Quinto ciclone extratropical em dois meses derruba temperaturas em parte do Brasil; entenda fenômeno
Especialista entrevistado pelo Terra, explica o motivo dos ciclones terem se tornado frequentes no país
Um ciclone extratropical --formado sobre o mar perto da costa do Uruguai e da província de Buenos Aires- trouxe uma nova frente fria para várias cidades do Sul e do Sudeste brasileiro, com previsões de pancadas de chuva, fortes rajadas de vento, raios e até granizo durante todo o final de semana.
Este será o quinto ciclone extratropical com influência no Brasil em um período de dois meses. Mas, afinal, como funciona esse fenômeno meteorológico? Por que é tão frequente no país? Tire suas dúvidas abaixo.
O que é um ciclone extratropical
Para entender o que é um ciclone extratropical --fenômeno meteorológico marcado pela presença de fortes tempestades e ventos--, é preciso compreender o que é um ciclone.
Ciclones são centros de baixa pressão atmosférica que provocam movimentação do ar em direção ao centro.
"Os ciclones extratropicais estão sempre se deslocando no sentido de oeste para leste nas latitudes extratropicais, principalmente sobre os oceanos, devido à própria circulação planetária. Vale ressaltar que, sempre que temos uma frente fria, vemos um ciclone extratropical associado", explica o meteorologista e professor do curso de aviação da Universidade Anhembi Morumbi, Antônio José Soares.
Esse processo ocorre devido ao movimento ascendente do ar aquecido na região equatorial, contrastando com a descida do ar frio nas latitudes médias. Essa interação provoca uma região de conflito onde podem se desenvolver os ciclones.
Além desse mecanismo, a existência de correntes de ar em diferentes altitudes também desempenha um papel importante na geração desses fenômenos.
Por que o fenômeno se tornou comum no Brasil?
Na região do Rio Grande do Sul, por exemplo, um ciclone extratropical que se origina no Oceano Pacífico sofre influência ao atravessar a região da Cordilheira dos Andes. Devido a esses fatores, os ciclones extratropicais ocorrem no Brasil e com maior frequência no estado do Rio Grande do Sul.
“É comum ciclones extratropicais se formar mais entre Uruguai e Argentina, mas, nos últimos meses, tem sido comum se formar exatamente sobre o Rio Grande do Sul. Isto pode ser por vários fatores, mas um fator potencializador, provavelmente, é a situação do El Niño, responsável por modificar a dinâmica de transporte de calor e por consequência, umidade do planeta."
O El Niño é um fenômeno natural que se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico em intervalos irregulares. Durante o fenômeno, as águas quentes do oceano influenciam os padrões climáticos em todo o mundo e podem ocasionar em aumento das chuvas, secas, mudanças nas correntes atmosféricas e impactar nas atividades de pesca e agricultura. Além disso, também pode impactar diretamente nos recursos hídricos e no ecossistema marinho.
Diferenças entre: ciclones extratropicais e ciclones tropicais
Os ciclones tropicais se diferenciam dos extratropicais por "nascerem" nas regiões intertropicais do planeta. Eles possuem mais energia e seu processo de formação é diferente.
Necessitam estar sobre oceanos quentes, com muita evaporação para a condensação (formação de nuvens) e a liberação de grandes quantidades de energia térmica (calor) para a atmosfera.
Enquanto o ciclone tropical possui um núcleo quente, o núcleo do ciclone extratropical é frio.
Nomes de ciclones tropicais
Dependendo de onde nascem, os ciclones tropicais ganham nomes diferentes.
• Furação: sobre o Atlântico Norte, da África até os Estados Unidos
• Tufão: sobre o Oceano Índico e Pacífico (Ex.: Indonésia, China, Japão)
• Ciclone tropical: norte da Austrália, esses são chamados do nome original
Papel do meteorologista na identificação de ciclones
O meteorologista é responsável por identificar com antecedência situações que possam a levar a calamidades, como o surgimento de um ciclone (tempestades, ventos fortes, etc.) e junto com a defesa civil, órgãos de comunicação em massa, trabalhar para alertar à população e tentar minimizar os danos colaterais (vidas e materiais).
Com o auxílio de dados de satélites, radares, estações e centros meteorológicos, o profissional consegue prever e identificar a formação de ciclones.
Órgãos como a Marinha do Brasil, a Aeronáutica, a NAV Brasil (antiga infraero), O CPTEC/INPE, INMET e universidades, possuem meteorologistas capacitados que, muitas vezes servem com uma rede de troca de informação pesquisas, para apoiar o país em previsões de desastres naturais.