região, de acordo com o órgão.
A Defesa Civil afirma que a avaliação feita na área colheu informações com o objetivo de fornecer novas alternativas de mitigação e contenção da voçoroca e determinar se há ou não instabilidade ou risco para as residências próximas ao local e a necessidade de desapropriação adicional de imóveis, para garantir a segurança da população. Será feito um relatório sobre a vistoria técnica.
"Recentemente, a prefeitura de Lupércio tomou medidas de contenção que conseguiram retardar o aumento deste buraco erosivo, afastando, assim, o risco iminente para os moradores da região. Por esse motivo, não há necessidade em retirar os moradores neste momento", diz o órgão em nota.
A cidade aguarda a autorização judicial para prosseguir com as obras públicas necessárias, já que o local é de propriedade privada. O Governo do Estado já manifestou apoio às ações da Defesa Civil Estadual, condicionando sua continuidade à segurança jurídica requerida.
Geóloga explica voçoroca
Ao Terra, a geóloga Amanda Lima explicou que a voçoroca é caracterizada pela sua interação com o lençol freático. De acordo com ela, embora possam surgir grandes crateras, se não houver essa interação com o lençol freático, o fenômeno pode se manifestar apenas como uma ravina ou outro tipo de erosão.
Além disso, a geóloga apontou que as voçorocas, conhecidas como erosões hídricas, têm maior probabilidade de ocorrer em solos arenosos, como é o caso da região de Lupércio. Segundo a especialista, esse tipo de erosão geralmente começa durante períodos de chuva intensa, embora também possa ocorrer em chuvas mais leves.
A especialista ressaltou que vários fatores contribuem para a formação da voçoroca, incluindo a presença de cursos d'água e a remoção da vegetação natural. Atividades humanas, como agricultura e urbanização, podem acelerar esse processo, enfraquecendo a estrutura do solo e aumentando o risco de colapso.
No caso específico de Lupércio, a especialista observou que a área afetada pode ter sido utilizada para agricultura, o que contribui para o enfraquecimento do solo.
"Pelo que parece nas imagens, a área é utilizada para agricultura, que hoje em dia é uma das coisas que mais aceleram a erosão, além do próprio urbanismo. Isso acontece porque você vai retirar as plantas, toda a flora natural do local, e o solo já está adaptado a ela. Então isso vai fazendo com que vá enfraquecendo o solo, até um certo momento em que ele colapsa", destaca ela.
Moradores estão assustados
Em entrevista à TV Tem, afiliada à Rede Globo na região, o aposentado Mário Charmole, que mora em uma das ruas mais próximas da direção em que a cratera avança, relatou que todos estão preocupados com a situação.
"Todo mundo está com medo. Tem gente que vem lá de cima [rua mais distante da cratera] para poder olhar o buraco. Tem que tomar uma providência", destacou.
A dona de casa Lilian Barbosa Mesquista também afirmou que já ficou assustada com o tamanho da erosão. "Eu já tive muito medo, porque até semana passada estava na cerca, agora fizeram uma barra de contenção e por enquanto estou podendo dormir tranquila", disse.