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'A gente luta e fracassa todos os dias', diz catarinense adepta ao lixo zero

Nicole Berndt é dona da página 'Casa sem Lixo' desde 2017, onde compartilha dicas e detalhes da sua experiência com o movimento

17 ago 2023 - 05h00
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Nicole criou a página no Instagram em 2017
Nicole criou a página no Instagram em 2017
Foto: Reprodução/Instagram/@casasemlixo

Há cerca de 7 anos, quando Nicole Berndt começou a pesquisar as causas de uma alergia e outros problemas de saúde, ela acabou se deparando com um cenário de ainda maior preocupação. "Nessa minha pesquisa, eu li o termo 'lixo zero' pela primeira vez, aí descobri o movimento Zero Waste [zero desperdício], e foi uma viagem sem volta", conta ao Terra.

Nicole, hoje com 44 anos, entendeu naquele momento que a mudança em sua vida deveria ser maior do que imaginava. Estava passando por momentos complicados, a saúde sentia o peso de lidar com a maternidade em meio a uma transição de carreira. "Meu corpo começou a falar", relembra.

Daí, enquanto tentava solucionar o que passava consigo mesma, começou a ler estudos sobre o acúmulo de resíduos e os efeitos disso no planeta. "Num primeiro momento foi ficando assustador, e eu, com duas crianças pequenas em casa, meu Deus... Então foi muito pela minha saúde, e no fim foi pela saúde dos meus filhos, pelo futuro deles." Hoje, a premissa de buscar uma vida sem lixo se tornou não só ideologia, mas o seu próprio trabalho.

Nicole é dona do perfil Casa sem Lixo no Instagram. Lá, compartilha com os mais de 140 mil seguidores dicas e detalhes da sua própria experiência tentando produzir o mínimo possível de resíduos. Além disso, ela criou uma loja de produtos sustentáveis que, além dos utensílios, também vendem cursos para quem está interessado em adotar o estilo de vida sem lixo.

Dá para viver em uma casa sem lixo?

Apesar do nome de usuário do perfil de Nicole ser ambicioso, ela confessa que viver sem lixo é uma meta - e, até mesmo uma utopia, ela diria. "É uma meta que vale a pena a gente lutar e fracassar todos os dias por ela", brinca.

Moradora de Florianópolis, Nicole se orgulha do status que a capital catarinense carrega. Este ano, o Ranking Bright Cities considerou a cidade como a capital mais sustentável do Brasil. Ainda assim, Nicole reforça que continua sendo moradora de um grande centro urbano e que, para ela, viver sem produzir nenhum resíduo ainda é inalcançável.

"Tem coisas que eu não consigo comprar a granel, tem, por exemplo, um presente que entra na minha casa, ou alguma coisa que eu não consegui dizer não para embalagem", diz. Ela explica ainda que o principal objetivo do movimento Lixo Zero é "desviar do aterro sanitário pelo menos 90% de tudo que ele gera". Nos aterros, a maioria dos resíduos não podem ser reciclados.

Outro ponto que Nicole esclarece é que essa premissa não significa que o consumo de produtos recicláveis deve ser indiscriminado. Ela relembra que a porcentagem dos resíduos que de fato são reciclados no Brasil ainda é muito pequena.

"Existe uma chance muito remota de que aquilo vai ser reciclado. Se eu quero ser uma casa sem lixo, eu devo evitar produzir qualquer coisa aqui, mesmo que seja reciclável. A nossa gavetinha lá dos resíduos recicláveis, a meta é que ela esteja cada vez mais baixa", conta.

O que fazer para gerar menos resíduos?

Nicole dá algumas dicas que ela usa no dia a dia em busca de uma vida mais sustentável:

  • A produção de lixo em uma casa, segundo ela, está concentrada na cozinha. O principal é usar os resíduos orgânicos e fazer compostagem;
  • Nos produtos que usa em casa, Nicole também opta por não usar o plástico. Escova de dente, por exemplo, é de bambu;
  • No mercado, ela busca não comprar mais embalagens com plástico. As frutas e verduras, por exemplo, leva direto para ser pesado no caixa, sem embalá-las nos sacos plásticos da seção de hortifruti. Uma boa dica para esse transporte é sempre ter sacolas reutilizáveis - as famosas ecobags - que podem já servir para levar as frutas até o caixa.

E quando o produto já está embalado pelo supermercado? Nicole dá como exemplo o brocólis chinês que ela e a família adoram.

"Normalmente, eles gostam de embalar no plástico filme e no isopor. O que é que eu faço? Eu tiro aquela embalagem e deixo no supermercado. E aí, já envio uma mensagem assim, 'olha só, desnecessário essa embalagem'... Eu acho que essa mensagem é muito poderosa da gente como consumidor conversar com quem nos fornece as coisas", diz.

Sendo mãe de um menino de 12 anos e uma menina de 8, Nicole ainda tem que lidar com as escolhas dos filhos, que ela diz dar autonomia. "Eles já foram bem doutrinadinhos, então têm noção das escolhas deles."

Ela lembra que a filha sempre pedia uma escova de dente de princesa e que nunca ganhou. Um dia, juntando da própria mesada, a pequena comprou uma escova elétrica com a temática que queria. Nicole não interveio. "É o dinheiro dela, ela sabe que aquilo muito dificilmente vai ser reciclado. Mas assim, eu ensino", diz.

Enquanto mãe, Nicole considera que não dá para ser radical, mas é importante pelo menos dar o primeiro passo para construir uma casa mais sustentável.

"Eu gosto sempre de dizer que a sua casa é a peça-chave pra mudar o mundo. Mesmo que seja uma pequena escolha. É a sua casa mais a minha casa, mais milhares de casas. Essa é a minha bandeira", afirma.

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Fonte: Redação Terra
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