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Ave nativa mutilada passa por raro transplante de penas em Foz do Iguaçu

Araçari-castanho teve as asas cortadas para que não pudesse voar; procedimento, apesar de antigo, é raro, porque depende de se encontrar penas compatíveis tanto no tamanho quanto no formato

15 jul 2019 - 18h27
(atualizado em 16/7/2019 às 11h30)
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SOROCABA - Resgatado pela Polícia Ambiental com uma das asas aparadas para que não pudesse voar, um araçari-castanho teve novas penas implantadas pela equipe do Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, interior do Paraná. No procedimento, penas compatíveis com as dessa ave, escolhidas em um banco de penas, foram coladas à parte cortada da asa, recompondo o formato original.

Araçari-castanho mutilado para que não pudesse voar recebeu implante de novas penas no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu
Araçari-castanho mutilado para que não pudesse voar recebeu implante de novas penas no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu
Foto: Melissa Correa / Divulgação Parque das Aves / Estadão

Nesta segunda-feira, 15, a ave foi solta em um dos recintos do parque e experimentava os primeiros voos com a asa nova. "Ele está voando bem, talvez tenha ficado pouco tempo cativo", disse a diretora técnica do parque, Paloma Bosso.

O procedimento de implante de penas, segundo ela, é uma técnica antiga e muito usada em falcoaria - treinamento de falcões. "A plumagem faz parte da anatomia da ave. É responsável não só pelo voo e coloração, mas também para o isolamento térmico. O implante ajuda a restabelecer a capacidade de voo dos animais enquanto aguardam a troca de penas, quando as implantadas serão naturalmente substituídas por novas penas inteiras", explicou.

O pássaro, que tem bico avantajado em relação ao corpo, como os tucanos, chegou ao parque no dia 22 de junho, clinicamente comprometido devido ao corte das penas da asa. Conforme Paloma, dessa maneira a ave jamais sobreviveria na natureza, pois a impossibilidade de voar a tornaria um alvo fácil para predadores.

Antes do procedimento, a ave passou por um período de isolamento e de adaptação a uma dieta adequada. Segundo ela, o implante não causa dor ao animal, pois as penas não têm terminações nervosas. "A técnica é bem artesanal. Usamos palitos de madeira para fixar a nova pena no centro daquela que foi cortada e colamos."

Técnica de transplante é bem artesanal. Os veterinários usam palitos de madeira para fixar a nova pena no centro daquela que foi cortada
Técnica de transplante é bem artesanal. Os veterinários usam palitos de madeira para fixar a nova pena no centro daquela que foi cortada
Foto: Melissa Correa / Divulgação Parque das Aves / Estadão

A dificuldade maior, segundo ela, é encontrar as penas compatíveis, tanto no tamanho, quanto no formato. "É bom que seja de ave da mesma espécie, por isso mantemos um banco de penas, formado tanto pelas penas de aves que morrem e que se tornam doadoras, como por aquelas recolhidas no próprio parque. As aves trocam de penas de duas a quatro vezes por ano. Quando elas caem, a gente recolhe e forma um banco", explicou.

Tráfico

Ainda segundo a diretora, a ave provavelmente foi vítima do tráfico de animais, pois não tinha característica de ser proveniente de criadouro autorizado. Como é difícil saber sua origem e por ser um pássaro adulto, fica inviável a reintrodução do espécime na natureza.

"Este araçari-castanho, a partir de agora, será um novo cidadão do Parque das Aves, onde poderá interagir com outros da mesma espécie e de outras", disse. No recinto em que o araçari-castanho foi introduzido estão dois araçaris da mesma espécie, além de outras aves 'parentes', como quatro tucanos-toco e um tucano-do-bico-verde.

Segunda maior atração de Foz, atrás apenas das Cataratas do Iguaçu, o Parque das Aves possui mais de 1,4 mil aves de 140 espécies, sendo que 50% são provindas de apreensões pela Polícia Ambiental, Polícia Federal e Ibama. Na maioria dos casos, são vítimas do tráfico e de maus-tratos.

O parque recebe 830 mil visitantes por ano e atua principalmente na conservação de aves da Mata Atlântica, entre elas 120 espécies e subespécies em risco de extinção.

Estadão
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