Queimadura de água-viva: o que fazer e como identificar riscos nas praias
Segundo o Ministério da Saúde, os acidentes causados por águas-vivas e caravelas resultam da ação das toxinas presentes em seus tentáculos
Durante o verão, milhões de turistas lotam as praias em busca de sol, calor e mergulhos refrescantes. No entanto, é no mar que também estão presentes, aos milhões, pequenos organismos quase invisíveis, que flutuam livremente com as ondas e o vento: as águas-vivas e caravelas, pertencentes ao grupo dos cnidários. Apesar de sua aparência inofensiva, esses animais podem causar queimaduras dolorosas de diferentes intensidades e, em casos raros, até levar à morte.
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Segundo o Ministério da Saúde, os acidentes causados por águas-vivas e caravelas resultam da ação das toxinas presentes em seus tentáculos, que podem provocar tanto reações tóxicas quanto alérgicas. Em entrevista ao Terra, o biólogo Marcelo Soares, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), detalhou os cuidados imediatos em caso de queimaduras e os fatores ambientais que favorecem o aumento desses animais no verão.
Por que há mais águas-vivas no verão?
O biólogo explica que o aumento das águas-vivas no verão ocorre por diversos fatores, como temperaturas mais altas, que favorecem sua reprodução, e o aumento de chuvas, que disponibilizam mais alimento no mar. Além disso, o maior número de banhistas nesta época do ano aumenta a probabilidade de contato com os animais.
“Normalmente, você tem mais águas-vivas em locais de água mais parada. Nos locais com correnteza, elas tendem a se dispersar mais. Por isso, é importante acompanhar os boletins da Secretaria de Saúde ou do Meio Ambiente, que alertam para ocorrências de bloom, ou seja, aglomerações desses animais”, explica. Ele também recomenda verificar com os bombeiros antes de entrar no mar, especialmente em regiões mais afetadas.
Confira algumas dicas de prevenção do Ministério da Saúde:
- Evite áreas onde há presença de águas-vivas e caravelas
- Pergunte ao guarda-vidas sobre a presença destes animais no local
- Alguns Estados adotam uma bandeira lilás no posto do guarda-vidas como indicativo da presença de águas-vivas e caravelas
- Outro indicativo da presença de cnidários é o avistamento destes animais na areia da praia
- Não toque nestes animais, mesmo mortos
- Ao caminhar na praia, procure utilizar calçado, evitando assim pisar em tentáculos de águas-vivas e caravelas
- Ao praticar mergulho, considere utilizar roupa de mergulho que cubra a maior parte possível da pele
O que fazer ao ser queimado por água-viva?
Ao entrar em contato com uma água-viva, é importante agir rapidamente e de forma correta. “Os primeiros passos são fazer uma compressa com água do mar, de preferência fria, ou aplicar vinagre no local da queimadura”, orienta Soares. Ele alerta para evitar água doce, urina ou qualquer tipo de creme, pois essas substâncias podem agravar o problema.
“Água doce e cremes podem disparar as células urticantes que ainda estão na pele e aumentar o desconforto. A urina, por exemplo, é um mito propagado pela internet e não tem fundamento científico”, afirma o biólogo. Após os primeiros cuidados, ele recomenda procurar atendimento médico em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou acionar o Samu (Serviço de Atendimento Nóvel de Urgência) para casos mais graves.
Importância da preservação ambiental
Soares destaca que a preservação dos oceanos é essencial também para diminuir os riscos relacionados à saúde humana. Um dos principais predadores das águas-vivas, por exemplo, são as tartarugas, que frequentemente confundem plásticos com alimento e morrem ao ingerir resíduos.
"Então você reduz o predador da água-viva, que é a tartaruga, por exemplo, e as águas-vivas aumentam e causam mais acidentes. Então, tudo que a gente puder contribuir, desde a questão de lixo, de tratamento de esgoto, de políticas ambientais que cuidem dos oceanos, também vai diminuir os riscos relacionados à saúde humana", destaca.
Sintomas da queimadura e riscos
Os efeitos das queimaduras por águas-vivas variam de acordo com a espécie e a vulnerabilidade da pessoa. “As pessoas normalmente falam de queimaduras, mas são mais parecidas com inflamações na pele. Dependendo da espécie, podem ocorrer reações alérgicas, inchaço ou até problemas cardíacos, como arritmia”, explica o biólogo.
Embora no Brasil as espécies sejam menos perigosas, Soares alerta que há casos graves: “No mundo, algumas águas-vivas, como a vespa-do-mar na Austrália, podem ser letais. No Brasil, os riscos são menores, mas ainda existem problemas respiratórios ou alérgicos em pessoas mais vulneráveis.”
O Ministério da Saúde explica que o contato com os tentáculos de cnidários, como as águas-vivas, pode causar dor intensa e sensação de queimação no local, que pode durar de 30 minutos até 24 horas. Inicialmente, surgem marcas vermelhas e inchadas na pele, que podem evoluir para bolhas ou feridas mais graves em até um dia.
Com o tempo, essas lesões podem deixar manchas escuras na pele que demoram meses para desaparecer. Em casos mais graves, como em crianças ou com águas-vivas maiores, o veneno pode afetar o corpo todo, causando sintomas como dor de cabeça, mal-estar, náuseas, vômitos, espasmos musculares, febre e até alterações nos batimentos cardíacos. A gravidade do quadro depende do tamanho da área afetada.