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Até aliados temem imagem do País por posição de Bolsonaro

Presidente da Câmara diz que associação com desmate 'não interessa' ao agronegócio, mas presidente não recua

23 ago 2019 - 03h11
(atualizado às 07h57)
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O tom de confronto na área ambiental provocou reação em diversos setores, aumentando a pressão sobre o governo para que mude o discurso. Órgãos técnicos federais, Congresso e até o setor do agronegócio avaliam que a retórica tem prejudicado a imagem do Brasil e atrapalhado negócios do País no exterior. Mas o presidente Jair Bolsonaro não recuou nesta quinta-feira, 22.

Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro
Foto: Adriano Machado / Reuters

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reuniu com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e a bancada do agronegócio na Câmara para tratar do assunto. "É importante ouvir e mostrar que não é do interesse do agronegócio estar associado a desmatamentos. Todos querem produção respeitando o meio ambiente", afirmou ao site BR Político.

Ele ainda disse nesta quinta que formará uma comissão de deputados para acompanhar o problema das queimadas na Amazônia e debater soluções. O gesto político ganha peso ao se considerar que o presidente da Casa é, hoje, um dos principais articuladores da nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, proposta relatada por Kim Kataguiri (DEM-SP), que flexibiliza regras do setor e enfrenta forte reação da ala ambiental.

Bolsonaro voltou nesta quinta a afirmar que há "indício fortíssimo de que ONGs estão por trás das queimadas" na Amazônia. "São os índios, quer que eu culpe os índios? Vai escrever os índios amanhã? Quer que eu culpe os marcianos? É, no meu entender, um indício fortíssimo que esse pessoal da ONG perdeu a teta deles. É simples", afirmou. De acordo com o presidente, essas entidades "estão desempregadas" e por isso teriam interesse em fazer uma campanha contra o governo. Questionado se "fazendeiros" poderiam ser responsáveis pelas queimadas, Bolsonaro disse que "todos são suspeitos". "Pode ser fazendeiro, pode. Mas a maior suspeita vem de ONGs."

Agronegócio

A retórica do governo sobre desmatamento tem preocupado até os principais nomes do agronegócio do País, que passaram a criticar abertamente Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com receio de eventuais barreiras comerciais que países europeus possam impor ao País. Conforme revelou o Estado, diante da pressão do ruralistas, o governo prepara uma campanha para melhorar a imagem do Brasil no exterior.

Entre eles estão os ex-ministros da Agricultura Blairo Maggi e Kátia Abreu, por anos tratados como antagonistas das pautas ambientais por entidades da área. "Há muitos anos fazemos um trabalho com nossos clientes na Europa e Ásia, para mostrar nossa responsabilidade ambiental e transparência com os produtos que vendemos. Com essas confusões do governo, nossos importadores estão desconfiados", disse Blairo, o maior produtor de soja do País. "Os compradores estão fazendo mais consultas e cobrando compromissos. Querem mais garantias de que os produtos nossos não têm relação com o desmatamento. Há uma desconfiança crescente."

Floresta em chamas em Apuí (AM) 04/08/2017
Floresta em chamas em Apuí (AM) 04/08/2017
Foto: Bruno Kelly / Reuters

A senadora Katia Abreu (PDT-TO) disse que "o desrespeito à Amazônia, o desmatamento ilegal, a liberação de agroquímicos e o aquecimento global são questões que estão sendo relativizadas e tratadas por esse governo no peito e na raça". "Isso traz impacto negativo para o agronegócio, porque os consumidores dos nossos produtos agropecuários, dentro e fora do Brasil, querem discurso equilibrado e civilizado."

A postura do governo sobre o assunto passou a unir até rivais políticos. Em entrevista ao Estado, o presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), disse que o agronegócio e ambientalistas precisam se unir em favor da preservação da Amazônia e disse que uma comissão com os dois grupos será formada na Casa. "Temos de exercitar agora o diálogo e ver como isso pode ser feito, do contrário vai sobrar da Amazônia o mesmo que sobrou da Mata Atlântica, que é 7%", disse.

Para o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária na Câmara, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), o setor precisa ser "fiscal" do meio ambiente. "O agronegócio é frontalmente contrário ao desmatamento." / COLABORARAM MARCELO DE MORAES, CAMILA TURTELLI e MARIANA HAUBERT

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