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Convergências amazônicas

Economias da floresta partem de denominadores comuns

30 jul 2023 - 08h11
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Se compromissos internacionais e políticas públicas são retratos da sociedade, e devem estar lastreados em estudos robustos, existe muita matéria-prima para ser trabalhada durante a Cúpula da Amazônia, que ocorre nos dias 8 e 9 de agosto, em Belém, no Pará.

Vários atores sociais que se debruçam sobre como destravar as várias economias da Amazônia estão consolidando os seus pontos de vista, que partem de denominadores comuns. O mais importante deles é que a bioeconomia é a economia da floresta em pé.

O fortalecimento das várias cadeias produtivas da Amazônia, que vão desde os produtos extrativistas até a agropecuária, é algo que vai gerar frutos, principalmente para as comunidades locais, desde que seja estruturado também a partir do governo federal. Um terceiro ponto não menos importante é o da quantidade e qualidade de serviços ecossistêmicos prestados pela maior floresta tropical do planeta.

O recente estudo Nova Economia da Amazônia, da ONG WRI, é certeiro. Não fossem as chuvas que a Amazônia garante para todo o agronegócio nacional, seria preciso injetar no setor, para irrigar as produções, algo ao redor de US$ 25 bilhões por ano. Valor que representa o dispêndio anual do Japão para subsidiar a sua agricultura. "Sem a floresta, não tem como fechar essa conta", afirma Rafael Feltran-Barbieri, economista-chefe do WRI e um dos líderes da pesquisa. "Os serviços ecossistêmicos e as tecnologias ajudam a explicar a competitividade que o Brasil tem no setor", explica o pesquisador.

Antes de entrar em cadeias produtivas específicas, analisa Lívia Pagotto, secretária executiva da rede Uma Concertação pela Amazônia, existem alguns pilares que precisam ser consolidados. Por exemplo, é necessário uma Política Nacional de Bioeconomia que dê o devido peso ao tema. "Desenvolver uma infraestrutura na Amazônia, capaz de dar escala aos produtos da floresta e um desenho de incentivos econômicos, é essencial para provarmos a nossa tese de que a floresta vale mais em pé", explica a executiva da rede que reúne 600 atores sociais relevantes para o desenvolvimento amazônico.

Usando uma metodologia inédita de pesquisa, o WRI olhou de forma acoplada para as ofertas e demandas dos produtos da floresta, e os resultados não deixam dúvidas do tamanho do potencial da região. Hoje, as atividades que se desenvolvem respeitando a floresta e os recursos hídricos, incluindo bioprospecção e restauração florestal, geram um PIB de R$ 12 milhões. Investimentos adicionais poderiam atingir um PIB de R$ 38,6 bilhões em 2050, o que induziria a criação de 833 mil empregos, que substituiriam ocupações hoje ligadas à destruição da floresta.

Alguns setores industriais também mudaram o discurso e, agora, colocam a sustentabilidade à frente do lucro, segundo o ex-ministro Raul Jungmann, hoje presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). "O Brasil não tem, a não ser na prancheta, um projeto para a Amazônia", afirma o também ex-parlamentar. Com o objetivo claro de separar as grandes empresas do setor do garimpo ilegal, Jungmann afirma que todos precisam se unir para "abraçar a Amazônia".

O Ibram, inclusive, vai promover em Belém, entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro, a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias. Entre os convidados, além de atores locais, está Ban Ki-Moon, o 8º secretário-geral da ONU. "A ideia é montarmos um caminho para promover as bioeconomias na Amazônia."

A mesma linha de raciocínio é seguida no Instituto Amazônia+21, ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI). O diretor da Instituição, Marcelo Thomé da Silva de Almeida, afirma que um dos desafios atuais, presentes na região, é a implementação de negócios em escala com base no extrativismo. Um dos projetos tocados pelo instituto é a criação de um fundo, voltado para infraestrutura, que poderá ajudar, inclusive, o setor público dos vários municípios da região. "Vamos fazer a ponte com ideias que oferecerem boas soluções para áreas como saneamento, energia e comunicações", diz Almeida.

Como mostram tanto o estudo do WRI quanto as análises da rede Uma Concertação pela Amazônia, investimentos em infraestrutura básica e em projetos de inovação tecnológica são essenciais para a região. Assim como a identificação de arranjos produtivos que deem resultados positivos, mesmo que sejam em setores como o da agropecuária. "Em áreas onde a atividade é uma realidade, a integração lavoura-pecuária-floresta tem que ser analisada. Bioeconomia nem sempre se restringe ao extrativismo", diz Lívia.

Em termos macro, o estudo do WRI mostra que a transformação da Nova Economia da Amazônia custaria 1,8% do PIB brasileiro, por ano, até 2050. Ou 0,8% a mais do que é gasto hoje. "É o setor público que sinaliza para onde vai a economia", afirma Barbieri.

Uma Concertação pela Amazônia

É uma rede de mais de 600 integrantes, representantes dos setores público e privado, academia, sociedade civil e imprensa, reunidos em busca de propostas e projetos para as diferentes Amazônias e as pessoas que nelas vivem. concertacaoamazonia.com.br

Estadão
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