Sem acesso à internet, aluna de escola pública cria papel com sementes de melão e melancia
Papel semente pode ser plantado após seu uso, contribuindo para a redução do desperdício e incentivando o reflorestamento.
Ao parar para pensar na quantidade de papel que é usada diariamente e descartada em uma escola pública da Bahia, as estudantes Esther Thayne e Thyciane Marques usaram sementes de melão e melancia para criar o papel semente, que após ser usado pode ser plantado, contribuindo para a redução do desperdício e incentivando o reflorestamento.
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As alunas estudam no Centro Estadual de Educação Profissional Álvaro Melo Vieira, localizado em Ilhéus. A ideia surgiu durante o Programa Ciência na Escola, da Secretaria da Educação, onde os alunos são incentivados a pensar em problemas que afetam a escola, a comunidade e a cidade.
Ao Terra, a professora de Química Margarete Correia de Araújo --uma das orientadoras do projeto-- relatou que a ideia das estudantes surgiu após elas pensarem na possibilidade de usar esse papel descartado junto com as sementes das frutas que são consumidas durante o intervalo.
"Aqui na escola trabalhamos a iniciação científica como princípio educativo. Todos os alunos participam da nossa feira de ciências anualmente. No primeiro ano [do Ensino Médio], eles são incentivados a pensar em um problema que possa atingir a escola e a comunidade. Uma dessas alunas percebeu que havia um grande desperdício de papel nas escolas. Então, ela pensou em reciclar esse papel. Só que a gente trabalha na inovação. Então, ela pesquisou e viu que existia o papel semente, mas que não existia papel semente de melão e melancia", explica a educadora.
Mas o que torna esse papel tão especial? Além de ser feito a partir de materiais reciclados, como papel descartado, ele contém sementes de melão e melancia em sua composição. Essas sementes possibilitam que, após o uso, o papel seja plantado.
O projeto das alunas não parou por aí. Com o apoio das professoras e o incentivo do ambiente educacional, elas participaram do edital da Broto, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), ficando em segundo lugar. Esse reconhecimento possibilitou que o projeto fosse incubado, recebendo suporte para se tornar não apenas uma iniciativa educativa, mas também um negócio sustentável.
"Estamos pensando em outras sementes e tentando transformar isso em um negócio. A ideia, a construção do plano foi no primeiro ano [do Ensino Médio]. No segundo, elas colocaram a mão na massa, fizeram papel, fizeram embalagens, caixinhas com esses papéis. E no terceiro ano, agora, elas vão aprimorar e, paralelamente, tem a incubação da Broto [programa da Universidade]", explica Margarete.
A professora também destaca a importância do projeto não apenas para as alunas, mas também para a comunidade e o meio ambiente.
"Para nós é sentimento de muito orgulho. Elas se sensibilizaram com o problema e transformaram em um projeto. Elas estão muito felizes, estão radiante com a conquista. A realidade social delas é muito complicada. Por exemplo, uma delas não tem acesso à internet. A outra também mora em um bairro que não tem estrutura nenhuma. E elas se dedicaram muito para desenvolver algo tão importante. Elas estão crescendo intelectualmente, estão buscando uma solução para aquele problema, ou seja, elas estão se tornando cidadãs atuantes no meio que elas vivem", finaliza a professora.