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Por que novo recorde de calor do oceano é alerta sombrio para planeta

Novos dados revelaram que os oceanos atingiram a temperatura mais alta já registrada, batendo recorde de 2016.

4 ago 2023 - 06h26
(atualizado às 07h24)
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Ondas de calor no Oceano estão matando corais
Ondas de calor no Oceano estão matando corais
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Novos dados revelaram que os oceanos atingiram a temperatura mais alta já registrada, devido ao fenômeno das mudanças climáticas — o que traz implicações sombrias para o planeta.

A temperatura média diária global da superfície do mar chegou a 20,96ºC esta semana, batendo um recorde que vinha de 2016, de acordo com a Copernicus, uma agência de mudanças climáticas da União Europeia.

Essa temperatura está muito acima da média para esta época do ano.

Os oceanos são fundamentais para regular o clima do planeta. Eles absorvem o calor, produzem metade do oxigênio da Terra e controlam os padrões climáticos.

Águas mais quentes têm menos capacidade de absorver dióxido de carbono da atmosfera, o que provoca aumento no aquecimento do clima. Mais gases na atmosfera aceleram o derretimento das geleiras que fluem para o oceano, levando a um aumento do nível do mar.

Oceanos mais quentes e ondas de calor afetam espécies marinhas como peixes e baleias que migram para águas mais frias, alterando a cadeia alimentar marítima. Especialistas alertam que os estoques de peixes podem ser afetados.

Alguns animais predadores, como tubarões, podem se tornar mais agressivos porque ficam confusos em temperaturas mais altas.

"Neste momento, há um branqueamento generalizado de corais em recifes rasos na Flórida (nos EUA) e muitos corais já morreram", diz Kathryn Lesneski, que está monitorando uma onda de calor marinha no Golfo do México para o Administração Oceânica e Atmosférica Nacional.

"Estamos colocando os oceanos sob mais estresse do que em qualquer outro momento da história", diz Matt Frost, do Plymouth Marine Lab, no Reino Unido. Ele diz que a poluição e a pesca excessiva também afetam os oceanos.

Os cientistas também estão preocupados com o momento em que esse recorde foi quebrado.

"Março deveria ser quando os oceanos globalmente estão mais quentes, não agosto ou setembro. O fato de termos visto o recorde agora me deixa nervoso sobre o quanto o oceano pode ficar mais quente entre agora e março próximo", diz Samantha Burgess, do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus.

"É preocupante ver essa mudança acontecendo tão rapidamente. Tivemos uma onda de calor marinha de 247 dias no Reino Unido entre agosto de 2022 e abril de 2023", disse o professor Mike Burrows, que está monitorando os impactos nas costas marítimas escocesas com a Associação Escocesa de Ciência Marinha.

Os cientistas dizem que as mudanças climáticas estão diretamente ligadas ao aquecimento dos oceanos, por que os mares estão absorvendo a maior parte do aquecimento das emissões de gases de efeito estufa.

"Quanto mais queimamos combustíveis fósseis, mais excesso de calor será absorvido pelos oceanos, o que significa que mais tempo levará para estabilizá-los e trazê-los de volta para o nível onde estavam", explica Burgess.

O novo recorde de temperatura média supera o registrado em 2016, quando a flutuação natural do clima El Niño estava em pleno andamento e em seu ponto mais forte.

O El Niño ocorre quando a água quente sobe à superfície na costa oeste da América do Sul, elevando as temperaturas globais.

Outro El Niño já começou, mas os cientistas dizem que ele ainda é fraco — o que significa que as temperaturas do oceano devem subir ainda mais acima da média nos próximos meses.

Os novos dados de temperatura foram registrados após uma série de ondas de calor marinhas este ano, incluindo no Reino Unido, no Atlântico Norte, no Mediterrâneo e no Golfo do México.

"As ondas de calor marinhas que estamos vendo estão ocorrendo em locais incomuns onde não esperávamos", diz Burgess.

Em junho, as temperaturas nas águas do Reino Unido ficaram de 3°C a 5°C acima da média, de acordo com a agência meteorológica britânica Met Office e a Agência Espacial Europeia.

Na Flórida, a temperatura da superfície do mar atingiu 38,44°C na semana passada — comparável a uma banheira de hidromassagem. Normalmente as temperaturas devem ficar entre 23°C e 31°C, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA ma sigla em inglês).

As ondas de calor marinhas dobraram de frequência entre 1982 e 2016 e se tornaram mais intensas e mais longas desde a década de 1980, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Embora as temperaturas do ar tenham sofrido alguns aumentos dramáticos nos últimos anos, os oceanos demoram mais para aquecer, mesmo tendo absorvido 90% do aquecimento da Terra devido às emissões de gases de efeito estufa.

Mas agora há sinais de que as temperaturas oceânicas podem estar subindo. Uma teoria é que muito calor foi armazenado nas profundezas do oceano, que agora está vindo à superfície, possivelmente ligado ao El Niño, diz Karina von Schuckmann, da ONG Mercator Ocean International.

Embora os cientistas soubessem que a superfície do mar continuaria aquecendo devido às emissões de gases de efeito estufa, eles ainda estão investigando exatamente por que as temperaturas subiram tanto em relação aos anos anteriores.

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