Como é a nova espécie de planta parente das azeitonas encontrada em Minas
Chionanthus monteazulensis é da família das oliveiras; descoberta reforça importância da Serra do Espinhaço como fonte de pesquisa botânica
O Brasil é o país com a maior diversidade de plantas nativas do mundo: são 52.125 espécies catalogadas até agora, mas sempre existirão novas descobertas a serem feitas e nem sempre elas estarão em lugares inóspitos.
Em outubro do ano passado, Danilo Zavatin, mestrando do Instituto de Biociências da USP, participava de uma expedição pela área rural do município mineiro de Monte Azul para procurar plantas já catalogadas e sob risco de extinção, quando encontrou uma nova espécie - uma planta pertence à família Oleaceae, a mesma da oliveira, e cujo fruto tem estrutura parecida com a da azeitona tradicional.
"Foi a primeira vez que eu fui, o primeiro dia da expedição e a primeira planta que eu vi", comemora Zavatin, que faz mestrado no Laboratório de Sistemática, Evolução e Biogeografia de Plantas Vasculares do Instituto de Biociências da USP. "Foi muita sorte, isso é raro."
Ao observar a planta, suspeitou que fosse uma espécie nova. "Não consegui encaixar em nenhum grupo (de plantas), então suspeitei que pudesse ser desconhecida."
O pesquisador, então, coletou ramos da planta (com todas as autorizações legais para isso) e levou para o professor da USP José Rubens Pirani. Foi aí que veio a identificação que planta era um Oleaceae, da família da azeitona, do gênero Chionanthus. A confirmação da descoberta foi feita pelo professor Julio Lombardi, da Unesp de Rio Claro, um especialista nesse tipo de planta.
Era preciso, no entanto, que Zavatin, seguisse o processo formal de identificação e registro da espécie seguindo uma série de padronizações internacionais, que incluem escolher parte do nome (o descobridor ganha esse privilégio) e escrever um artigo científico sobre a planta. Zavatin decidiu homenagear a cidade de Monte Azul e a planta foi nomeada Chionanthus monteazulensis. O município fica quase 700 quilômetros distante da capital Belo Horizonte, já próximo da divisa com a Bahia.
Zavatin e Lombardi escreveram juntos um artigo publicado no mês passado na revista especializada Phitotaxa. "Quando a gente quer provar que uma espécie é nova, a primeira coisa é fazer um estudo de todas as espécies que são próximas dela e fazer comparações morfológicas. No artigo, a gente compara a nova planta com aquela espécie com a qual ela mais se parece, e descreve as diferenças", conta Zavatin.
Ele diz que as diferenças entre essa nova planta e as demais espécies eram bastante acentuadas. "Quando a gente não está muito seguro (sobre as diferenças), faz análise molecular, sequencia o DNA, o que é uma técnica muito cara. Mas, para esse caso, não foi preciso DNA, porque já era muito diferente (visualmente)."
Considerada a única cordilheira do Brasil, a Serra do Espinhaço abrange cinco municípios das regiões Norte e Jequitinhonha de Minas Gerais e foi reconhecida como Reserva da Biosfera pela Unesco. A área possui um ecossistema próprio com vegetação de altitude e inclui duas unidades de conservação estaduais (os parques de Grão Mogol e Botumirim), com cânions entrecortados por vales, lagos, cachoeiras, trilhas e picos de até 2 mil metros de altitude.
Já a cadeia de montanhas e vales do Espinhaço vai de Ouro Branco, região central de Minas, até a Chapada Diamantina, na Bahia, e abrange 179 municípios nos dois Estados, em uma área de transição dos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga.
Para o pesquisador, um dos aspectos fundamentais da descoberta é mostrar que a região da Cadeia do Espinhaço é importante como fonte de pesquisa botânica e precisa ser preservada. "É uma área com características únicas e pode esconder muitas outras espécies, por isso precisa ser protegida."